Wednesday, May 28, 2008

Re: Oligopolismo na Banca

"Em rigor, o que eu queria dizer é quem, em mercado livre e com reservas fraccionais, a banca terá uma tendência à concentração oligopolistica (...) "


Concordo inteiramente. A tendência natural será para no fim existir um único Banco e um Banco Central. Desta forma, sempre que o Banco Central criar 5 000 Euros de nova moeda por compra de Dìvida Pública ou por empréstimo ao Banco Comercial, este tem a capacidade imediata de criar 100 000 Euros de moeda ao conceder crédito (assumo para simplificar uma reserva obrigatória de 5% do valor do total de depósitos o que significa a capacidade de multiplicar a quantidade de moeda por 20).

Aproveito para fazer um esclarecimento necessário dado que a linguagem e as expressões usadas na análise monetária serem muito enganosas.

Dizer que os Bancos Comerciais têm de depositar no Banco Central 5% do valor dos depósitos detidos é hoje em dia uma falácia. O que acontece é que os Bancos Centrais decidem injectar novas reservas (ou nova moeda) no sistema bancário, e depois este mesmo sistema bancário trata de criar moeda por concessão de crédito. Assim tipo:

Situação inicial:

Activo1: Nova moeda criada pelo Banco Central 5000 Euros
Passivo1: Empréstimo pedido ao Banco Central de 5000 Euros à taxa fixada por este (exemplo: 4%)

Situação Final:

Activo1+Activo2: Nova Concessão de Crédito à habitação 100 000 Euros (à taxa de 4% +1%)
Passivo1+Passivo2: Novo Depósito Ordem no valor de 100 000 Euros

Como se pode observar o BC ao conceder crédito ao Banco Único (digamos assim) fornece a matéria prima para que este tenha capacidade de criar nova moeda ao conceder crédito. Sendo um apenas, esta capacidade é imediata. Não sendo único, quanto maior fôr a sua quota de mercado maior a capacidade de reter os depósitos de moeda que ele própria cria ao conceder novo crédito. Se a sua quota fôr muito pequena, é muito provável que o dinheiro criado ao conceder crédito a X, vá parar a Y (o vendedor da casa a X) que vai pedir para o transferir para outro Banco. Ao pedir a transferência para outro Banco, o dinheiro criado mas depois transferido faz com que o rácio de reservas / depósitos diminua aproximando-se do limite mínimo estabelecido (por hipótese 5%).

Bem, tudo isto fica escondido ao dizer-se que os Bancos Centrais "obrigam" (vejam lá os grandes polícias do sector) os Bancos a terem 5% dos depósitos em reservas.

Não, na verdade, um Banco Central é em si mesmo uma entidade do mecanismo oligapolista que permite que os Bancos arranjem mais negócio ao poderem multiplicar por 20 a moeda via concessão de crédito, sem terem que captar nova poupança, com todos os efeitos malignos que isso trás já para não falar no efeito de redistribuição de riqueza a favor dos grandes credores dado serem estes os primeiros gastadores das novas quantidades de dinheiro ainda antes da inflação assim induzida ter começado (além disso a subida de preços nunca é uniforme, começa primeiro em determinados sectores antes de outros, normalmente nesta fase, tal como se pode observar hoje, os políticos vão começar por acusar estes de especulação, de necessidade controlar os preços, etc...já assim foi nos anos 70).

Quem foi o grande instigador da criação do FED em 1913? a JPMorgan, que saiu muito debilitada de uma crise/bolha de crédito na indústria de caminhos de ferro (ela própria uma história de corrupção política dado os licenciamentos por território concederem monopólios locais, etc). Na altura ainda sobre o padrão ouro, os Bancos criavam mais recibos de moedas de ouro do que o efectivamente detido para o concederem como crédito. Como isso fomenta bolhas artificiais, quando rebenta nada melhor que a criação de um Banco Central que passa a permitir de forma ainda mais segura para os Bancos, poderem estes expandir a moeda pelo crédito concedido, minimizando ainda mais a probabilidade de corridas aos depósitos.

Claro que isso apenas representa uma fuga para a frente, como a Grande Depressão o demonstra. A solução foi então acabar de todo a ligação ao ouro, nacionalizando por extorsão todo o ouro que a população tinha depositado. Assim, o Estado controla a produção de papel-moeda que os Bancos têm a capacidade de multiplicar para conceder crédito. O limite é apenas a inflação nominal de preços quando se torna demasiado visível como começa agora a ser visível. O efeito de criação de bolhas (onde muitos capitalistas e grandes empresas conseguem fortunas desde que se aproveitem do crédito criado e saiam a tempo dele) é ainda menosprezado pelos economistas de direita. O efeito de concentração/redistribuição de riqueza é por sua vez menosprezado pela esquerda.

Por sua vez, ter em conta o papel da "WWI". Todos os Estados participantes recorreram ao mecanismo de contrairem crédito ao sistema bancário onde estes o concediam criando recibos sem moeda de ouro. E foi assim o financiamento de uma guerra desastrosa que impulsiona o fim do padrão ouro por decreto (não porque o mercado ou a racionalidade económica o determinou como fica a impressão ao ler os manuais de economia ou de história). Curiosamente a JPMorgan era o maior credor dos Britânicos e aliados, assim a participação dos EUA na "WWI" foi também incentivada pelos mesmos ("war profiteers"...).

Temo que muitos liberais não se apercebam da história de corrupção moral e legal que existe na história da criação dos Bancos Centrais que resultaram também do interesse do próprio Estado em conseguir crédito para a sua dívida pública por criação monetária, por outro lado os próprios economistas ainda hoje fantasiam sobre a possibilidade de expansão de crédito sem que a poupança prévia tenha lugar.

Misticismo económico é o que lhe chamo.

2 comments:

Anonymous said...

"Bem, tudo isto fica escondido ao dizer-se que os Bancos Centrais "obrigam" (vejam lá os grandes polícias do sector) os Bancos a terem 5% dos depósitos em reservas".

Sabe qual é a percentagem de recolhimento no Brasil? 30%!!!!!!!!

Vocês devem ser falizes, não? :)

Anonymous said...

Correção:

Onde leu "falizes" leia "felizes".

"Temo que muitos liberais não se apercebam da história de corrupção moral e legal que existe na história da criação dos Bancos Centrais"

Não é meu caso. Eu sou anarquista. Anarco-individualista de livre-mercado ou, sei lá que raios de rótulo queiram me dar...hehehehhe :)

Muito boa a sua analize, CN. É exatamente isso.