Tuesday, March 11, 2008

Autoridade natural, hierarquia e eleições

Nos comentários ao seu post Autoridade e hierarquia, João Miranda, em resposta a José Manuel Faria, escreve "o que não tem nada a ver com autoridades naturais. As autoridades naturais não precisam de eleição".

Eu não sei bem o que JM entende por "autoridades naturais", mas o Miguel Madeira entende por "autoridade natural" a situação em que A faz o que B diz para fazer porque A acha que B é a pessoa mais qualificada para decidir o que fazer. Por exemplo, quando vamos visitar outra cidade e dizemos a algum amigo local para escolher um restaurante/praia/bar estamos aceitando a sua autoridade natural; ou quando, no trabalho, não sabemos bem como fazer uma coisa e perguntamos a um colega que percebe mais do assunto "P., qual é a melhor maneira de fazer isto?".

Ou seja, para mim, a diferença entre autoridade "natural" e "artificial" é que alguém que tem autoridade natural tem autoridade porque os outros lhe obedecem, enquanto para quem tem autoridade artificial, os outros obedecem-lhe porque ele tem autoridade.

Agora, efectivamente, pode-se dizer que as autoridades naturais dispensam eleições - se alguém tem autoridade porque os outros o seguem espontaneamente, esse alguém não precisa de ter um cargo formal, logo dispensa eleições (ou nomeações, ou sucessões hereditárias, ou qualquer outro método de escolha de cargos formais)*.

Mas, por outro lado, a autoridade formal (i.e., "artificial") menos "artificial" é a que resulta de eleições (pelo menos quando a eleição é unipessoal), já que, em principio, é o sistema que garante que a pessoa que tem poder formal é aquela que mais gente estaria disposta a obedecer mesmo que não tivesse poder formal. Ou seja, as hierarquias formais eleitas são as mais próximas da "hierarquia natural".

*efectivamente, temos casos de pessoas cuja autoridade natural deriva de sucessão hereditária (como a que os Bhutto ou os Ghandhi têm sobre os seus admiradores, mesmo quando não estão no governo), de eleição (como o Papa), etc., o que complica um pouco o esquema

4 comments:

Anonymous said...

1. Autoridade é o mesmo que Hierarquia? Se não for (eu acho que não é, já que esta última pressupõe uma ordem, um escalonamento, enquanto que a autoridade é uma mera definição de alguém que exerce influência sem recorrer à força), a sua conclusão torna-se abusiva.

2. Os casos de autoridades naturais como os Ghandi ou os Bhutto o do Papa, embora de natureza hereditária, seguem a mesma lógica: avaliar os feitos passados e reconhecer-lhes bondade. Reconhece-se (os católicos e quem achar por bem) autoridade ao Papa pois ele representa uma instituição que tem um passado de autoridade, não pela pessoa em si. Ratzinger não tem autoridade natural, mas sim Bento 16. Da mesma forma, a hereditariedade acarreta o simbolismo (místico?) de que a virtude se transmite (via mística ou por educação), e essa vai-se diluindo com o suceder das gerações.

Miguel Madeira said...

E, se em vez de "as hierarquias formais eleitas são as mais próximas da hierarquia natural", eu simplesmente disser "as autoridades formais eleitas serão as que têm mais autoridade natural" (no sentido de terem sido eleitas por terem autoridade natural, não no sentido de terem autoridade natural por terem sido eleitas)?

Anonymous said...

Assim está melhor.

Anonymous said...

Gostaria de saber como é a hiererquia de uma cidade? prefeito, delegado, juiz, quem manda mais?