Monday, July 23, 2012

Controle de armas: o que se vê e o que não se vê

Seen and Unseen, por Roderick T. Long:

Deaths caused by gun use are seen, because they happen. Deaths prevented by gun use are not seen, because they don’t happen. (By “gun use” I mean not just firings but also mere brandishings.) First, preventions are underreported (since few are eager to be victimised twice – first by a freelance attacker and second by the cops), and second, when they are reported, they’re not exciting enough to get much publicity.

People who favour stronger gun control laws focus on the deaths they hope to prevent, but rarely consider the deaths their laws would cause.

24 comments:

nuno vieira matos said...

Isso parece-me ao nível da 'guerra preventiva'. Necessitam de armas para protecção porque existirão armas in the first place.

Anonymous said...

Nuno viera matos "guerra preventiva" era se andasse a disparar sobre qualquer pessoa que lhe parecesse suspeita. O que está implícito no texto é o direito de cada um defender a sua vida e dos outros.

As pessoas necessitam de defesa porque existem pessoas má in the first place.

E as pessoas necessitam de defesa porque nem toda a gente cumpre as proibições de uso de armas (os chamados criminosos). What about that?

nuno vieira matos said...

http://www.nj.com/news/index.ssf/2012/03/family_of_florida_teen_killed.html

Anonymous said...

Exactamente:

"People who favour stronger gun control laws focus on the deaths they hope to prevent, but rarely consider the deaths their laws would cause."

nuno vieira matos said...

Não percebo. Deveria estar à espera que o adolescente andasse armado contra um qualquer vigilante? Esta notícia é o exemplo de que uma pessoa com arma torna-se um potencial executar de uma sentença deliberada pelo próprios.

Em adição, imaginemos que o meu vizinho compra uma arma fazendo questão de andar com ela pela rua. Eu não confio no tipo. Tenho a obrigação de comprar uma arma para me defender? Isto porque não considero um direito andar armado. Se sou forçado não perco eu a minha liberdade quer eu compre ou não uma arma?

Anonymous said...

Imaginemos que o meu vizinho é maluco e entra dentro de minha casa para me bater com um taco de basebal? Tenho que respeitar a "sua liberdade" e não me proteger?

Além de que o seu argumento é mais emocional que outra coisa. Eu cresci num bairro no Porto onde os vizinhos tinham armas. Nunca confiei neles. Mas eles também nunca precisaram de licença de ninguém...

e além de que ninguém o força a nada. Pelo contrário você força as pessoas.

"uma pessoa com arma torna-se um potencial executar de uma sentença deliberada pelo próprios."

isto é verdade. Por isso, é que os policias são as pessoas que matam mais.

nuno vieira matos said...

O seu vizinho não deveria ter a liberdade de entrar em sua casa e lhe bater com um taco de basebal ou qualquer outra coisa. Não percebo porque o ónus está do lado do atacado.

Em relação à emotividade e ao contra argumento do "você é que..." nada a dizer.

Relativamente aos polícias não percebo como isso ajuda a sua argumentação. Senão, vejamos. A polícia tem homens armados com a legitimidade que a lei lhes dá. Recebem formação sobre o uso de armas quer nos aspectos práticos quer nos legais. Mesmo assim, assistimos todos os dias a exemplos de repressão policial quando aquelas cabeças resolvem ser juízes e ao mesmo tempo executantes de sentenças. Se isto é assim com os polícias, porque não será com civis?

Já agora, qual deverá ser a resposta dos civis à repressão policial? Puxar de uma arma e atirar sobre os polícias? Se olhar para as grandes metrópoles do mundo verifica que a polícia, em resposta ao aumento do número de armas na rua, se tornou uma força paramilitar com armamento digno de forças de intervenção militar. A minha emotividade leva-me a não aceitar o espiralar da violência através do uso arma (quer uso efectivo quer como forma de repressão).

João Vasco said...

Nuno Vieira Matos,

Concordo com o que tem escrito, mas gostaria ainda de acrescentar a questão das bebidas alcoólicas.
Não é por acaso que nos estados unidos o número de homicídios é elevadíssimo: cerca de dez vezes aquele que se verifica na Europa, com um número de prisioneiros per capita que é o maior do mundo - incluindo ditaduras como a China. É muito fácil ocorrer um homicídio quando alguém que bebeu uns copos a mais pode transportar armas consigo, as rixas em vez de acabarem com nódoas negras acabam com tiros.

Por outro lado, a segunda emenda foi uma ideia interessante, mas hoje está completamente descontextualizada. O análogo seria permitir à sociedade civil dispor de tanques, helicópteros, e outro tipo de armamento suficiente para poder efectivamente ter tanta força como o exército do estado.
Permitir que as pessoas tenham pistolas e metralhadoras, mas impedir que possam efectivamente fazer uma revolução armada que destrua o governo é ir contra o espírito da segunda emenda. Nesse sentido, há séculos que ela foi revogada: manter o porte de armas é uma assincronia sem sentido, que só serve para matar gente e substituir o primado da lei pela lei do mais forte (ou com maior agilidade, reflexos e pontaria, neste caso).

