Tuesday, August 30, 2011

Os mais gananciosos capitalistas?

Academic publishers make Murdoch look like a socialist, por George Monbiot (The Guardian):

Who are the most ruthless capitalists in the western world? Whose monopolistic practices make Walmart look like a corner shop and Rupert Murdoch a socialist? You won't guess the answer in a month of Sundays. While there are plenty of candidates, my vote goes not to the banks, the oil companies or the health insurers, but – wait for it – to academic publishers. Theirs might sound like a fusty and insignificant sector. It is anything but. Of all corporate scams, the racket they run is most urgently in need of referral to the competition authorities.

Everyone claims to agree that people should be encouraged to understand science and other academic research. Without current knowledge, we cannot make coherent democratic decisions. But the publishers have slapped a padlock and a "keep out" sign on the gates.

You might resent Murdoch's paywall policy, in which he charges £1 for 24 hours of access to the Times and Sunday Times. But at least in that period you can read and download as many articles as you like. Reading a single article published by one of Elsevier's journals will cost you $31.50. Springer charges €34.95, Wiley-Blackwell, $42. Read 10 and you pay 10 times. And the journals retain perpetual copyright. You want to read a letter printed in 1981? That'll be $31.50. (...)

Murdoch pays his journalists and editors, and his companies generate much of the content they use. But the academic publishers get their articles, their peer reviewing (vetting by other researchers) and even much of their editing for free. The material they publish was commissioned and funded not by them but by us, through government research grants and academic stipends. But to see it, we must pay again, and through the nose.

Re: Tort reform

Há certas coisas dificeis de perceber nos liberais (sobretudo os "minarquistas") - por um lado, costumam defender que a solução para problemas como poluição, protecção ao consumidor, etc., não passa por regulamentação estatal feita à priori, mas sim por processos judiciais feitos à posteriori, em que quem se ache lesado processe quem ache que o lesou (a empresa que poluiu o rio onde ele ia pescar, ou o restaurante onde comeu o almoço que o fez ficar doente, ou coisa assim...). Assim, pela lógica eles deveriam adorar processos cíveis, "trial lawyers", etc.

Mas, pelo contrário, muitos até parecem simpatizar com a ideia de tornar mais díficil o recurso a processos desses.

Sobre o padrão-ouro

A Critique of Pure Gold, por Barry Eichengreen, em The National Interest (na minha opinião, um texto bastante informativo, mesmo que não se concorde com as conclusões).

Errata a post de Pacheco Pereira

Onde se lê:

Os pobres são “porcos, feios e maus”, velhos, mal tratados, e habitam em pseudo-casas onde um alguidar está ao lado do fogão, e há sempre roupa suja numa pilha. Não são bonitos nem televisivos nem estão no Algarve, na grande transumância nacional de Agosto.
deveria ler-se:
Os pobres são “porcos, feios e maus”, velhos, mal tratados, e habitam em pseudo-casas onde um alguidar está ao lado do fogão, e há sempre roupa suja numa pilha. Não são bonitos nem televisivos nem estão no Algarve, na grande transumância nacional de Agosto (ou, se estão, passam lá o ano todo).

Monday, August 29, 2011

A decadência dos blogues?

Blogging is dead and no-one cares?, por John Band:

The odd thing, though, is that whenever I’ve written a piece in the past that has gained masses of attention, it’s been through links from bigger blogs, news sources, or occasionally forums. This time, as far as I can see from my logs, there haven’t been *any* blog links to the piece. All the traffic is coming from retweets and reshares on Twitter and Facebook.

I wouldn’t go quite as far as to say that blogs are dead as a medium: the existence of a self-publishing platform with a fairly powerful off-the-shelf CMS, and that isn’t restricted to a particular social network, remains useful.

But it’s looking like the sense in which we’ve traditionally understand blogs – roughly, a community of people who link to each other’s posts, comment on them, and write pieces that track back to them – no longer really applies. Facebook and Twitter have killed it, in favour of something flatter and much less based on the blogger’s personal brand.
[Confesso que há realmente uma coisa que não gosto muito quando vêm visitas para um post meu a partir do Facebook ou do Twitter - é eu não saber quem me está linkar]

Novas tecnologias, os cidadãos e os governos

Citizens against Governments (link corrigido) e Anti-corruption App, por Scott Adams.

