Monday, October 31, 2011

A crítica de Rui Albuquerque ao anarquismo

Rui Albuquerque, no Ordem Livre, publicou (ou está publicando, foi só a primeira parte) mais um artigo sobre a relação entre o liberalismo clássico e o anarco-capitalismo - Só se ilude quem têm ilusões.

Diga-se que, embora a crítica seja destinada especificamente ao anarco-capitalismo, penso que o mesmo género de crítica poderia ser feito ao anarquismo tradicional.

O anarquismo, qualquer que seja a sua modalidade, pressupõe uma convicção íntima de que o exercício da coerção não carece de uma agência monopolista dentro de uma unidade territorial para ser exercida em proveito de todos. Mais do que isso, acredita que esse monopólio poderá ser efectivamente evitado nas complexas sociedades dos nossos dias. São, pois então, estas convicções e a sua veracidade que têm de ser demonstradas e comprovadas(...) . Essa demonstração esbarra com várias dificuldades, mas, sobretudo, com três principais. Uma, de ordem lógica, que não consegue explicar como um poder será eficazmente contido por outros que lhe sejam iguais ou semelhantes, sem o emprego da força ou mesmo da violência, o que infelizmente sucede com frequência nas relações internacionais. Uma segunda, de natureza histórica, que é a inexistência de qualquer precedente societário onde não se tenha manifestado um poder político potencialmente aspirante ao monopólio, isto é, à soberania, o mesmo é dizer, um poder que aspira à exclusão de todos os outros. E a terceira, de pura sensatez, que nos diz que um poder é, por definição, uma força em constante crescimento, pelo que não se pode esperar que se auto-contenha ou auto-limite
Vaos lé analisar essas objecções uma a uma
 Uma, de ordem lógica, que não consegue explicar como um poder será eficazmente contido por outros que lhe sejam iguais ou semelhantes, sem o emprego da força ou mesmo da violência, o que infelizmente sucede com frequência nas relações internacionais
Essa objecção, pelo que conheço do anarco-capitalismo, não faz grande sentido - em lado nenhum (ou quase nenhum - talvez Robert LeFevre seja uma excepção) os anarco-capitalistas dizem que no "seu" sistema não haverá "emprego da força ou mesmo da violência"; a função das famosas "agências de protecção" privadas é exactamente exercer força e violência quando necessário (o que não há é um monopólio do uso da violência); assim, voltando à questão de Rui Albuquerque, o que impede uma "agência de protecção" de abusar do seu poder? É simples, uma "agência de protecção" alternativa, usando, se necessário, a força e a violência.

Aliás, mesmo os ansocs não rejeitam o uso da força e da violência - sim, na literatura anarco-socialista há muita retórica do género "grande parte do crime e da violência são resultado da sociedade hierárquica, capitalista e autoritária e não existirão no socialismo libertário", mas quando aprofundam a questão de como impedir o reestabelecimento de Estados ou como impedir o crime, logo surgem as "associações voluntárias para a protecção mútua e defesa do território" ou as "milicias voluntárias em que todos os membros da comunidade podem participar se assim quiserem"; ou seja, nesse aspecto a diferença face ao anarco-capitalismo acaba por ser mais no "modelo de negócio": enquanto num caso as "agência de protecção" funcionam como empresas comerciais com clientes, no outro funcionam como cooperativas de consumidores com associados (embora este sistema também seja compatível com o anarco-capitalismo).