João Vasco said...

Já agora:

http://www.youtube.com/watch?v=kiFW23Kk1sE&feature=BFa&list=UU1yBKRuGpC1tSM73A0ZjYjQ

Desmente com dados a tese do texto de que o «balanço» relativo ao número de mortes que se poupam com leis que restringem as armas é incerto.

CN said...

O número de presos e a violência deve-se em grande parte com a guerra à droga.

As armas não propagam a lei do mais firte, muito pelo contrário, os mais fracos ficam em iguais condições que os mais fortes. A colt foi o grande equalizador do Oeste.

nuno vieira matos said...

O que é isso do mais forte e do mais fraco? Alguém que de todo não tenha perícia na utilização de armas deverá perecer porque é o mais fraco? A posse de arma não equaliza. Obviamente que irão propagar a lei do mais forte, fazendo-o com maior impacto (fatal nalgumas vezes).

Dizer que a colt foi o grande equalizador do oeste é desculpar a chacina dos índios americanos que durante muito tempo apenas dispunham de arco e flecha e machado.

Já agora, em relação à droga concordo consigo; acho que deve ser completamente despenalizada. Mas não acho que falemos da mesma coisa quando comparamos armas e droga.

nuno vieira matos said...

(o comentário anterior era em resposta ao CN)

João Vasco, relativamente às bebidas alcoólicas mantenho o que referi às drogas. A lei seca trouxe bem mais violência e criou novas fontes de repressão. Momentos difíceis em que um cidadão americano se via reprimido pelo estado, pelas grandes corporações e pelo crime organizado.

João Vasco said...

Nuno Vieira Matos,

Há aqui um mal entendido qualquer: não só seria contra qualquer forma de lei seca, como pelos vistos partilho o consenso que existe por aqui quanto às drogas. Tenho a impressão que deveriam ser todas legais, com maior convicção no que diz respeito às drogas leves (as pesadas suscitam-me apesar de tudo mais dúvidas, mas tendo a acreditar que deveriam ser legais).

O que falei sobre o álcool foi apenas no sentido de observar o como é fácil surgirem vítimas caso as armas de fogo estejam desregulamentadas. Todos sabemos que um indivíduo embriagado pode ser mais propenso a criar conflitos, e menos a medir consequências. E sabemos como o medo de que o outro dispare primeiro pode fazer disparar sobre quem não queremos alvejar. Realmente legalizar as armas de fogo resulta em vítimas.

E certamente não é fiel ao espírito da segunda emenda, que exigiria também a legalização de helicópteros e blindados de combate, etc e uma sociedade civil com armamento tal que pudesse fazer «golpes de estado».

nuno vieira matos said...

João, desculpa, interpretei mal.

Miguel Madeira said...

A respeito do youtube postado pelo João Vasco, baseia-se num estudo feito pelo Richard Florida. Dois textos dele apresentando esse estudo:

The Geography of Gun Deaths (Janeiro de 2011)

The Geography of Gun Violence (há 4 dias)

O ponto que acho mais relevante aqui é como ele mede "gun violence" - "Note that these figures include accidental shootings, suicides, even acts of self-defense, as well as crimes". Seria interessante saber, da tal alta mortalidade por "gun violence" no Alasca, quanta são acidentes de caça.

nuno vieira matos said...

Alguns excertos tirados dos links que colocaste e que de alguma forma trazem alguma informação para esta troca de comentários.

"(...) but we found no association between illegal drug use and death from gun violence at the state level.

(...) On the economic front, gun violence was higher in states with lower average incomes. Similarly, gun violence was less likely in states with more college graduates and stronger knowledge-based economies. Gun violence was also higher in states that tend to vote Republican.

(...) he found a different answer in a cultural vestige of pastoralism: a deep "culture of honor" in which residents place an extraordinary value on personal reputation, family, and property. Threats to these things provoke aggressive reactions, leading to higher rates of murder and domestic violence."

"Might tighter gun control laws make a difference? Our analysis suggests that they do."

CN said...

"Dizer que a colt foi o grande equalizador do oeste é desculpar a chacina dos índios americanos "

A chacina dos Índios foi praticada pelo Estado Federal, e as suas causas nada têm que ver com a discussão sobre o direito a posse de arma e saber dos efeitos das pessoas terem a liberdade de posse de arma.

nuno vieira matos said...

Não sigo a totalidade do seu raciocínio mas enfim. Não acho que posse de arma seja um direito. Aliás, pela sequência de comentários, parece-me que é encarada, pelos defensores, como uma obrigação, para se defenderem. O meu direito não deve ser defender-me mas antes não ser atacado.

Por exemplo, beber álcool e conduzir. Acho que bem que as pessoas não sejam permitidas a faze-lo. Não que uma pessoa alcoolizada vá de certeza causar danos em terceiros, mas a probabilidade é elevada como demonstram os dados. Se não permitir que alguém beba alcoolizado estarei a atentar contra a liberdade dessa mesma pessoa? Sim. Mas penso ser uma medida de soma positiva.

