Wednesday, September 08, 2010

Somália: o padrão-"papel impresso"

O paper Somalia After State Collapse: Chaos or Improvement?, publicado pelo Independent Institute, contem alguma informação sobre a Somália em 2006 (não sei se se terá alterado muito nos últimos 4 anos).

Uma parte que achei particularmente interessante foi o sistema monetário - com o colapso do Estado, a Somália não regressou ao padrão-ouro, ou mesmo ao padrão-camelo (como os ancaps poderiam esperar), nem a um sistema de moedas locais geridas por um sistema de democracia participativa (como os ansocs poderiam esperar).

O que aconteceu foi que as notas que haviam sido emitidas pelo Estado somali até 1990 continuam a circular, e alguns "senhores da guerra" emitem notas (mais ou menos) idênticas a essas; mas, no caso das notas "novas", só são aceites aquelas que sejam em denominações que já existissem antigamente (isto é, se alguém lançar no mercado notas no valor de "100.000 xelins", ninguém as vai aceitar).

O resultado é que o valor do xelim somali acabou por estabilizar no custo de produção das notas (nesse valor, não compensa imprimir mais notas, já que as notas valeriam o mesmo que custava produzi-las) - em 2001, uma nota de 1.000 xelins atingiu um valor equivalente a US$0,04, que é o custo de produzir uma nota. Desde 2001 até 2006 (quando foi escrito o artigo), não parece ter havido inflação visível na Somalia.

Vendo as coisas de uma certa maneira, isso não será muito diferente do que acontecerá com qualquer dinheiro-mercadoria (seja ele ouro, prata, camelos, sal, cigarros, carapaus em conserva ou cacau) - o valor do dinheiro será determinado pelo preço da mercadoria que lhe serve de base.

[No entanto, creio que há uma diferença entre usar como moeda produtos com uma oferta largamente inelástica - como ouro ou prata - ou produtos com uma oferta largamente elástica - como papel-impresso ou sal; talvez um dos meus próximos posts seja sobre isso] 

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