Tuesday, June 23, 2015

Porque é que a "fantasia" tem sagas?

No New York Times, Ross Douthat, a propósito da "Guerra dos Tronos", especula sobre a baixa popularidade da "fantasia" como género literário:

Of course some of this is part of the general disdain for “genre” in all its forms that permeates the respectable literary world. But I also suspect that there is a particular obstacle with fantasy that doesn’t exist with, say, horror novels or murder mysteries: The sheer immensity of the standard-issue fantasy saga, and the fact that committing to a bestselling fantasy author takes much more, well, commitment than reading Dean Koontz or Peter Straub, Michael Connelly or Tana French. (...)

Fantasy, by design, is an exercise in world-building, and many of the most famous examples of the genre, from Lord of the Rings and Narnia and the Gormenghast novels and Earthsea down to Martin and Pullman and Rowling and so many others in the present day, are multi-volume affairs that require a serious investment to actually finish. (The multi-volume expectation has an unfortunate tendency to encourage today’s bestselling authors to never … actually … finish their stories, which as Lanchester notes is the great fear gripping Martin’s fans today.) So it would make sense that there would be a higher bar for mass success than in many other genres: Reading a bad murder mystery only sets you back a day or two, and the satisfaction of finding out whodunit can compensate for lousy prose, whereas I’ve definitely found myself flagging at page 300 or so even in many highly-regarded fantasy novels I’ve dipped into.
Essa explicação deixa uma coisa por explicar - porque é que a "fantasia" normalmente funciona em grandes sagas, com continuações que nunca mais acabam?

Uma explicação poderia ser que criar um mundo completamente imaginário dá trabalho, logo é mais simples colocar as histórias todas a passarem-se no mesmo "universo ficcional" do que estar a criar um cenário diferente para cada história. Mas o facto das histórias se passarem no mesmo universo não obriga a que sejam continuação umas das outras; veja-se os policiais: os livros de Sherlock Holmes passam-se todos no mesmo universo, mas pouca continuação têm; provavelmente todos os heróis de Agatha Christie (Poirot e Hastings, Miss Marple, Tommy e Tuppence, Anne Beddingfeld, etc.) existem no mesmo universo (até porque algumas personagens secundárias aparecem em vários livros com heróis diferentes), mas cada livro existe independentemente uns dos outros.

Aliás, na própria fantasia há um bom exemplo da diferença entre "mesmo universo" e "história em continuação" - "O Hobbitt", "A Irmandade do Anel", "As Duas Torres" e "O Regresso do Rei" (e mais uma porção de outras obras) passam-se no mesmo universo (e com uma continuidade entre elas), mas, se "A Irmandade do Anel", "As Duas Torres" e "O Regresso do Rei" seguem uma continuação que só faz sentido em conjunto, "O Hobbitt" não precisa da continuação para fazer sentido (nem os outros três precisam de "O Hobbitt").

Assim, a minha questão - porque é que a fantasia tem tendência histórias intermináveis? Será por uma questão de hábito? Como a obra mais famosa do género - "O Senhor dos Anéis" - é uma trilogia, toda a gente se põe a escrever n-logias?

2 comments:

Anonymous said...

Gosto muito da sua primeira explicação. Um comentário verdadeiramente à Tyler Cohen.

Miguel Madeira said...

Qual primeira explicação?