Ainda uma nota acerca da violência nas relações internacionais - é um lugar-comum dizer algo como "nas relações entre Estados vigora um estado de natureza hobbesiano, em que em última instância o poder assenta na força e na violência"; mas a verdade é que as relações internacionais entre Estados são, por regra, muito mais pacificas do que o que se passa dentro dos Estados: a maioria (esmagadora?) das guerras das últimas décadas (ou séculos) foram guerras civis, não guerras entre Estados diferentes.
Uma segunda, de natureza histórica, que é a inexistência de qualquer precedente societário onde não se tenha manifestado um poder político potencialmente aspirante ao monopólio, isto é, à soberania, o mesmo é dizer, um poder que aspira à exclusão de todos os outros
Isso, por si só, não é uma objecção ao anarquismo - sim, há poderes que aspiram ao monopólio, ou seja, há soberania;  e depois? A questão não é se há poderes que aspiram ao monopólio, mas sim se esse monopólio é inevitável (o facto de alguém aspirar a algo não significa que esse algo vá acontecer).
E a terceira, de pura sensatez, que nos diz que um poder é, por definição, uma força em constante crescimento, pelo que não se pode esperar que se auto-contenha ou auto-limite
Mas quem é que espera que o poder se auto-contenha ou auto-limite? Os anarquistas não são com certeza (os ancaps esperam que o "poder" se limitados pelas agências de protecção concorrentes; os ansocs pela resistência e acção directa dos indivíduos que esse poder quer submeter). À primeira leitura, este ultimo argumento de RA não parece fazer grande sentido.

Saturday, October 29, 2011

O "Occupy Wall Street" face a Obama

BRUTAL: Obama Has Lost 'Occupy Wall St., no Business Insider:

If President Obama is hoping that his support of the Occupy Wall Street movement will help his reelection chances he may want to take a look at this poll.

The New York Times reports on a poll done by a Fordham University political science professor that reveals what some have long suspected: Occupy Wall St. is mainly made up of (very) disgruntled Obama supporters.
Check out these numbers.

Sixty percent of those surveyed said they voted for Barack Obama in 2008, and about three-quarters now disapprove of Mr. Obama’s performance as president. A quarter said they were Democrats, but 39 percent said they did not identify with any political party. Eleven percent identified as Socialists, another 11 percent said they were members of the Green Party, 2 percent were Republicans and 12 percent say they identified as something else.

Emphasis mine.

Those are brutal numbers. And suggest that essentially what we are seeing with the Occupy Wall St. movement is 2008's unprecedented youth support for Obama grown bitterly cynical. 

That Obama can win back that support with any gesture seems unlikely, but he's certainly going to have to do a great deal more than throw obscure 99% references into phone calls by his advisers.

Friday, October 28, 2011

Violência política

Violências, por Neves:

O modo como alguns cronistas reagem à associação entre violência e política recorda-me sempre a teoria da escalada. Se alguém atira uma pedra contra uma montra, ainda o vidro não estilhaçou e já um batalhão de cronistas se levanta para nos alertar para o risco de um dia esse alguém se sentar numa cadeira do poder e ordenar a incineração de milhões e milhões de seres humanos. (...)


Nos debates que se avizinham, melhor seria reconhecermos, na verdade, que ninguém é contra a violência política propriamente dita. A maior parte dos cronistas que hoje encontramos a condenar a violência é na realidade favorável a um monopólio estatal da violência. Deste monopólio, aliás, os cronistas apresentam-nos não raras vezes uma história cor-de-rosa, segundo a qual sem a centralização da violência teríamos a guerra civil permanente em que todos nos comeríamos a todos. Trata-se aqui de uma história da violência estatal como factor de pacificação que esquece que as democracias em que vivemos usaram da violência não só para derrubar ditaduras nos seus países mas também para impor a ditadura sobre outros países – das democracias colonialistas europeias ao belicismo de uma democracia como a norte-americana. Trata-se, enfim, de uma história cor-de-rosa que esquece que o monopólio da violência permite às forças policiais do Estado agir uma e outra vez à margem da lei – apenas uma história cor-de-rosa da violência estatal nos permite esquecer diariamente o facto de a tortura no interior das prisões sobreviver ao fim dos presos políticos.

Em suma, a questão essencial não é saber quem é a favor ou contra a violência política, mas de que tipo, de que formas, de que modos de violência estamos a falar.

