Thursday, December 10, 2009

A "classe média" II

Vamos lá tentar definir mais "cientificamente" quem é classe média.

De acordo com um cálculo qualquer do Banco Mundial [pdf], o rendimento per capita de Portugal, em 2008, seria de 20.560 dólares. À partida, isso poderia significar que cada português tem, em média, esse rendimento; no entanto, esse valor é calculado dividindo o rendimento nacional pela população total, incluindo as crianças. Os menores de 15 anos são 16,3% da população; se considerarmos que apenas os outros 83,7% têm rendimentos relevantes, podemos considerar que o rendimento médio do português com mais de 14 anos é de 24.563,92 dólares (=20.560/0,837). Convertendo para euros a uma taxa de 1 USD = 0,677 EUR, teremos pouco mais de 16.500 euros por ano, ou cerca de 1.180 euros por mês.

Diga-se que, no ano passado, segundo o papelinho do IRS, eu ganhei 18.682,16 euros, o que me põe ligeiramente acima da média .

Claro que isto não basta para definir a classe média - já se estabeleceu que a média é para aí 16.500 euros/ano, mas qual será o intervalo da classe média? Dos 16.000 aos 17.000?15.000 aos 18.000? 13.000 aos 20.000? Eu inclino-me para que a "classe média" seja entre 10.000 e 23.000 euros por ano (mas a escolha dos 10.000 como limite mínimo deve ser mais fetichismo pelos números redondos que outra coisa qualquer)

Mas, seja como for, não tenho grandes dúvidas em excluir da classe média os rendimentos anuais superiores a 33.000 euros (o dobro do rendimento médio).

É verdade que grande parte dos trabalhadores portugueses terá rendimentos abaixo deste intervalo (10.000-23.000), mas também não é forçoso que a classe média tenha que ser uma percentagem significativa da população, ou que o "português típico" (e ainda menos o "trabalhador típico") tenha que ficar na "classe média" (afinal, a média não é necessariamente igual à moda nem a mediana); aliás, se fossemos pelo esquema fora de moda que vê a "classe média" como o grupo que ocupa a posição intermédia entre os "trabalhadores" e os "capitalistas", quase por definição só uma minoria dos trabalhadores assalariados poderia ser "classe média".

3 comments:

nuno vieira matos said...

Miguel,

No seu raciocínio deveria incluir um índice de preços. 1100 euros no interior é classe média de certeza. Em Lisboa mantenho as minhas dúvidas.

Mais do salário, a classe média deverá ser definida pelo rendimento disponível, isto é (de forma muito simplista) a diferença entre o salário (líquido) e as despesas fixas relacionadas com bens de primeira necessidade.

Anonymous said...

eu também truncaria os 5% mais pobres e os 5% mais ricos e faria a média dos 90% que restavam.

josé manuel faria said...

O que aprecio mais no seu Blogue é a fundamentação, o aprofundamento do argumento, digamos, o perfeccionismo do texto.