Tuesday, January 08, 2008

Barack Obama e os racismos americano e europeu

Há quem diga que, enquanto nos EUA, um negro tem fortes probabilidades de ser eleito presidente, na Europa os imigrantes continuam a ter pouco poder politico.

Talvez, mas vamos tentar fazer umas contas, e comparar os negros norte-americanos com os magrebinos em França, p.ex.

Nos EUA, os negros são 12% da população; em França, segundo um estudo de 2004[pdf], a população de origem magrebina seria de 3 milhões de pessoas, o que dá cerca de 5%.

Ou seja, mesmo que o grau de racismo em França e nos EUA fosse igual, a hipótese de um negro ser eleito presidente dos EUA seria mais de o dobro de um magrebino ser eleito presidente francês.

Para agravar a questão, realce-se que os negros estão há muito mais tempo nos EUA que os magrebinos em França (como os minorias étnicas tendem a subir no "sistema" aos poucos, o tempo há que se está no pais é relevante.

Poder-se-à argumentar "porquê contar só os magrebinos? Porque não todos os imigrantes - ou, pelos menos, os não-europeus - em França?"; poderíamos, mas aí teríamos que contar também o conjunto das "minorias" nos EUA (como os hispânicos).

13 comments:

Luís Bonifácio said...

Você considera os negros norte americanos como "estrangeiros", quando na realidade são cidadãos norte-americanos. O facto de gostarem de ser tratados por aquilo que não são, é outra coisa.

Miguel Madeira said...

Também os "magrebinos" (queria referir-me aos franceses de origem magrebina).

Seja como for, isso até reforça o meu argumento - se os "negros americanos" são mais "americanos" do que os "magrebinos" são franceses (e, efectivamente,têm muitas mais raízes), então ainda mais será de esperar que tenham mais poder politico (e social) nos EUA que os magrebinos em França.

Miguel Madeira said...

Ainda que o caso de Obama seja um bocado peculiar, já que aí é efectivamente uma especie de "imigrante de 2ª geração", e não um "negro americano" típico.

Tóchã said...

Relembro que apesar de nascido em frança o presidente frances (sim, de direita) é de ascendecia (pai, julgo) hungara ainda que da "nobre " sociedade. A ex-primeira dama penso que espanhola e a futura italiana.
O sistema aqui já abriu, pelo menos para uma segunda linhagem.

Gabriel Silva said...

acho um bocado esquisito considerar o «voto negro» como algo de unitário.

Porque razão uma percentagem elevada de eleitores norte-americfanos, que apenas se agrupam para efeitos estatisticos de acordo com uma das suas caracteristicas (a cor da pele), haveriam de , por essa mesma caracteristica, ter interesse em fazerem as mesmas escolhas políticas?
Não percebo.

Isso conduziria a que efectivamente o eleitorado norte-americano se reduziria a uma emaranhadod e minorias, pois é uma sociedade demasiado diversa (face a padrões europeus, por exemplo).

Peercebo que por questões de análise, se goste ou seja prático dividir o eleitorado em mulheres, jovens, judeus, evangélicos, pretos, hispanicos, wasp. Mas convenhamos que na pra´tica, no meiod as pessoas reais, tal consiste apenas num tratamento puramente estatitisco, artificial. Com efeito a sociedade americana é bastante mais mesclada do que essas divisões querem indicar.

E o facto de se medir o eventual peso eleitoral dos negros pela sua percentagem relativa do eleitorado, como se fossem um todo, é um puro disparate, pois a ser assim Hilary, «chefe de fila» de um outro «subgrupo» que são as mulheres, teria todas as hipoteses de ser eleita, pois «representa» mais de 50% do eleitorado......
Ora, sabemos que não é assim......

Gabriel Silva said...

peço desculpa pelas gralhas matinais

Miguel Madeira said...

Eu não estava medindo o peso eleitoral dos negros pela sua percentagem do eleitorado (se assim fosse, seria impossivel um negro ser eleito já que nunca teria mais que 12% dos votos).