Saturday, August 27, 2011

Não tenho titulo para esta réplica (I)

[Este post é algo bizarro, já que pretende ser uma resposta a um post escrito há mais de dois anos - ! -, por um blogger que já nem sequer escreve nos blogues onde escrevia na altura, e que até já pode ter mudado de ideias sobre o que escreveu; no momento, eu decidi fazer uma série de posts sobre o assunto, e eles estão mais ou menos alinhavados nos arquivos do Vento Sueste, à espera que eu me decida a voltar a pegar neles - talvez trabalhos de grande envergadura não sejam para mim?; de qualquer forma, vou publicar já o que pretendia ser o post inicial da série, por uma razão de datas - o tema da discussão entre Esquerda e Direita, dicotomia que foi inventada a 27 de Agosto de 1789]

Friday, August 26, 2011

Volatilidade do valor do ouro

N'O Insurgente, o Carlos Guimarães Pinto tem escrito alguns artigos sobre a evolução do valor do ouro, nomeadamente acerca da sua volatilidade.

Não sei é se isso será grande novidade - há quatros anos escrevi este post, comparando o valor "real" do ouro e do dólar (medido em função do indice de preços dos EUA), e já então o ouro demonstrava ser muito mais volátil que o dólar:

De 1972 a 2005, o dólar teve uma variação anual média de -4,48% e uma volatilidade de 2,7%; o ouro teve uma variação anual média de 4,78% e uma volatilidade de 24,12%.
Ou seja, comparado com o dólar, há muito que o ouro é um investimento de alta rentabilidade/alto risco.

Thursday, August 25, 2011

Que ditaduras devem os americanos gostar?

Which Dictatorships Are We Supposed to Like?, por Jacob Hornberg, da Future of Freedom Foundation:

Don’t you sometimes wish that someone in authority in the U.S. government would explain how they determine which dictators we’re supposed to like and which ones we’re supposed to dislike?

Consider, for example, Syria. Right now, Syria is our enemy because it’s a brutal dictatorship, one that is oppressing its own people. President Obama is demanding that Syrian dictator Bashar al-Assad leave office. Obama has also imposed sanctions on the Syrian regime.

But wait a minute! I thought Assad was our friend. Isn’t he the dictator whose brutal henchmen tortured Canadian citizen Maher Arar at the specific request of the CIA? Isn’t the CIA an agency of the U.S. government?

I don’t get it. How did Assad go from being our friend who tortures people on our request to our enemy who needs to be sanctioned until he relinquishes power?

Wednesday, August 24, 2011

A análise por fazer sobre os tumultos britânicos

Muito se tem falado sobre as causas dos recentes tumultos em Inglaterra, mas há um pormenor que me parece ter sido pouco discutido.

Estes tumultos .... 6 a 10 de Agosto de 2011

Tumultos no subúrbios franceses...27 de Outubro a 8 de Novembro de 2005 (declaração do estado de emergência e do recolher obrigatório)

Los Angeles (Rodney King)....29 de Abril a 2 de Maio de 1992 (intervenção dos marines)

Los Angeles (Watts) ... 11 a 15 de Agosto de 1965

Estes tumultos acabaram muito mais depressa que os em França; duraram (mais dia menos dis) o mesmo tempo que similares tumultos em Los Angeles, mas sem ser preciso intervenção militar nem estado de emergência.

Talvez a grande discussão, em vez de "o que se passa de mal na sociedade inglesa que deu origem a isto?", devesse ser "o que se passa de bom na sociedade inglesa que acabaram com os tumultos tão facilmente?".

Chineses ou robots?

Are we replacing robots with Chinese people?, por "Noah":

BUT...productivity is not the same thing as technology. This is a fact that often gets ignored, since economists tend to treat the two as being equivalent. But they are not. In particular, trade can boost productivity without any new technology being invented. This is what Mandel claims has been responsible for the large productivity gains in the U.S. over the past 10 years. I tend to believe him.


So why should we care whether our productivity comes from robots (technology) or from cheap Chinese labor (trade)? One answer - and I feel like this is what Cowen and Mandel may have been getting at - is that one may crowd out the other. And this brings me to the theory of endogenous growth.

Paul Romer (a physics B.A. like me!) invented the theory of endogenous growth back in the 80s. The idea is that technological progress does not simply arrive out of nowhere, but is a byproduct of economic activity. Since ideas are a nonrival production input (a.k.a. a "public good"), there is no guarantee that the market will produce enough of them. Some growth models may be a lot better at innovation than others, and policy can make a big difference. If we're not channeling enough of our economic output into the production of new technology, we'll all be poorer down the line.

