Thursday, May 04, 2017

O mistério da "baleia azul"

No meio de todas as notícias sobre a "baleia azul", a comunicação social portuguesa quase não tem abordado o que a mim me parece a questão mais interessante - isso existe mesmo ou é um "hoax"?

[Já a agora é interessante comparar a wikipedia portuguesa com a russa sobre o assunto - versões às 10:30 de 14/05/2017, com a russa traduzida para inglês; dá-me a ideia que tratar a "baleia azul" como um facto confirmado, em vez de como um hoax, ou pelo menos como um rumor por confirmar, é uma especifidade lusófona]

Mas há uma coisa que complica essa discussão - em tempos, li um artigo sobre a existência ou não do rei Artur, em que o autor dizia que, além de não se saber bem se o rei Artur teria existido, nem se sabe bem sequer o que contaria como existência, isto é, qual o grau de semelhança que teria que existir entre uma dada figura histórica e o rei Artur da lenda para podermos dizer que o rei Artur tinha mesmo existido?

O mesmo pode ser dito da "baleia azul" - qual o grau de semelhança que tem que existir entre um fenómeno verídico e o que tem sido apresentado na comunicação social como a "baleia azul" para podermos dizer que a "baleia azul" existe mesmo? Ou, dito por outras palavras, onde fica exatamente a linha entre "a «baleia azul» não existe - foi um mito que se criou, ainda que a partir de alguns factos verídicos" e "a «baleia azul» existe, embora não seja exatamente como está a ser noticiado"?

É que há aqui vários pontos, com diferentes graus de verosimilhança:

1) Há grupos em redes sociais, nomeadamente no VK (uma rede social baseada na Rússia), tendo como tema o suicídio, onde os participantes põem frequentemente posts dizendo "vou-me matar", partilha fotografias de automutilações e por vezes deixam uma mensagem final antes de se suicidarem mesmo. VERDADEIRO - isso está comprovado, e o moderador de um desses grupos, Philippe Budeikin, foi preso em novembro de 2016 e aguarda julgamento sob a acusação de "publicar trabalhos audiovisuais, tópicos de discussão e declarações promovendo a ideia do suicídio"; é a esse caso que a imprensa portuguesa se refere quando, há uns dias, houve uma epidemia de notícias dizendo "criador do «baleia azul» foi preso".

2) Há um "jogo" estruturado, com uma lista de 50 tarefas, que vão sendo dadas por "curadores" aos participantes, sendo a última o suicídio. POR CONFIRMAR, pelo que li sobre o assunto; no entanto, ainda está nos limites da verosimilhança

3) Os "curadores" escolhem sobretudo pessoas psicologicamente frágeis. Esta parte já me começa a parecer pouco lógica - como é que em contactos online com, presumivelmente, desconhecidos se sabe se as pessoas são psicologicamente frágeis? A menos que se refira aos participantes serem recrutados nos tais "grupos de suicídio" nas redes sociais, onde os membros, quase por definição, serão pessoas emocionalmente debilitadas.

4) As ameaças aos familiares, no caso de deixarem o "jogo" a meio - sinceramente, esta parte já me parece entrar no campo do altamente improvável (e provavelmente foi introduzida na história para dar um ar assustador, de "quem entra já não sai mesmo que queira")

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