Estava apenas fazendo um cálculo "se não existisse «racismo» qual a probabilidade do eleito ser um negro?" - como os negros são 12% da população, a probabilidade de o presidente ser negro seria de 12% (enquanto que a do presidente francês ser de origem magrebina seria de apenas 5%).

Da mesma maneira, a probabilidade de o presidente ter olhos azuis deverá ser correspondente à percentagem de norte-americanos com olhos azuis, mesmo que os eleitores não votem em bloco de acordo com a cor dos olhos.

Gabriel Silva said...

hum, então a probabibilidade de o presidente americano (ou de qualquer outro país) ser uma mulher rondaria geralmente os 55%.

Gabriel Silva said...

«Estava apenas fazendo um cálculo "se não existisse «racismo» qual a probabilidade do eleito ser um negro?" - como os negros são 12% da população, a probabilidade de o presidente ser negro seria de 12%»

julgo que a concretizar-se tal «probabilidade», isto é de um candidato negro fazer o pleno dos votos do seu grupo, isso sim, seria a constatação da existencia de racismo.

Miguel Madeira said...

"hum, então a probabibilidade de o presidente americano (ou de qualquer outro país) ser uma mulher rondaria geralmente os 55%".

Pelas minhas contas, 50,8%.

"julgo que a concretizar-se tal «probabilidade», isto é de um candidato negro fazer o pleno dos votos do seu grupo"

Não percebo o que isso tem a ver com o que eu estou a dizer.

quem é que falou em ter "o pleno dos votos do seu grupo"? - na verdade, se um candidato negro fizesse o pleno dos votos do seu grupo e os outros também, a probabilidade de o eleito ser um negro seria quase 0%, não 12%.

Se não haver relação (directa ou indirecta) entre a cor da pele e a possibilidade de ser eleito, aí é que a probabilidade do candidato mais votado ser negro seria de 12%.

Anonymous said...

Bom post.

Realço contudo que a indignação é forte em França nos últimos anos por causa da falta de candidatos/representantes de origem africana.

Anonymous said...

1- Acho que um negro francês de 8ª ou 10ª geração, educado numa família de brancos, num bairro de brancos, em escolas de brancos em comunidades de brancos não teria uma dificuldade acrescida em ser eleito devido ao racismo. Convém distinguir entre racismo e xenofobia.

2- Só num país extremamente racista como os estados unidos um homem com a mesma côr de péle que a maior parte dos algarvios no Verão, cuja mãe é branca como a cal, pode ser considerado "um negro"

3- A pergunta a fazer é se um Chicano-americano, daqueles da Califórnia, odiados por 50% dos americanos, teria mais ou menos hipótese que um Magrebino de ser eleito presidente de uma junta de freguesia branca, quanto mais do país.

Luís Bonifácio said...

Caro Miguel

É evidente que os negros Americano (como um todo) são mais Americanos que os Franceses de Origem Magrebina porque a sua cultura é parte integrante da cultura americana (A música, por exemplo, norte-americana é toda ela de raiz negra talvez excluindo o Country). Em França a cultura Árabe é "externa", porque a França tem mais de mil anos de história própria e porque os árabes de imigração mais recente (25 anos) tomaram uma posição de recusa de aculturação (Miscigenação) e tentam impor a sua cultura à força.
As causas para isto são muitas e variadas.

Voltando a Obama. Os imigrantes mais recente que vêem de África encontram nos EUA uma comunidade negra culturalmente muito forte pelo que não têm hipótese de impôr a sua cultura "africana" integrando-se assim no "mainstream".

Apenas umas palavras para Obama.
Obama é uma lufada de ar fresco na liderança da comunidade negra americana, cuja representação esteve nas mãos de um politico mediocre chamado Jesse Jackson, que baseou a sua politica na imagem de uma comunidade perseguida e sem hipóteses de singrar no "american way". Para Jackson, qualquer negro bem sucedido representava uma ameaça às suas posições. O resultado foi desastroso, pois a comunidade negra foi ultrapassada em importancia económica e posições politicas por outras comunidades recém-chegadas (Asiática e Mexicana) que de uma posição de exclusão passaram, fruto da sua persistência, de uma posição de exclusão para uma posição integrada dentro da sociedade americana.