And here's the interesting part. Romer's first crack at a theory of endogenous growth was this 1987 paper. His model uses this very interesting assumption:

I also assumed that an increase in the total supply of labor causes negative spillover effects because it reduces the incentives for firms to discover and implement labor-saving innovations that also have positive spillover effects on production throughout the economy.
In other words, if we suddenly get access to a bunch of cheap Chinese labor, we don't bother to invent robots. Then tomorrow, when the cheap Chinese labor runs out, we find ourselves without any robots.

This is just an assumption, of course. Even if the model works well, the assumption may be wrong. But it's an interesting idea, isn't it? What's even more interesting is that this exact same idea is one of the leading explanations for the "Great Divergence" between Europe and China that began around the 1600s. The idea is that European countries, flush with capital but short of labor, invented modern industrial technologies to compensate for their labor scarcity, while China, with a huge labor surplus, felt no need to invest in fancy machines. For more technical formulations of this notion, see Basu & Weil (1998), and this recent survey by Allen. But the basic idea is pretty clear: cheap humans crowd out robots.

So here's the question: what if our slow rate of innovation is due not to an inexplicable slowdown in the arrival of new ideas, but from the fact that China has made the discovery of those ideas less urgent? If that were true (and I'm only raising the possibility), what would be our best response? Would shutting ourselves off from cheap Chinese labor force us to become like 1600s Netherlands and invent a bunch of cool robots? Or would it just cause companies to pack up and leave the U.S. entirely, rendering us a protectionist backwater?

Tuesday, August 23, 2011

Erros de identificação

Namers need a little shaming of their own (Blood & Treasure):

On the front page of today’s MEN I see this:

A teenager who spent nine days in prison after being charged with setting fire to Miss Selfridge during the Manchester riots has been dramatically cleared.


Dane Williamson has spoken of his ‘hell’ after spending nine days behind bars for a crime he did not commit.


Dane, 18, was arrested just hours after the Manchester riots and accused of setting fire to the Miss Selfridge store on Market Street. Despite denying being involved in the attack, which caused almost £500,000 worth of damage, he was later charged with criminal damage and recklessly endangering life and remanded in custody in Forest Bank prison.
From August 12 editorial, same newspaper:

For law-abiding citizens, there is now a right to put a face and a name to all those people – most hooded or masked – who terrorised us. By seeing them held to account, we all feel safer.


As for the rioters and looters themselves, our obligation is to make them feel society’s disapproval in a way they plainly did not at the time they joined the rampage. That means not just a punishment from a magistrate but naming and shaming by their local newspaper, the knowledge that everyone who knows them will read of their crimes.
Well Dane Williamson felt society’s disapproval before he was actually convicted of anything but after the MEN published his name and address. Someone burned his flat down while he was in jail.

Sunday, August 21, 2011

A esquerda, o anti-imperialismo e a "solidariedade internacionalista"

Normalmente, a esquerda costuma rejeitar a ideia de um país entrar com as suas tropas adentro de outro pais com um "mau governo" para colocar no poder um "bom governo" (um argumento clássico é "eu não achava bem que os americanos viesse cá derrubar o Salazar"). Mesmo os comunistas pró-soviéticos, quando a URSS fazia coisas dessas no Bloco de Leste, tentavam arranjar sempre alguma desculpa para demonstrar que a "soberania nacional" não estava sendo violada (p.ex., quando a URSS invadiu o Afeganistão - recorde-se, com o objectivo inicial de substituir um regime comunista de "linha dura" por um que fosse mais "brando" - durante os primeiros dias disseram que estavam lá a pedido do governo afegão, até se tornar público que o líder comunista local havia sido morto pelos invasores).

Mas, por outro lado, a esquerda não tem normalmente nada (muito pelo contrário) contra George Orwell ou Christopher Caudwell lutando ao lado dos republicanos espanhóis ou Jaroslav Dombrowsky ao lado da Comuna de Paris, isto para não falarmos nas t-shirts mais populares entre os jovens esquerdistas (Byron e Garibaldi e as causas porque lutaram já saíram de moda há muito, mas creio que também eram populares entre os "radicais" do seu tempo).

Mas haverá uma grande diferença entre um exército estrangeiro entrar num país para mudar o seu regime politico-social e um estrangeiro alistar-se como voluntário num movimento rebelde? Ou será apenas uma diferença de grau? Note-se que isto não é uma crítica - porque, grosso modo, também é essa a minha posição: o meu "gut feeling" é exactamente esse, de que um Estado ir mudar o regime de outro é "imperialismo", mas um simples individuo juntar-se a movimento revolucionário no estrangeiro é "solidariedade internacionalista"; mas confesso que sinto alguma dificuldade em racionalizar esta posição.