Resultados das eleições tunisinas

Partido
deputados
Ennahdaislamita90
CPR (Congresso pela Republica)social-democrata30
Ettakatolsocial-democrata21
Aridha Chaabia (Petição Popular)19
PDPsocial-democrata, anti-Ennahda17
PDMex-comunistas e aliados5
Al Moubadara "antigo regime"5
Afek Tounesdireita liberal4
PCOT comunista "hoxhaista"3
Outros / independentes23

[Via Tunisia Live]

 Diga-se que se a Tunísia usasse, como Portugal, o método de Hondt (que, nos "arredondamentos", beneficia os grandes partidos) em vez do de Hare (que beneficia os pequenos partidos), o Ennahda teria provavelmente eleito uma maioria esmagadora de deputados.

Uma complicação adicional - a surpresa destas eleições, a Aridha Chaabia, um partido (formalmente, uma carrada de listas independentes todas com o mesmo nome) dirigido por um empresário da televisão, viu há poucas horas anulada a eleição de várias das suas listas, por terem feito propaganda comercial (na televisão do líder); em resposta, os deputados da Aridha vão boicotar a Assembleia Constituinte.

Monday, October 24, 2011

CEOs poderosos = más empresas?

Short Powerful CEOs, por Eric Falkenstein:

A recently published article in the Journal of Finance by Morse, Nanda, and Seru argues that if you generate a metric of CEO overreach, their stocks underperform. (...)

The researchers construct three different metrics of CEO power. One is whether he is also President or Chairman of the Board. Secondly,they uses insider ownership, the amount of stock owned by the directors. Lastly they capture the percent of the board appointed by the CEO. They use regression analysis to find that firms with high CEO power face a 4.8% decrease in firm value going forward.

It would have been nice if they put this into a long-short portfolio and showed the portfolio return characteristics. As the data covered the infamous tech bubble (1992-2003), a lot could be explained by the rather singular 2001-2 tech bubble, which while interesting, is much less interesting than if this result was more persistent across time periods.

Sunday, October 23, 2011

Os partidos tunisinos

Who are Tunisia's political parties?, na Al-Jazeera:

The following is a summary of some of the most prominent political parties competing in the upcoming election.

(...)


Founded in 1981, al-Nahda (The Renaissance) is leading in the latest opinion poll, with 25 per cent of respondents saying they favoured the Islamist party. In elections held in 1989, al-Nahda came in second place to the RCD. Shortly afterwards, al-Nahda was banned, and its leader Rachid Ghannouchi fled the country for the UK, from which he recently returned after having lived there for 20 years. (...)

Like Al-Nahda, the Progressive Democratic Party (PDP) has a relatively long history - founded in 1983 by Ahmed Najib Chebbi, it was one of only a few parties legal under Ben Ali’s regime. The secular PDP sees al-Nahda as its rival: AFP wrote that Chebbi has accused al-Nahda of wanting to institute an “ideological state”. (...)


Ettakatol (also known as the Democratic Forum for Labour and Liberties, or FDTL) is now running head-to-head with the PDP, according to polls. The centre-left party, founded in 1994 but legalised only in 2002, puts great emphasis on transparency, and one of its main goals is to reduce corruption. Accordingly, Ettakatol publicly released the party’s budget and membership information in September. According to Tunisia Live, the party is gaining about 20,000 members per week. (...)

Like Ettakatol, the Congress Party for the Republic (CPR) is also a centre-left, secular party. The party was founded in 2001 but banned the following year. Moncef Marzouki, a human rights activist and physician, ran the CPR from exile in France, returning to Tunisia this year. (...)


Of the Tunisian political parties founded after the Tunisian uprising, the Free Patriotic Union (UPL) is perhaps the most interesting - and controversial. The UPL was launched this year by wealthy 39-year-old businessman Slim Riahi, who grew up as an ex-patriate in Libya, where he made his fortune in energy and property development. Riahi returned to Tunisia this year. (...)

The Tunisian Workers Communist Party (PCOT), a Marxist-Leninist political party, was founded in 1986, but was banned until this year. Most of its candidates running for the constituent assembly hail from Tunisia’s coastal regions. PCOT is well-organised, and is particularly popular with Tunisia’s student population. Many of the so-called “Kasbah protestors”, who have been demonstrating in Tunis’ Kasbah Square since January for more revolutionary changes to Tunisia’s political system, also support PCOT. (...)


