Friday, March 28, 2008

Este post ficava melhor a 20 de Março, mas vai hoje

Há 40 anos atrás:

"A imensa reunião de 20 de Março no Parque Fucik prefigura agora, na minha recordação, Maio de 1968 em Paris. Mas nunca os estudantes franceses tiveram oportunidade de pedir daquele modo contas aos representantes do poder. Sempre hei-de ver diante dos meus olhos aquela tribuna com letreiros onde se liam os nomes de homens e mulheres que tinham pertencido ao Partido único no poder e por ele tinham sido perseguidos, antigos prisioneiros, reabilitados, excluídos da vida publica. E, perante aquela juventude, eles eram obrigados a assumir todo o passado do Partido. Todos os actos cometidos por ele. Aqueles jovens sabiam tudo e não permitiam qualquer habilidade para fugir às questões. Um dos oradores foi assobiado. Tratava-se dum intelectual eslovaco já idoso, chamado Gustav Husac. Deixara transparecer já o seu gosto pelas normalizações..."

"Pela primeira vez, o funcionamento do «Estado Socialista» era revelado ao povo. O que fora sussurrado nos gabinetes almofadados da hierarquia e que custara tantas lágrimas, tantas desgraças privadas e nacionais, tanto sangue também, vinha agora à grande luz do dia. De repente, aqueles jovens viam ser-lhes entregues os meios da sua nação. tinham-lhes roubado ao mesmo tempo a sua pátria e o seu Partido Comunista. Agora reencontravam uma e o outro. Após vinte anos que se pareciam com os anos do fascismo. Podiam eles finalmente meter ombros à construção de uma sociedade socialista após tão longa noite? O debate foi integralmente radiodifundido até às 2 horas da manhã."

"Quatro dias depois, Novotny foi obrigado a demitir-se. Os jornalistas checos não deixavam em paz nenhum dos responsáveis pelos processos forjados nos anos 50. De todo aquele lavar de roupa suja começava a surgir a verdade: o papel decisivo dos «conselheiros soviéticos» fornecidos por Béria; a maneira como o bureau político deliberava sobre as condenações à morte, a derrocada dos estalinistas assemelhava-se aos dos nossos colaboracionistas no tempo da Libertação. os seus esforços para assumirem o mais depressa possível um «rosto humano» aliavam o grotesco ao ignóbil. No entanto, alguns arrependiam-se realmente e mostraram-no sob a ocupação soviética. Eu escrevi num postal dirigido a Picasso: É a revolução."

"E era-o na verdade. A festa, vinte anos depois da revolução oficial, para transformar a propriedade estatal dos meios de produção e de comércio em propriedade efectivamente social, colectiva. Como se faziam eleições na base do partido único, nas secções locias, em vez da simples ratificação habitual dos candidatos do «centro» do Partido, os militantes tinham compreendido que podiam enfim servir-se dos seus direitos. Riscaram os nomes dos patifes e até mesmo, quando eles lá figuravam, os nomes dos timoratos e dos idiotas e inscreveram em seu lugar os daqueles que lhes inspiravam confiança. a instituição do poder encontrou-se democratizada, virada como uma luva. E o processo continuou a todos os níveis de baixo para cima: nos sindicatos, que deixaram de ser oficiais, nas organizações de massa, cujas correias de transmissão também mudaram de sentido".

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