Uma possivel maneira de justificar essa aparente contradição seria argumentar que os indivíduos têm direitos que os Estados não têm (posição que, p.ex., um anarquista poderá defender sem dificuldade, mas que me parece mais complicada para, digamos, um comunista ortodoxo).

No entanto, ocorrem-me algumas razões para voluntários internacionalistas serem diferentes de exércitos estrangeiros:

a) Voluntários estrangeiros, mesmo quando organizados em unidades próprias (como as Brigadas Internacionais em Espanha) estão integrados na "cadeia de comando" dos revolucionários locais, pelo que continuam a ser estes a dirigir o processo; pelo contrário, exércitos estrangeiros estão sob a autoridades dos seus governos, dando a estes poder sob o desenrolar do processo

b) Uma brigada internacionalista  normalmente é mais fraca militarmente (sobretudo em meios humanos) que a parte "nativa" das forças rebeldes (possivel excepção - a guerrilha que o Che tentou fazer na Bolívia); pelo contrário, numa intervenção estatal, o exército estrangeiros costuma ser a parte mais forte do conflito (as intervenções do Ruanda no Congo/Zaire, primeiro para colocar Kabila no poder e depois para o tentar derrubar, teriam todas as condições para ser excepções, não fosse o estado de degradação do Estado zairense/congolês). O resultado disso é que, no primeiro caso, a vitória dos rebeldes não colocará os voluntários internacionais como os novos governantes, enquanto no segundo o exército "invasor"/"libertador" (devido a ser a mais forte força militar) têm condições para decidir quem vai governar o país (é verdade que em Cuba o argentino Che chegou a governante, mas não pelo seu poderio militar, mas sim porque os líderes rebeldes locais engraçaram com ele).

c) aceitar as intervenções de estados estrangeiros abre caminho a aceitar uma ordem internacional imperialista, em que alguns estados (os com poder militar para derrubar governos alheios) acabam por ter de facto o poder de decidir que tipo de regime politico os outros países devem ter (ou seja, mesmo que em nome da democracia dentro de fronteiras, está-se na prática a instituir a oligarquia nas relações entre Estados); pelo contrário, as "brigadas voluntárias internacionais" não levam a nenhuma desigualdade entre países "fracos" e "poderosos", já que temos pessoas de qualquer país do mundo a se poderem juntar a um movimento revolucionário de qualquer outro país (podemos ter franceses a "intervirem" ao lado de bolivianos, mas também palestinianos a "intervirem" ao lado de alemães).

d) o pensamento de esquerda anda muito à volta do tema "o povo unido nunca mais será vencido" (ou, para quem preferir poesia oriental, "todos os reaccionários são tigres de papel; o povo é quem é verdadeiramente poderoso"): de que o poder das classes dominantes só se mantém porque o povo não se revolta, e que quando as massas ganharem "consciência" e "coragem" para se revoltarem, o domínio dos "poderosos" cairá como um castelo de cartas. Ora, o intervencionismo é frequentemente defendido com o argumento "sem a intervenção da comunidade internacional, aquele tirano vai continuar a massacrar o seu povo", mas aceitar tal argumento implicaria aceitar que as massas populares não têm capacidade para, sozinhas, destruir/neutralizar o aparelho repressivo do Estado. Pelo contrário, o papel de voluntários estrangeiros é mais fácil de compatibilizar com o modelo "quando o povo se revoltar, o poder cai" - os voluntários podem ser vistos, simplesmente, como elementos que vão ajudar a revolta a atingir a massa crítica acima da qual o povo perde o medo e sai à rua e a revolução triunfa

Todos estes argumentos (para ser contra as "invasões humanitárias" mas a favor das "brigadas internacionais") parecem-me fazer sentido, mas admito que talvez esteja a cair naquilo a que alguém chamou "a arte de procurar motivos racionais para aquilo em que se acredita instintivamente".

[Post publicado no Vias de Facto; podem comentar lá]

Tuesday, August 16, 2011

Os empregos no Texas

Segundo o Público e O Insurgente, "o Texas é responsável por 40 por cento dos novos empregos criados nos EUA desde Junho de 2009".

Seria interessante ver qual é a percentagem dos desempregos que foram "criados" no Texas - por este quadro, de Junho de 2009 a Maio de 2011, foram "criados" 68.484 desempregos (isto é, o desemprego aumento em 68.484 individuos); a minha ideia original era ver qual tinha sido o aumento do desemprego nos EUA no mesmo periodo, e calcular a percentagem que os 68.484 texanos que perderam o emprego contavam nisso. No entanto, parece que no mesmo periodo o desemprego (ou, pelo menos, o desemprego estatístico) até desceu no conjunto dos EUA (logo, não dá para fazer a tal conta).