Some parties have formed alliances heading into the October 23 election. The Democratic Modernist Coalition (PDM) was formed in May as an alliance between several parties, including Ettajdid (Renewal), the Leftist Socialist Party, the Republican Party, and the Centrist Way.(...)

Policy-wise, Afek Tounes is a polar opposite of PCOT. This right-wing party was founded by neoliberal economists and is led by Emna Mnif, a medicine professor. (...)

Several parties have emerged out of Ben Ali’s Constitutional Democratic Rally (RCD) party. These parties include al-Waten (The Nation), founded by RCD members who had previously served as Minister of Trade and Tourism and Minister of the Interior; al-Moubedra (The Initiative); the Justice and Liberty party; and The Independence for Liberty party. (...)


Over 100 political parties were granted permission to run candidates in the upcoming constituent assembly election. Hizb ut-Tahrir, a Salafist, pan-Islamist party, has not been allowed to participate, because Tunisian authorities have argued that parties that do not respect democracy cannot be legalised. However, Hizb ut-Tahrir leader Ridha Belhadj told Al Jazeera, "We don't need authorisation from the government, we have authorisation from the people". (...)


The small Tunisian Pirate Party (PPT) garnered media attention in January, when several party members were arrested and jailed by the Ben Ali regime for participating in anti-government protests. After Ben Ali’s departure, Slim Amamou, a Pirate Party member who was tortured during his detention, was appointed to be Tunisia’s Secretary of State for Sport and Youth. However, Amamou - who is also the CEO of a web development company - resigned in May after the Tunisian government blocked several websites. (...)

A razão porque o condutor chinês que atropelou a menina não parou?

"If she is dead, I may pay only about 20,000 yuan ($3,125). But if she is injured, it may cost me hundreds of thousands yuan," said the driver over the phone to the media, before he gave himself up to the police.

[China.org.cn, via Firstpost.com e Marginal Revolution]

Friday, October 21, 2011

OWS / "indignados" e a democracia

Occupy, & democracies, por Chris Dillow:

Liberty, said John Stuart Mill, “is often granted where it should be withheld, as well as withheld where it should be granted.” I’ve often thought that the same could be said for democracy. And this is how we should interpret the Occupy movements.

What I mean is that if we think of democracy as an information-gathering device, it is used where it shouldn’t be and not used where it should. Most of us are either uninformed or actively misinformed about national policies, but democracy operates at this level. And yet we often do have knowledge about our locality or workplace, but local democracy and workplace democracy are weak or absent. (...)

I suspect the Occupy movements might be starting to build new foundations for "fourth generation" democracy; as Sunny says, there‘s more to democracy than voting once every five years. I mean this in four ways:

- Advancing economic democracy. A theme of the Occupiers seems to be a desire for more popular control over the economy. This might take dangerous forms - the market, remember, is a good information-aggregating device - or it might not.

- Egalitarian democracy. A virtue of democracy is not that it leads to good outcomes - it often doesn’t - but rather that the “one person, one vote” principle embodies an important aspect of equality. Occupy seems to be taking this further, not just by demanding greater economic equality, but also by demonstrating an egalitarian form of political activity - one undistorted by lobbyists or media prejudice.

- Micro deliberative democracy. The Occupiers are creating an arena in which political questions about economic organization can be asked, and get the attention of the media and Westminster. Such arenas are rare.

- Macro deliberative democracy. In calling hierarchical capitalism into question, the Occupyers are helping to open the Overton window, to influence mainstream politicians into considering issues which have hitherto been little discussed. In this sense the Occupyers are complements for the parliamentary left, not substitutes.

Now, I’m almost certainly taking a rosy view of the Occupyers here. As James says, there’s a large element of narcissistic activism among them. But it might grow into something better.

