Tuesday, September 09, 2008

Re: I rest my case

Henrique Raposo a respeito da festa do Avante:

"ali estava uma rapariga com uma t-shirt de Lénine, o homem que transportou para a Rússia o modelo de estado fascista e que traiu a democracia russa logo no dia a seguir às eleições."

Dizer que Lenine "transportou para Rússia o modelo de estado fascista" parece-me um anacronismo (afinal, o leninismo é historicamente anterior ao fascismo - se ele ainda dissesse que Mussolini transplantou para a Itália o modelo de estado leninista...). De qualquer forma, acho que à diferenças significativas entre o modelo de estado soviético e fascista (e no caso da URSS, é necessário distinguir o que vem de Lenine e o que foi criado por Estaline - sobretudo a direita, que gosta tanto de falar na diferença entre "autoritarismo" e "totalitarismo", devia perceber a diferença entre Lenine e Estaline). P.ex., no seu livro "A Agonia do Regime na Rússia Soviética" (1965; acho que publicado em Portugal em 1967), Michel Garder escreve (cito de memória): "é errado pensar [a respeito da hierarquia do PCUS] que esta é, como a do partido fascista italiano ou a do partido nazi alemão, uma hierarquia paralela à do Estado; não - trata-se da única hierarquia"

No fundo talvez se possa dizer que o modelo fascista é de um Estado forte e centralizado, enquanto o modelo soviético era a de um Estado formalmente fraco e descentralizado colocado sobre a autoridade de um partido único hiper-centralizado (grande parte dos chefes de estado e do governo da URSS são perfeitos desconhecidos; mas quem não reconhece os secretários-gerais do PCUS?). Esta diferença não quer dizer que um seja melhor que o outro; apenas que são modelos de Estado diferentes.

"Já agora, só existe um sítio no mundo onde os comunistas chegaram ao poder através de eleições: um estado (ou dois?) da União Indiana."

Henrique Raposo está se a esquecer de São Marino, onde o Partido Comunista esteve muitos anos no poder (em coligação com os socialistas, mas os comunistas eram o partido dominante); aliás, o derrube do governo de esquerda são-marinense (?) não andou longe de ser uma espécie de golpe de estado.

Claro que tudo isto são detalhezinhos (nem detalhes chegam a ser), mas já que o HR decidiu entrar nos detalhes sobre quando e como os comunistas chegaram ao poder...

5 comments:

JoaoMiranda said...

Os comunistas chegaram ao poder através de eleições em 1936 através das frentes populares, em Espanha e França. Nos anos 30 a frente popular no Chile conseguiu eleger o presidente. O Salvador Allende também foi eleito com o apoio de uma coligação idêntica.

Anonymous said...

e a seguir morto...

Anonymous said...

uma coisa qu eu detesto é pegar na historia e bipolariza la.

os "vermelhos" contra os "brancos" depois vieram os "azuis".

os comunas nao foram todos iguais, nem tem nada a haver com os faxos e os nazis.

Gabriel Silva said...

Em Chipre foi agora eleito um presidente comunista.

Na Nicarágua Daniel Ortega foi eleito democraticamente.

No Nepal os comunistas ganharam as legislativas/constituintes e elegeram o primeiro presidente.

Miguel Madeira said...

Já agora, poderiamos também contar com a União da Esquerda que governou França nos primeiros anos do Mitterrand.

Eu penso que em São Marino os comunistas eram mesmo o partido dominante da coligação, enquanto nos outros casos eram partidos secundários (mas é um "penso" muito relativo - eu não faço ideia de qual era a composição do governo de São Marino, e, ainda por cima, eles não têm um primeiro-ministro mas dois capitães, o que torna ainda mais dificil identificar um partido dominante; mas como há muito que leio e ouço dizer que SM foi o primeiro país a eleger democraticamente um governo comunista e, tal como em Itália, o PC tinha muitos mais votos que o PS, assumo que fosse o partido dominante).

Já agora, poderiamos tambem contar a Moldova (o presidente comunista chegou a ter uns encontros com o Chavez e a falar de uma aliança Venezuala-Moldova-Irão, mas entretanto mudou de campo).

Algumas notas nos casos de Chipre, Nepal e Nicaragua:

- acho que os presidentes de Chipre e do Nepal são supostos terem pouco poder (e nesses paises os comunistas não controlam o governo)

- no caso da Nicarágua, creio que a FSLN nunca se considerou "comunista" (e o PC local apoiou Chamorro contra os sandinistas em 1990)