De qualquer maneira, o Texas foi dos Estados que "criou" mais desemprego nesse período:

Nº de desempregados nos maiores Estados

Maio/09
Junho/11
dif.
Texas
917.115
985.599
68.484
California
2.089.713
2.115.705
25.992
833.552
751.569
-81.983
935.559
980.425
44.866
673.533
584.813
-88.720
520.749
471.079
-49.670
621.531
508.131
-113.400

(em comparação à população, a Florida é capaz de ter "criado" mais desemprego que o Texas)

Quem dirige os rebeldes líbios?

Who is in control of the Libyan opposition?(reportagem-vídeo da Al Jazeera).

A desblindagem dos estatutos

Acerca dos alegados planos do governo para acabar com as "blindagens" nos estatutos das empresas em caso de OPA, ver esta discussão entre mim, o LR do Blasfémias e o João Vasco nos comentários a este post do LR (não é exactamente sobre esse tema, mas acaba por lá chegar).

Sunday, August 14, 2011

Mais tumultos britânicos

How the Tories dealt with riots in the past, por David Osler:

THE trouble in Manchester all kicked off when bogus rumours spread that a mob was besieging parts of inner London. A section of the lower orders, clearly fuelled by drink, set out on a wrecking spree, expressing their solidarity by smashing windows.

I refer, of course, to the situation in 1816, in a Britain so different from the one in which we live today that it is impossible to imagine what things must have been like for the dispossessed.

The country was led by a reactionary Tory government which, faced with economic ruin brought on by the huge of expense of foreign wars, was determined to introduce policies that directly benefited the wealthy few.

Among the measures that it enacted were the Corn Laws, which enriched the landed interest from which they drew their support, at the expense of making food dearer for everybody else.

The urban working class – derided at the time as immoral, uneducated, brutalised, feckless, and completely bereft of all prevailing norms of morality and decency – lashed out with undisguised fury.

First riots rocked the capital. Then they spread to other parts of Britain. In Bridport, there were protests against higher bread prices, in Bideford they focused on the export of grain while families starved at home. Merthyr Tydfil erupted against the imposition of wage cuts. In Newcastle-upon-Tyne, hungry miners went on the rampage, while in Glasgow, deaths resulted from a ruckus over poor quality soup kitchens.

Nor was there any respect for the property of the employers. Only years before, the mindless thugs known to history as the Luddites had wrecked machinery in factories, oblivious to warnings of political economists at the shocking short sightedness of such behaviour.

With the benefit of hindsight, historians can see that the warning signs were obvious. For much of the population ,life chances were limited to unemployment, the workhouse or begging. No question of education for them.

The disconnect between the political system and the broad public was complete. Many seats in Westminster were in the control of small cliques or even individuals, and even elsewhere, only the affluent were represented in parliament.

There were huge disparities in wealth. Factory workers earned just 25p a week, while government sinecurists such as Lord Arden took £39,000 a year from the public purse. The entire annual budget for the relief of the poor at the time was just £42,000.

Yet instead of tackling these questions, incompetent home secretary Lord Sidmouth decided instead on a regime of growing repression. Any criticism of the system was criminalised as ‘sedition’, laws were introduced against trade unionism, and the freedom of the press was severely curtailed.

Some even blamed the unrest on recent developments in communications. Postal services were intercepted and letters to and from radicals or suspected agitators were routinely copied to the Home Office.

It is to just this period that the origins of today’s labour movement can be traced, as awareness grew of the need for a movement that stood up for ordinary people against a corrupt plutocracy.

Of course, Conservatism has evolved massively over the last two centuries. It is surely unthinkable that Theresa May would even contemplate making the same mistakes as her predecessor of nearly 200 years ago. Isn’t it?

Friday, August 12, 2011

Os tumultos de Londres, resultado do Welfare State e do multiculturalismo?

N'O Insurgente, Bruno Garschegan pergunta se "[os] criminosos de Londres são filhos do Welfare State e do multiculturalismo?".

Do Welfare State daria pano para mangas, mas do multiculturalismo, noto uma coisa - pelo que se vê nas televisões, os motins parecem feitos, sobretudo, por "negros" e "brancos" (suspeito que esses sejam "ingleses de origem" - e creio que o Reino Unido tem uma "underclass" nativa muito maior que os outros países da Europa do Norte - embora admito que alguns possam ser imigrantes de outros países europeus), ou seja as "comunidades" mais integradas na cultura mainstream britânica (pelo menos, creio que os negros descendentes de imigrantes das Antilhas não tem nenhuma especificidade cultural significativa, tirando talvez a que eles próprios inventem).