My main point, though, is that the Occupyers are, potentially at least, a force for democracy in the best sense. And insofar as there is a tension between them and parliamentary democracy, so much the worse for the latter.

Competição para arquitectos

Projectar a casa mais segura para resisitir a um ataque de zombies (via Business Insider).

Thursday, October 20, 2011

Os problema de decisão intertemporal

Nomeadamente para combater o caso das empresas que não cobram IVA se for sem factura, parece que o novo orçamento vai dar a possibilidade de descontar no IRS 5% do IVA pago. Assim, sempre que forem confrontados com um mecânico que lhe diga "sem factura são 500 euros, com factura são 615" o contribuinte vai ter que escolher - poupar 115 euros agora, ou receber 5,75 euros daqui a um ano, na altura da liquidação do IRS.

Wednesday, October 19, 2011

É funcionário público? Quer saber quanto vai receber de subsidio de férias?


Introduza o valor da sua remuneração na caixa e clique em "calcular":


[subsídio = 941,75 - 0,94175*remuneração -fonte]

Quem ganhe menos que 485 ou mais que 1000 não ligue a isto.

O principal porquê deste post - é que descobri que há muita gente (nesta faixa de rendimento) convencida que vai receber apenas um subsídio; não é assim (o Passos Coelho disse isso, mas antes disse "em média") - o subsídio vai diminuido (a um ritmo de 94 centimos por euro) à medida que o ordenado aumenta.

É logicamente impossível garantir isso

"Carlos Moedas garante que surpresas desagradáveis acabaram"

Sunday, October 16, 2011

Aumentar ou reduzir meia hora de trabalho?

O Gonçalo do Notas Livres dá uma ideia que dá que pensar - em vez de dar às empresas a possibilidade de aumentar em meia-hora (presume-se que não remunerada) o horário dos seus trabalhadores, terem a possibilidade de reduzir em 14% a duração do horário de trabalho, suspendendo os subsídios de ferias e natal.

Eu, a respeito disso, tinha pensado noutra coisa (mas se calhar parecida) - seria provavelmente mais útil à economia as empresas puderem reduzir o horário laboral em meia-hora (reduzindo proporcionalmente o salário) do que aumentar em meia-hora: a primeira medida daria alguma flexibilidade para empresas com poucas vendas reduzirem a produção e os custos sem irem à falência nem despedirem ninguém (claro que para o trabalhador é mau ver o seu horário e ordenado reduzidos, mas penso que seja menos traumático do que ir para o desemprego); já a medida aprovada só seria útil se se assumisse que temos montes de empresas a produzir no pico da capacidade e que vão aumentar a produção se trabalharem mais horas - suspeito que no momento actual só uma minoria de empresas esteja nessa situação.

O grande problema de uma medida dessas (ou como a que o Gonçalo sugere) é que não tem possilidade de obter apoio político:

- a esquerda seria contra por razões óbvias: isto não anda muito longe de flexibilizar os despedimentos; em vez de despedir alguns trabalhadores, seria "despedir" parcialmente todos os trabalhadores (não mandavam um para a rua, mas mandavam todos para casa - com menos ordenado - mais cedo), mas o principio é mais ou menos o mesmo

- suspeito que a direita também seria contra: uma medida deste género (reduzir os horários e salários para se adaptar às vendas reduzidas) tem implícito a ideia que o problema da crise é do lado da procura; ora, de forma geral o pensamento dominante à direita é que os problemas económicos tem a sua raiz no lado da oferta (baixa produtividade, empresas pouco competitivas, salários muito elevados, etc.).

Uma nota final - o famoso acordo laboral da Autoeuropa é um bocado parecido com isto. Não foi exactamente isto - não reduziram os salários nem o horário de trabalho; mas os trabalhadores aceitaram não ter aumentos salariais (ou ter aumentos reduzidos, não sei bem os detalhes), tendo em vez disso dias de descanso adicionais, o que acaba por ser a mesma filosofia.

