Monday, July 18, 2011

O azar dos Habsburgos

A respeito da morte do arquiduque Otto von Habsburg, ocorre-me que a dinastia Habsburg acabou por ser vítima de uma carrada de "azares históricos" (em muitos casos derivada simplesmente a estar no sitio errado no momento - ou no século - errado) que afectaram muito a sua imagem pública:

- Houve montes de países que conquistaram a sua independência contra os Habsburgos (Portugal, Suiça, Paises Baixos, Boémia/Chéquia/qualquer-coisa-assim, em parte a Itália), o que os torna os "maus" na mitologia nacional de muitos países (e têm a sorte de em Portugal serem conhecidos por "Filipinos" em vez de por "Habsburgos", o que livra os primos austríacos da má imagem).

- Enfrentaram adversários que ficam bem em filmes ou romances (Guilherme Tell, os corsários ingleses...), logo há muita cultura popular apresentando-os como os "maus" (o "Ciclo dos Corsários" de Emilio Salgari é uma sintese deste ponto com o anterior - uma séria de romances, escritos pouco depois de a Itália se ter libertado da tutela austríaca, tendo como tema um aristocrata italiano que tinha ido combater ao lado dos holandeses contra os espanhóis, e que depois vai combater os espanhóis nas Caraíbas...)

- A Austria e a Espanha estiveram muitas vezes em guerra com a Inglaterra ou com a França; como grande parte da "memória colectiva" do "Ocidente" é, largamente, a "memória" dos ingleses e/ou franceses (quais são os dois paises europeus que aparecem mais em filmes de reconstituição histórica passados há uns séculos atrás?), mais uma razão para serem apresentados como os "maus" (até porque o cinema de Hollywood segue a regra de que, se não haver americanos ou irlandeses no filme, os ingleses são os "bons")

- Governaram Espanha pouco depois da conquista das Américas e da criação da "Inquisição Espanhola", logo, embora a responsabilidade não tenha sido deles, apanharam também com a "lenda negra"

- Falam alemão (não é preciso explicar porque razão isso é um handicap em termos de marketing histórico, pois não?)

Únicos pontos em que me parece que tiveram sorte:

- Uma Imperatriz com que, por um conjunto de razões (muito jovem, dificuldade de ligar com a etiqueta da corte,  morte trágica...), a "indústria cultural" engraçou

- A Revolução Mexicana de 1910, com figuras carismáticas (Pancho Villa, Zapata), que envolveu muitos norte-americanos, e que deu origem a um manancial de filmes e romances. Isso foi bom para a imagem pública dos Habsburgos porquê? Porque apagou da memória a anterior, contra o Imperador Maximiliano de Habsburgo, que penso só ter dado origem a um filme famoso.

2 comments:

Manuel Marques Pinto de Rezende said...

Ou seja, faltou aos Habsburgos um bom departamento de marketing =)

Anonymous said...

A brincar o diz, mas tem toda a razão. Repare que mais de metade do mundo apoia as aventuras do império americano, o que não é de todo normal, mas sim fruto de uma máquina enorme que é o corporativismo da informação, apoiada no Estado e na indústria militar.