Por outro lado, tem sido exactamente nas comunidades que penso menos integradas na cultura dominante - turcos, sikhs, etc. - que mais têm aparecido exemplos de auto-organização voluntário / vigilantismo para travar as pilhagens.

[Como devem ter notado, este post tem muitos "creio", "penso", etc., já que o meu conhecimento das dinâmicas étnicas e sociais britânicas é em 4 ou 5º mão; se algum leitor mais familiarizado com o assunto quiser dizer alguma coisa, esteja à vontade]

Thursday, August 11, 2011

Blackberry, sinal exterior de riqueza?

Even Rioters with Blackberrys can be Poor, no Left Outside:

Many of this week’s riots have been organised by Blackberry’s Blackberry Messaging Service (BBM). This allows for anonymised, tough to trace messages to be sent for free. It seems this service has been used to coordinate and direct the mayhem that has seen London’s worst violence in decades. A lot of people seem to think that this means that arguments that the rioters are driven in part by poverty to be silly.
“How can you be poor when you own a Blackberry?!” they cry.
I’m not sure why I’m saying “they”, I mean boring, conceited right-wingers, of course. The main point I want to make here is that manufactured goods are incredibly cheap but lots of other things you need to not be poor are not, but I’ll come to that later.

The auxiliary point I will address first is that Blackberrys are actually quite cheap as a phone. Not only because of the availability of long term contracts, £15.50 a month from Tesco, or from £10.50 from Carphone Warehouse but also because Blackberry Messenger is a great service. This service is quicker and easier than texting and is completely free to boot. Chris Bertram‘s niece is a convert, as am I.

It is not as good as texting because you need to coordinate with your friends to all have the same phone, but it is pretty good considering it is free to use. So that people without much money opt for a cheaper but slightly inferior service (BBM) should not be taken as evidence that they have loads of money (...)

The main point I want to address is that being able to afford impressive consumer goods does not mean you are not poor. (...)

People can afford fantastically advanced consumer goods because productivity advances very quickly in this sector. Other sectors important to the poor do not see such fast growth. In Hackney some one bedroom flats sell for £300,000, now people may live nearby with flashy phones, but how many Blackberry contracts would it take to afford that flat? Well, at £10.50 a month it would take over 2000 years. That may not be poverty to starve you, but it is certainly poverty to disenchant you – and it is that sort of poverty which we need to talk about.
Um aparte - às vezes, em Portugal, há que faça comentários do género "Estão no RSI/subsídio de desemprego mas têm todos telemóvel"; há uns 15 anos esses comentários poderiam fazer sentido, mas hoje em dia o bem de uso corrente é o telemóvel, e se calhar é o telefone fixo é que é o bem de luxo.

[Post publicado no Vias de Facto; podem comentar lá]

Loucos e terroristas

Lendo na Secular Right esta  "tricotomia de terroristas" por "David Hume" (Razib Khan), mais me convenço de uma teoria minha - na prática, o critério que muita gente usa para considerar um terrorista como "louco" ou "bom da cabeça" é, simplesmente, o "agiu sozinho" vs. "pertence a um grupo".

Wednesday, August 10, 2011

Anarco-capitalismo?

Turks police own London district amid rioting (AlJazeera):

Turkish shopkeepers in east London neighbourhood refuse to close, stand up to rioters and guard the streets.



With much of the violence focused on the other UK cities such as Manchester, Birmingham and Nottingham, a battened-down London enjoyed a relatively quiet night on Tuesday, 24 hours after the city was rocked by some of its worst rioting in decades.


Key to that calm was a massive police presence. Some 16,000 officers were deployed on the streets, nearly triple the presence of the previous evening when officers fought running battles with masked street fighters and failed to prevent widespread looting and arson.

But though there were officers visibly standing sentry on street corners in most affected areas, the forces of law and order seemed happy to leave the battered district of Dalston to its own devices - because Dalston, it seems, can take care of itself.

As origens dos motins

Sempre que em bairros pobres há motins, as opiniões dividem-se: à esquerda, diz-se que a culpa é da exclusão social, do desemprego e da falta de oportunidades, e eventualmente do encerramento de estruturas de diversão; à direita, diz-que que a culpa é da falta de firmeza da policia (ou de esta estar de mãos atadas) e do ambiente cultural, do fim da ética do trabalho, etc.