Wednesday, October 12, 2011

If TV News Existed in 1200BC

Parlamento eslovaco recusa ajuda a Portugal e Grécia

Ou, mais exactamente, a proposta não teve a maioria dos votos (houve mais abstenções do que votos a favor, o que, pelos vistos, implica a rejeição da proposta).

Entretanto, parece que o governo eslovaco caiu - era uma coligação de democratas-cristãos (a favor do reforço do Fundo de Estabilidade) e de liberais (contra, e que se abstiveram).

No entanto, é possivel que numa próxima votação a oposição de esquerda vote a favor, se forem incluídos no novo governo.

Tuesday, October 11, 2011

Plágios

A cantora Beyoncé foi acusada de plagiar a dança que faz num teledisco. Não me interessa muito se ela plagiou ou não. No entanto, se imitar uma sequência de passos de dança pode dar origem a um processo por plágio, qual será o próximo passo? Um jogador de futebol ser processado por outro por marcar um golo da mesma maneira que o outro marcou há uns anos atrás?

"Class Warfare"

É interessante ver as acusações dos Republicanos nos EUA ao movimento "Occupy Wall Street", dizendo que é um movimento que promove o "class warfare" (e que Obama também andará a promover o "class warfare").

É interessante porquê? É que desde os tempos de Nixon, pelo menos, que a ala conservadora nos EUA faz o discurso do "americano médio" contra os "pointy-headed intelectuals" e a "liberal elite".

Mais ou menos a esse respeito (embora escrito há 6 anos atrás), ver A (partial) Neoconservative Lexicon, por Kevin Carson:

Elites. Latte-sipping, brie-eating, Volvo-driving, little magazine-reading, effete snobs who live on the coasts, whom it is entirely permissible to attack for their privileged lifestyle. Such attacks are entirely different from the heinous crime of Class Warfare (q.v.), which no decent person will engage in.

Class Warfare. Demagogic attacks based on the entirely specious ground of unearned wealth, a sin up with which the neocons will not put. Entirely different from demagogic attacks based on cultural characteristics like the kind of food and entertainment one likes (see Elites).

Monday, October 10, 2011

Desemprego, "The 99%" e a "Geração à Rasca"

Um post de Megan McArdle sobre o desemprego e o movimento "We are the 99%" (associado ao "Occupy Wall Street"). Creio que é ainda mais pertinente para a nossa "Geração à Rasca", cuja reivindicações (e auto-identificação) giram ainda mais à volta do tema "emprego":

The 99%

I spent quite a lot of time on the "We are the 99%" website last night and this morning.  There's been a considerable amount of carping about it from the conservative side, and to be sure, some of the stories strain plausibility (the percentage of people in the sample who have either taken up prostitution, or claim to have seriously considered doing so, seems rather high, for instance, and as far as I could tell, not a single person on the site had been fired for cause).  Many of the people complaining made all sorts of bad decisions about having children, getting very expensive "fun" degrees, and so forth.

But quibbling rather misses the point.  These are people who are terrified, and their terror is easy to understand.  Jobs are hard to come by, and while you might well argue that any of these individuals could find a job if they did something different, in aggregate, there are not enough job openings to absorb our legion of unemployed. (...)

When the gap between the number of job openings and the number of people who are out of work is so large, there are going to be a hefty number of unemployed people.  Maybe these people individually could have done more to get themselves out of their situation, but at the macro level, that would just have meant that someone else was out of work and suffering.

E...?

Um estudo concluiu que "Seis sessões no psicólogo custam tanto como um mês de baixa" (via Blasfémias). E o que é suposto concluirmos daí? Que as consultas no psicólogo são baratas? Que são caras? Essa informação só seria útil se soubessemos quantos meses de baixa são evitados por seis sessões no psicólogo.

Sugestão de leitura

Double Standard, de Roderick T. Long.