Relativamente aos índios americanos, a chacina não foi apenas feita pelo estado federal mas por milícias e 'settlers' (não tenho uma boa tradução para esta palavras).

João Vasco said...

Settlers = colonos

De resto, bem observado.

CN said...

"Relativamente aos índios americanos, a chacina não foi apenas feita pelo estado federal "

Os colonos resolviam problemas locais inevitáveis e até compravam terras ao Índios.

o Estado Federal praticou-o de forma sistemática, em especial a seguir à Guerra Civil pelo General das tropas nortistas - Sherman.
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Agora, quanto à posse de arma não ser um direito, como vai negar o direito à legítima defesa? É impossível fazê-lo sem cair em contradição.

nuno vieira matos said...

Na gaveta dos 'problemas inevitáveis' cabe muita coisa (está perto da gaveta que diz 'óbvio'). Engraçado que na altura a chacina feita pelo g. sherman foi justificada como auto-defesa uma vez que os trabalhadores da linha férrea eram atacados pelos índios, uma vez que estes consideravam que o seu território (propriedade) estava a ser invadida. Portanto, temos duas partes em 'legítima' auto-defesa.
(eventualmente nesta altura os sulistas preocupavam-se antes com a manutenção do regime de escravatura)


Não neguei o direito à legítima defesa; recuso-me a achar que para que eu tenha direito a defender-me tenha de andar com uma arma carregada no coldre ou no banco de trás do carro. Não vejo uma implicação nem equivalência.

CN said...

Não, o General Sherman era declaradamente e publicamente um louco enraivecido a favor do genocídio (já o tinha sido contra os Sulistas).

Quanto aos colonos, na medida em que estes ocupavam terra não ocupada/usada pelo Índios, tinham um direito a fazê-lo e a defender-se. Na medida em que não, não tinham. Mas quem tratou dos Índios foi mesmo o exército federal.
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"Não neguei o direito à legítima defesa; recuso-me a achar que para que eu tenha direito a defender-me tenha de andar com uma arma carregada no coldre ou no banco de trás do carro. Não vejo uma implicação nem equivalência."

O que quer dizer é que não acha que os outros possam possuir uma arma para defesa e que para isso delega o poder para outros, pelo uso de armas, impedirem alguém de a possuir.

nuno vieira matos said...

Não tenho a mínima dúvida que era um louco. Aliás, ambas as partes na guerra civil tinham esses loucos na vanguarda das políticas mais estúpidas. E então?

Quem decidiu que aquela terra não era usada/ocupada pelos índios? Na cabeça dos nativos os colonos estavam a fazer trespassing. Nesse sentido o que o estado federal fez foi salvaguardar o direito à propriedades dos colonos. Abusou? Sim. Fê-lo sem oposição dos colonos? Também.


Onde leu que quero impedir as pessoas de terem armas? Quero impedi-las de terem arsenais. Quem gosta de caçar tem de ter arma. Mas não se caça com armas de calibre de guerra nem com armas de disparo rápido nem pistolas. Os rednecks têm autênticos arsenais nas suas casas, armas usadas em exercícios militares; alguns deles dizem que é para se defenderem do estado (as if they stood a chance anyway); mas o que se verifica é que as usam como forma de repressão das minorias hispânicas e negras (tive a oportunidade de estar em casa de um casal muito simpático, tea party folks; uma experiência que fica na memória). Quem quer ter armas deverá obedecer a regras e não deve ter acesso a qualquer arma. Imagine que o meu vizinho resolve manter um paiol em casa. Deve ter esse direito? Se alguém assaltar o edifício onde moramos, deve sair disparado pela porta com o intuito de atirar para matar? Terá ele a certeza que não acertará em outrém? Mantenho o que disse: liberalização do acesso às armas é um jogo de soma negativa.

Miguel Madeira said...

Os rednecks têm autênticos arsenais nas suas casas, armas usadas em exercícios militares; alguns deles dizem que é para se defenderem do estado (as if they stood a chance anyway); mas o que se verifica é que as usam como forma de repressão das minorias hispânicas e negras (tive a oportunidade de estar em casa de um casal muito simpático, tea party folks; uma experiência que fica na memória).»

Em larga medida, as primeiras vagas legislativas para restingir o direito à posse de armas tinham largamente como alvo os negros, como as leis aprovadas nos estados sulistas após a guerra da secessão primeiro proibindo os negros de possuir armas e depois - quando essas leis foram declaradas inconstitucionais - cobrando altas impostos sobre a venda de armas (tornando na prática impossivel aos negros pobres comprarem armas); e nos anos 60 as leis de "gun control" (promovidas, p.ex., por Ronald Reagan enquanto governador da Califórnia) tinham como ums dos "destinatários" pricipais os Black Panthers.

http://www.theatlantic.com/magazine/archive/2011/09/the-secret-history-of-guns/8608/