É curioso que raramente a causa primeira dos motins é abordada - 99% deles (como estes, ou os nos subúrbios franceses, ou os motins de Los Angeles em 1992 ou mesmo os motins que de vez em quando há na Bela Vista) começam em resposta a actos de brutalidade policial.

[Post publicado no Vias de Facto; podem comentar lá]

Motins e centros de diversão

Suspeito que uma actividade iniciada pelos próprios (como um motim) será sempre muito mais divertida (do ponto de vista dos participantes, não de quem tem o azar de se cruzar com eles) do que um actividade enquadrada institucionalmente (como num centro de diversão).

Sobre os motins de Londres em Inglaterra

Um tema para discussão levantado por David Osler acerca da formação de "milicias" nos bairos turcos/curdos para combater os motins:

First, what distinguished developments on my patch from those elsewhere was the decision of the dominant local ethnic minority to make a stand. By late evening, hundreds of Turkish men – not just the tasty geezers and the handy lads, but men of all ages – had gathered at the junction where their turf starts. A small number were armed with clubs.


I overheard negotiations between a hoodie ringleader and a Turkish representative, which went something like this:

Hoodie: ‘I know that you are just trying to defend your community. We all get the same shit.’ Turk: ‘Yeah, I know. Peace.’

Within minutes, there was some kind of ruckus and the youths fled en masse. I heard later that their departure was sparked when one of their number was caught shoplifting in a Turkish store and, shall we say, dealt with.

So, lefties: praiseworthy neighbourhood self-organisation or petit bourgeois vigilantism in defence of small property? Discuss.

Monday, August 08, 2011

Sobre os motins em Londres

The Mark Duggan shooting, the police, and the media, por "Autonomous Mind"

In the ashes of a riot, por Phil Dickens





O declínio dos forums da Internet?

The Old Internet Neighborhoods, por Virginia Heffernan (New York Times):

Many boards are stagnant or in decline, if they even still exist. Several once-thriving boards on the women’s site iVillage have closed up shop. Big fan-fiction boards haven’t seen real action in years. Last month, a once-popular eight-old-year British board about mental health went dark with a note: “The Internet has changed significantly.”


These are serious signs of the digital times. Message boards were key components of Web 1.0 — the Web before broadband, online video, social networking, advanced traffic analysis and the drive to monetize transformed it.

If urban history can be applied to virtual space and the evolution of the Web, the unruly and twisted message boards are Jane Jacobs. They were built for people, and without much regard to profit. How else do you get crowds of not especially lucrative demographics like flashlight buffs (candlepowerforums.com), feminists (bust.com) and jazz aficionados (forums.allaboutjazz.com)? By contrast, the Web 2.0 juggernauts like Facebook and YouTube are driven by metrics and supported by ads and data mining. They’re networks, and super-fast — but not communities, which are inefficient, emotive and comfortable. Facebook — with its clean lines and social expressways — is Robert Moses par excellence. (...)

But the forums were spontaneous, rowdy and often inspired Internet neighborhoods. For millions of users, they quickly became synonymous with “The Internet.” They were well-populated. Today the ranking general-interest boards, like Off Topic and Something Awful, have more than 100 million posts. (The biggest board in the world, Gaia Online, a Japanese board devoted to role-playing and anime, has nearly 2 billion posts.)


Still, for all their importance to individual Web users, the boards were almost invisible to anyone intent on profiting off Web traffic — and so they’ve been nearly written out of the history of the Internet. A riveting 1997 article by Katie Hafner in Wired told of the rise and decline of The Well, a venerable online community that began in 1985, as part of the bygone dial-up bulletin board system. Historians have since written shelves full of books on Web search and e-commerce, but very few about message boards. (A notable exception is William Cast’s 2005 book “Going South,” about Yahoo’s HealthSouth board, which became a forum for the company’s angry employees and eventually gave investors tips about the company’s direction.)

A message board is different from a chat room in that its entries are archived. The archive becomes a key component of discussions, with many posters internally linking to and footnoting archived entries. When, in 2004, someone started a thread on a site for digital-video buffs called MovieCodec with “i am so lonely will anyone speak to me,” the spontaneous replies by pseudonymous posters — some sympathetic, some teasing — came to form a master document that’s both existential and hilarious. Collaborative documents like that one — made famous at the time in articles in Wired and The New Yorker — are what the Web loses when forum villagers flee for the Facebook megalopolis (population 750 million).

Sunday, August 07, 2011

Estarei doente?