Uma nota acerca dos comentários ao post - tanto Long como os seus oponentes esquecem-se de um ponto importante: é que não há nenhuma contradição filosófica entre ser contra as grandes empresas e usar produtos de grandes empresas; basta a pessoa em questão estar convencida que num mundo sem grandes empresas essas produtos seriam desenvolvidos à mesma (ou talvez fossem ainda melhores) para não haver nenhuma incoerência nesse acto. A pessoa pode estar errada nessa ideia, mas isso é outra questão. A esse propósito ver esta discussão com Rui Passos Rocha no Douta Ignorância.

Do sit-in à greve geral?

What chance a general strike in Manhattan? - Opinion - Al Jazeera English:

If the Occupy Wall Street protests included labour strikes, they would have the power to inflict heavy economic losses.

Friday, October 07, 2011

Sobre Steve Jobs

O que é que esse homem fez, afinal (além de lançar uma linha de computadores que quase ninguém usa)?

Eu percebia que algumas pessoas endeusassem Bill Gates; também peceberia se algumas (outras) pessoas endeusassem Linus Thorvald. Mas que tem de especial o Jobs, que tentou jogar o mesmo jogo que Gates só que ficou (na melhor das hipóteses) em segundo lugar?

Thursday, October 06, 2011

Está a ganhar terreno a ideia de lançar um imposto sobre o consumo de fast-food - agora é David Cameron a juntar-se à procissão.

Os argumentos: "Isto é algo que temos que debater. A verdade é que temos um problema com o aumento da obesidade. Eu estou preocupado com os custos que isto vai ter para o Serviço Nacional de Saúde, bem como o facto de que algumas pessoas vão viver menos que os seus pais".

Faz sentido o Estado ter politicas contra a obesidade? Ou, pondo de outra maneira, a obesidade prejudica alguém além do próprio (a única justificação aceitável para o Estado interferir com os comportamentos individuais)?

À primeira vista, parece que sim - afinal, nos países com cuidados médicos fornecidos pelo Estado, algo que torne as pessoas mais doentes vai aumentar a despesa pública (mas ainda vou voltar a isso).

Mas à segunda vista, parece que não - afinal, nos países em que as pensões de reforma são pagas pelo Estado pelo sistema de repartição, algo que diminua a esperança de vida vai reduzir a despesa pública na Segurança Social.

Mais, nem é liquido que a obesidade aumente a despesa com a saúde - é verdade que é de esperar que uma pessoa obesa, por ano, vá mais vezes ao médico; mas também é de esperar que viva menos anos, logo não é certo que, durante o conjunto da sua vida, um obeso represente mais custo para os serviços de saúde que um não-obeso.

Ou seja, somando tudo, não me parece que se possa dizer que o consumo de fast-food (ou de comida com sal...) prejudique terceiros além de quem a consome - os vários efeitos sociais possíveis da fast-food parecem-me uns numa direcção e outros noutra, mais ou menos anulando-se mutuamente.

De novo, relembro o principio em que se baseou a minha análise - que os prejuizos que o consumo de fast-food possa provocar ao consumidor não interessam (não é da competência do Estado proteger o individuo dele próprio), apenas os prejuizos causados à sociedade.

[Post publicado no Vias de Facto; podem comentar lá]

Wednesday, October 05, 2011

Incredible [Libertarian] Speech By Wall Street Protester "End The Fed" 2011

não me digam que os libertarian não têm qualquer coisa...do tipo...something is happening... ainda não deram conta?

Tuesday, October 04, 2011

O anti-germanismo e o disparate

Imagine-se que um cientista maluco concluía que a Fóia, na serra de Monchique, não tem uma altitude de 902 m mas sim de 11.936 m. O motivo - a medida de 902 m é feita contando apenas a partir do nivel médio do mar, ignorando todo o que está por baixo do mar. Tomando como referência a Fossa das Marianas, que está a 11.034 m abaixo do nível médio do mar, temos que adicionar 11.034 m ocultos à altitude da Fóia (e a todas as altitudes existentes...).

Isso faz sentido? Claro que não. É um disparate, digno de um Prémio IgNobil. Poderíamos eventualmente fazer isso, mas não teria qualquer utilidade, e no final as montanhas mais altas continuariam a ser as mais altas.

