Tuesday, October 06, 2015

Razão e emoção (I)

Luís Aguiar-Conraria fala aqui da tendência que por vezes existe para a esquerda falar como se tivesse o monopólio do coração e a direita como se tivesse o monopólio da razão. Também há uns tempos Chris Dillow escreveu um artigo sob o mesmo tema.

Mas uma coisa que me ocorre é que me parece, sobretudo acerca da esquerda, haver dois estereótipos quase contrários - por um lado, há a tal tendência para achar que a esquerda será mais emocional e a direita mais racional; mas, ao mesmo tempo, também há uma tendência para achar que os esquerdistas são teóricos frios e abstratos, cuja dita "consciência social" é motivada menos por uma empatia afetiva com as pessoas que sofrem, e mais por uma adesão cerebral a um sistema ideológico para, supostamente, melhorar o mundo (e que daí a darem tiros ou guilhotinarem pessoas de carne e osso em nome da Humanidade e do Progresso abstratos pode ir um saltinho) - creio que Edmund Burke até escreveu qualquer coisa de o espirito revolucionário ser o resultado da mentalidade dos geómetras e dos químicos, que levariam para a política a mentalidade criada nos seus diagramas e tubos de ensaio.

Essas duas visões talvez não sejam necessariamente contraditórias, mas parece-me haver uma potencial tensão entre elas (uma confissão pessoal - fazendo uma auto-análise, acho que a segunda descrição aplica-se mais a mim que a primeira; a maior parte dos leitores não me conhecem pessoalmente, mas duvido que alguém que me conhecesse fosse dizer que eu teria "coração mas não razão", ou coisa assim). Ou será que se trata de esquerdas diferentes, e o estereótipo do "coração sem razão"/"bleeding hearts" será mais dirigido à soft left anglo-saxónica, e o do "teóricos abstratos e geométricos" à esquerda revolucionária continental?

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