É que adorei o artigo de ontem do Henrique Raposo no Expresso e o de hoje do Alberto Gonçalves no DN.

Saturday, August 06, 2011

Uma coisa que eu acabei por não perceber

Afinal, o que é que ia voar em Fevereiro?

[agora. lembrei-me disto]

Wednesday, August 03, 2011

Os resultados do Bloco de Esquerda - revisitado

Acerca disso, há um mês escrevia:

Outro aspecto é a grande variação de resultados do BE de sitio para sitio, mesmo em localidades próximas e socialmente parecidas - qual é a grande diferença entre Baleizão (11,86%) e o resto do concelho de Beja (5,72%)? Ou mesmo entre a Mexilhoeira Grande / Portimão (10,09%) e Odiáxere / Lagos (7,22%), duas freguesias contiguas e muito parecidas? Uma possivel teoria poderia ser a existência ou não de militantes activos nas localidades com mais votos (algumas pessoas iriam votar não apenas por causa dos "políticos" que aparecem na televisão, mas também por causa do militante de base que eles conhecem pessoalmente) - é uma ideia tentadora, mas impossível de testar na prática (mesmo que se concluísse que o BE tinha mais votos nas freguesias em que tem grupos de militantes, penso que seria impossível determinar o sentido da relação causa-efeito).
Bem, entretanto fiz uma tentativa de contornar esse problema: estudar a relação entre a presença de militantes e a variação da votação do BE. Penso que aí já não há o problema da relação causa-efeito: no caso da votação em termos absolutos, mesmo que o BE tenha mais votos onde tem mais militantes, a relação causal pode perfeitamente ser "tem mais militantes porque tem mais votantes, logo à sempre alguns que se inscrevem" (e não o inverso); mas no caso da variação da votação, se o BE tiver perdido menos votos nos sítios onde tem militantes activos, penso que o mecanismo só pode ser "militantes no terreno > menos perda de votos" (não estou a ver como a relação causa-efeito possa ser ao contrário).

Então, vamos às contas - para calcular a variação da votação do BE, fui pegar nos resultados das eleições de 2011 e nas de 2009.  Para ver em que terras o BE tem militantes activos, usei um truque - fui ver as eleições autárquicas de 2009 e assumi que nos concelhos onde houve uma lista para a AM haverá um núcleo.

Resultados:

Nos concelhos onde o Bloco concorreu nas autárquicas, perdeu 47% dos votos das legislativas de 2009 para as de 2011; nos concelhos onde não concorreu, perdeu 54%.

Fazendo uma análise por freguesias - nos sítios onde o BE concorreu à Assembleia de Freguesia, perdeu 46% dos votos de 2009 para 2011; nos sítios onde não concorreu, perdeu 52%.

Conclusão - o BE perdeu efectivamente menos votos nos sítios em que tem militantes organizados, o que parece indicar que o trabalho desses militantes de base (e não apenas o do grupo parlamentar e/ou dos opinion makers com colunas nos jornais) efectivamente tem influência visível nos resultados.

[Se alguém quiser ver os números, posso publicar um post com uma tabela contendo os dados que usei]

[Post publicado no Vias de Facto; podem comentar lá]

Tuesday, August 02, 2011

A economia portuguesa deve crescer com base nas exportações

Diz o ministro.

Eu iria mais longe - todos os países do mundo, se aspiram a uma prosperidade sólida e duradoura, devem procurar aumentar sobretudo as exportações.

Monday, August 01, 2011

Se conhecer um anarquista, contacte as autoridades

Pelo menos em Inglaterra:

Anarchists should be reported, advises Westminster anti-terror police (The Guardian) - What should you do if you discover an anarchist living next door? Dust off your old Sex Pistols albums and hang out a black and red flag to make them feel at home? Invite them round to debate the merits of Peter Kropotkin's anarchist communism versus the individualist anarchism of Emile Armand? No – the answer, according to an official counter-terrorism notice circulated in London last week, is that you must report them to police immediately.

This was the surprising injunction from the Metropolitan Police issued to businesses and members of the public in Westminster last week. There was no warning about other political groups, but next to an image of the anarchist emblem, the City of Westminster police's "counter terrorist focus desk" called for anti-anarchist whistleblowers stating: "Anarchism is a political philosophy which considers the state undesirable, unnecessary, and harmful, and instead promotes a stateless society, or anarchy. Any information relating to anarchists should be reported to your local police."

O problema é a dívida?

O último país "falido" da UE - Chipre.

Dívida pública de Chipre - 61% do PIB (Alemanha - 78%)