No entanto, muita gente (incluindo gente a que me habituei a respeitar, como os bloggers do Arrastão ou dos Ladrões de Bicicletas) está a citar entusiasticamente um estudo parecido sobre a dívida alemã. Um gajo qualquer decidiu medir a dívida pública usando um método inovador - somar, não apenas as dívidas contraídas, mas também todo o dinheiro que se espera que o Estado alemão vá gastar nos próximos anos com com pensões, subsídios de doença, etc. Há primeira vista, até parece fazer algum sentido, até nos sentarmos para pensar e concluirmos que é uma parvoíce - se vamos contar as estimativas de despesa futura como dívida, também deveríamos abater à divida as estimativas de impostos futuros (já agora, quando se calcula o endividamento das famílias apenas se conta com as dívidas já contraídas, não se conta como "dívida" as despesas que essas famílias ainda vão ter com os filhos até eles saírem de casa; e no balanço das empresas não se conta como "dívida" os salários que os trabalhadores vão receber nos próximos anos).

E, mais importante, esse estudo é irrelevante para comparações entre países - se esse autor contou a dívida alemã por um método que só ele usa e que não é utilizado para medir a divida de nenhum país no mundo, não se pode comparar a dívida alemã medida pela maneira "criativa" com a dívida portuguesa medida pela maneira tecnicamente ortodoxa. Voltando ao exemplo inicial, era como dizer que a Fóia, com os seus 11.936 metros, afinal era mais alta que a Serra da Estrela e que o Everest (não era, porque com o novo método a Serra da Estrela e o Everest também seria mais altos do que actualmente).

E também é absurdo dizer coisas como "a dívida alemã atingiria 185% do seu produto interno bruto (...) O limitar crítico a partir do qual a dívida esmaga o crescimento é de 90%. " - esse cálculo de que a dívida esmaga o crescimento a partir dos 90% foi feito a partir de observações medindo a dívida pelos métodos cientificamente consagrados, não pelo método usado nesse estudo (ou seja, se fossemos usar a fórmula de cálculo usada para esse estudo, concluiríamos que os tais países com crescimento "esmagados" têm uma dívida pública muito superior a 90%). Voltando ainda ao exemplo, era como dizer que os habitantes de Monchique tinham que começar a usar garrafas de oxigénio, porque afinal a serra estava acima da altitude a partir do qual o oxigénio começa a ficar raro.

Talvez ainda mais grave são as consequências politicas que esse estudo implicaria - o Daniel Oliveira, o Sérgio Lavos ou o Nuno Serra querem mesmo concluir que a Alemanha tem uma dívida pública insustentável, e por isso se calhar é altura de fazer mais uns cortes orçamentais? É que isso só iria prejudicar ainda mais a economia europeia e mundial.

Na verdade, neste momento, se há algo a criticar à Alemanha é serem demasiado restritivos nas despesas (se o Estado alemão tivesse um deficit maior, isso iria aumentar a "procura interna pan-europeia", o que talvez contrabalançasse a redução da procura interna nacional de países como Portugal, a Irlanda ou a Grécia), não terem "dívidas" imaginárias.

O que leva então tanta gente a ter dado ouvidos a essa asneira, que ainda por cima tem consequências políticas largamente opostas às que defendem? Suspeito que é um pouco da deriva nacionalista que o Zé Neves fala aqui: neste caso, responder ao nacionalismo alemão ("vocês do sul são uns preguiçosos e parasitas") não com o internacionalismo ("o aprofundamento da crise global vai prejudicar os trabalhadores de todo o mundo, incluído os da Alemanha") mas com uma espécie de nacionalismo anti-alemão pseudo-internacionalista ("vocês alemães também são umas grandes peças; afinal também têm uma dívida monstra").

[Post publicado no Vias de Facto; podem comentar lá]

Sunday, October 02, 2011

Energia alternativa


A ventoinha movida a vento (é abrir a janela e a porta num dia de ventania que ela funciona sem electricidade).