Monday, August 17, 2009

Re: "“Therefore, the capitalist order is not natural. "

Começando por citar os pontos alvo:

"3. But capitalism is the condition of dependence on the market for one's very subsistence. Therefore, “the fundamental condition for the existence of a capitalist order is the absence of the individual autonomy in the sense of owing the source of your food,” and of forcing people to seek a monetary source of subsistence. This is not a natural condition, as is owning one's own land, because “People do not search instinctively for a source of monetary revenue.” They do so only because they are forced to do so.

“4. Capitalism is made possible only if this natural process is interrupted by an instrument that makes sure nobody could have access to food and shelter unless a monetary revenue is used as an intermediary.”"

Existem vários problemas com estas afirmações e vários comentários parecem-me necessários:

1- O autor parece considerar "natural" a posse de terra e (supõe-se) o produto do seu trabalho nessa terra. O "capitalismo" no sentido "libertarian" começa pela premissa no igual direito de todos em poder apropriar-se de "terra" sem proprietário e fazer dela sua, ao ocupar e trabalhar nela ("homesteading principle": "mixing is labor with the land" disse John Locke). Uma grande vantagem desta definição é ser intuitiva e resolver problemas de simples ocupação, tipo, a pessoa X (ou o Estado Y) descobre um Continente e considera que o novo Continente passa a ser de X. A premissa da escala humana de ocupação e uso, delimita em muito algumas questões.

2- Assim a posse e/ou a produção tenha lugar, a possibilidade de troca [processo pelo qual duas partes necessariamente ganharão ex-ante (ainda que post-ante possam observar ou vir a considerar que não) assim seja voluntária e não coerciva] de "posses" aparece também como “natural” (a alternativa seria considerar a posse e auto-suficiência como “natural” mas a troca voluntária “não-natural”). A lei das vantagens comparativas (normalmente citada para as trocas internacionais enunciada por Ricardo) aplica-se na realidade à cooperação das pessoas entre si, por exemplo, numa aldeia. A especialização do trabalho (vários tipos de cultura agrícola, construção e reparação de utensílios, etc.) e troca permite aumentar a produtividade geral da aldeia e isso é intuído e evolui "naturalmente".

3- Uma moeda "natural" será apenas um (ou mais) qualquer produto ou material, que as pessoas começam a usar com frequência como meio de troca, sendo que é natural que essa matéria seja algo cuja nova produção não ponha em causa (a produção será apenas uma pequena parte do stock disponível para uso já existente) em termos relativos, de forma significativa, a quantidade de stock existente em cada momento disponível, o ouro e prata, cuja actividade de prospecção começará honestamente pela iniciativa de alguém que culminará na posse de um terreno adquirido por "homesteading principle" (visível na história de novas descobertas). O ouro e prata serão apenas o produto de trabalho de alguém, uma matéria real cujos meios de produção se esperam que tenham sido legitimamente adquiridos e a partir daí sujeita à possibilidade de troca com outras matérias produzidas por outros.

4- A existência de um meio de troca potencia a especialização progressiva do trabalho, decorrente de relações sociais de troca mais complexas (de força de trabalho por exemplo, por uma dada quantidade de ouro ou prata ou outra matéria) e dada a expectativa (sujeita a variações) de fácil subsequente troca por outras coisas.

5- Portanto, eu diria, que, pelo menos na presença de uma moeda "natural" (o ouro e prata só não serão usados hoje em dia porque foram confiscados em larga escala pelos Estados e Bancos e o seu uso proibido), as trocas continuam a ser "naturais" e o capitalismo "natural". A produção de moeda equivale a tomar a posse e trabalhar a terra e a trocar essa moeda por outros produtos.

6- Se hoje a moeda não é "natural", e equivale a títulos virtuais e esvaziados de economia real, que são produzidos a custo zero (ou quase) pelo sistema bancário e Estado (num conluio que tem tanto de consciente como de inconsciente), principalmente para conceder novo crédito sem que seja necessária a poupança física e real desse ouro/prata, e que fomenta os ciclos económicos de bolhas e crises financeiras, e onde a concentração de propriedade pode ser possível pela manipulação não-real dessa moeda "não-natural-não-real", isso deve-se a ausência de capitalismo "natural".

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