Tuesday, September 08, 2015

Porque a democracia egípcia não resultou?

Agora é politicamente correto zombar da "primavera árabe" (e das pessoas que em 2011 estavam entusiasmadas com a referida "primavera"), e dizer que era evidente que a democratização daqueles países iria abrir caminho aos islamitas e aos jihadistas.

Mas seria assim tão evidente?

Olhemos para os resultados das eleições presidenciais egípcias de 2012:

Primeira volta -

Mohamed Morsi (apoiado pela Irmandade Muçulmana) - 24,78%

Ahmed Shafik (conotado com o anterior regime) - 23,66%

Hamdeen Sabahi ("nasserista", apoiado pela oposição secular) - 20,72%

Segunda volta -

Morsi - 51,73%

Shafik - 48,27%

Olhando para estes resultados, não me parece que a vitória de Morsi fosse assim tão inevitável; em primeiro lugar, a sua margem de vitória na 2ª volta foi tão estreita que me parece que era perfeitamente possivel que ele tivesse perdido se a campanha tivesse corrida de forma ligeiramente diferente; em segundo lugar, mesmo na primeira volta não me parece que fosse impossível que tivesse sido Sabahi a passar à segunda volta, e Sabahi tinha condições para ser como Mário Soares em Portugal em 1986 (o candidato que se dizia que só tinha que passar à 2º volta para ganhar, com o apoio da esquerda contra Freitas, ou com o apoio do PS e da direita contra Zenha ou Pintassilgo) - se concorrese contra Morsi, poderia ter mais votos dos que Shafik teve (possivelmente teria à mesma os votos dos que votaram em Shafik, e mais de uns quantos que não votaram Shafik por o associarem a Mubarak), e contra Shafik, também poderia ter mais votos que Morsi (o mesmo raciocinio - teria à mesma o votos dos que votaram Morsi, e mais de alguns que não votaram Morsi por o associarem ao fundamentalismo islâmico).

Ou seja, bastava algumas coisas terem corrida de forma ligeiramente diferente para não ter sido eleito um presidente islamita, com o que isso implicou.

Mas suspeito que o grande problema foi mesmo terem optado pelo presidencialismo (o tal sistema que está mais que visto que só funciona nos EUA) - numa sociedade dividida em três blocos (islamitas, "mubarakistas" e oposição secular) ter um sistema que dá o poder supremo a uma (seja ela qual for) não é boa ideia.

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