Friday, July 08, 2011

Ainda as agências de rating (IV)

O Problema Com A Moody's, por Pedro Bandeira:

[O]  problema principal com as agências de notação não está na emissão de opiniões excessivamente negativas. Pelo contrário, o seu problema consiste em serem excessivamente brandas, e de terem sempre um certo atraso na denúncia de riscos de crédito. Foi assim com as empresas que faliram quando rebentou a bolha de 2008, e está a ser assim com a dívida dos PIIGS, que muita gente já tinha identificado como pouco segura. As agências de rating são de facto pouco sérias, mas não pelas razões que os perdulários do costume invocam.

Este problema advém do facto destas agências serem pagas principalmente pelas entidades que são supostas controlar. São as firmas/estados controlados que pagam a estas agências para que dêem opiniões sobre elas, como forma de se mostrarem credíveis para o exterior. Isto faz com que haja o risco das agências de rating se aproveitarem da credibilidade que têm - enquanto a têm, pelo menos, porque quando a perderem deixarão de ser contratadas, pois terão perdido o seu efeito sobre potenciais investidores - para se deixarem comprar por aqueles que controlam, não emitindo opiniões sérias, isto é, suficientemente severas.
Já agora, o que escrevi há uns tempos:
É verdade que existe um fundo por detrás desta desconfiança face as agências de rating - o papel que estas desempenharam antes da crise, dando avaliação de "AAA" a empresas à beira da falência; mas uma fraude "para cima" tem uma dinâmica completamente diferente de uma fraude "para baixo" - a fraude "para cima" beneficia agentes bem definidos (quem está a vender) e prejudica incertos (quem vai comprar); já a fraude "para baixo" prejudica agentes bem definidos (de novo, quem está a vender) e beneficia incertos (quem vai comprar). Ora, o primeiro tipo de fraude faz muito mais sentido, nem que seja porque se sabe a quem se vai cobrar a comissão por aldrabar as contas (já agora, convém notar que o único caso provado de uma instituição financeira internacional ter estado envolvida duma fraude relacionada com a dívida soberana dos PIIGS foi numa fraude "para cima" - a colaboração do Goldman-Sachs na manipulação das contas gregas).

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