Friday, November 30, 2007

"Fábrica salva por um euro já factura quase um milhão"

"A fábrica de confecções Afonso-Produção de Vestuário, de Arcos de Valdevez, empresa tomada à força pelas trabalhadoras em Novembro de 2004 para impedir a sua deslocalização para a República Checa, "está de boa saúde e recomenda-se". Actualmente sob a administração de Conceição Pinhão, a funcionária que liderou a luta em prol da permanência da produção em Portugal (e a comprou aos antigos proprietários, simbolicamente, por um euro), a unidade prepara-se para fechar o ano com um volume de negócios de 900 mil euros, quase o dobro do alcançado no primeiro ano de autogestão (500 mil euros em 2005), e com as dívidas liquidadas. "

Há uns tempos falou-se dessa fábrica neste blogue (nomeadamente dos limites em que a acção das trabalhadoras se manteve).

Adenda: ver também os comentários ao post anterior.

The Inheritance of Inequality

Via Brad DeLong, um paper de 2002 sobre a - crescente - hereditariedade de condições sociais nos EUA e sobre as suas possíveis causas (heranças, genes, cultura, etc.).

Tem uma interessante refutação da teoria que a hereditariedade de posição social derivaria fundamentalmente da "inteligência genética" transmitida de pais para filhos - o argumento dos autores é mais ou menos este:

- O efeito observado (directo e indirecto) do QI sobre o rendimento é de 0,27 (parece que há estudos que indicam isso)

- A correlação entre os genes dos filhos e dos pais é algures entre 0,5 e 1 (em principio seria de 0,5, mas facto de pai e mãe terem muitas vezes genes semelhantes - já que tendemos a "acasalar" com pessoas com algumas parecenças connosco - eleva uma bocado o valor)

- A componente genética do QI é menor que 1 (eles assumem, a titulo de exemplo, 0,5, mas há quem diga que é de 0,7)

Assim, se a relação entre o rendimento dos pais e a sua inteligência é de 0,27, se a relação entre a inteligência dos pais e o seu potencial genético for de 0,7, se a relação entre os genes dos pais e dos filhos for de 1 (isto é uma hipótese extrema - andará entre 0,5 e 1), se a relação entre o potencial genético dos filhos e o seu QI for de 0,7 e a relação entre o QI e o rendimento de 0,27, temos que a relação entre o rendimento dos pais e dos filhos (se a transmissão genética da inteligência fosse o único factor explicativo) seria de 0,036 (0,27*0,7*1*0,7*0,27); os autores calcularam 0,01, já que assumiram um efeito genético sobre o QI de 0,5. De qualquer forma, a correlação real entre o rendimento de pais e filhos é muito maior que esse valores, logo a hereditariedade da inteligência explica apenas uma pequena fracção do fenómeno geral da "hereditariedade das desigualdades".

A democracia(?) venezuelana

Penso que a questão "a Venezuela é uma democracia?" está à beira de solução.

Se o "Sim" (não me perguntem qual é a diferença exacta entre o "Sim-Sim" e o "Sim-Não") ganhar, o reforço dos poderes presidenciais equivalerá a uma ditadura virtual (o presidente poderá nomear vice-presidentes para as províncias, ultrapassando os governos eleitos; poderá suspender a liberdade de imprensa e as garantias processuais, se proclamar o estado de emergência, etc.). Ou seja, mesmo que hoje a Venezuela seja uma democracia, dificilmente o continuará a ser na segunda-feira.

Inclusivamente por uma razão: em caso de vitória do "Sim", haverá sempre alas da oposição que irão gritar "fraude!" (haja ou não fraude) e daí aos tumultos de rua será um saltinho; nesse clima de instabilidade, é natural que seja proclamado o estado de emergência, e daí, das duas uma:

- Ou Chavez passa a governar sob uma espécie de lei marcial (ou seja, uma ditadura de facto, ainda que originalmente eleito)

- Ou os sectores conservadores do exército, nessa situação, afastam Chavez e assumem o poder e, aí, temos uma ditadura às claras

Assim, provavelmente a escolha será entre duas ditaduras: ou uma ditadura populista-nacionalista, à maneira de Perón, Velasco Alvarado ou dos primeiros tempos do PRI mexicano, ou uma ditadura oligárquica-reaccionária, à maneira de Pinochet, Castillo Armas ou dos militares brasileiros de 1964.

Por outro lado, se ganhar o "Não", aí a questão está resolvida: a Venezuela é, sem dúvida, uma democracia (já que isso significará que as eleições são suficientemente livres e justas - caso contrário, como poderia o "Não" ganhar?).

Thursday, November 29, 2007

Democracias iliberais e ditaduras liberais

Há tempos, nos blogues portugueses, houve alguma discussão acerca de "democracias iliberais" vs. "ditaduras liberais" (penso que se originou neste post da Esquerda Republicana).

Independentemente da preferência que se pudesse ter por uma coisa ou outra, acho que é uma falsa opção: parece-me que a única alternativa realista a uma democracia "iliberal" é uma ditadura... iliberal!

Porquê? Porque qualquer ditadura que surja como alternativa a uma "democracia iliberal" terá a oposição de grande parte (ou mesmo da maioria) da população (se não fosse esse o caso, não seria preciso a ditadura, para começar...). Ora, um regime que enfrente uma oposição dessa magnitude só se poderá manter através de uma repressão impiedosa, pelo que dificilmente poderá ser "liberal" (claro, um regime globalmente "iliberal" poderá ser liberal nalgumas coisas, como Pinochet - liberal na economia - ou o governo comunista do Afeganistão - que era "liberal" nos direitos das mulheres).

[desconfio que isto das democracias iliberais e das ditaduras liberais ainda vai dar muito que falar]

Inferno de Dante

Segundo este teste, o círculo do Inferno a que estou destinado (é o sexto, destinado aos heréticos):

The wretched King Minos has decided your fate. His tale wraps around his body 6 times.

The sweet light no longer strikes against your eyes. Your shade has been banished to... the Sixth Level of Hell - The City of Dis!

Sixth Level of Hell - The City of Dis

You approach Satan's wretched city where you behold a wide plain surrounded by iron walls. Before you are fields full of distress and torment terrible. Burning tombs are littered about the landscape. Inside these flaming sepulchers suffer the heretics, failing to believe in God and the afterlife, who make themselves audible by doleful sighs. You will join the wicked that lie here, and will be offered no respite. The three infernal Furies stained with blood, with limbs of women and hair of serpents, dwell in this circle of Hell.

Tuesday, November 27, 2007

Re: Insucesso e abandono escolar

Num comentário, Zé da Burra faz algumas observações sobre "Insucesso e abandono escolar".

Eu até não discordo de todos, mas há dois de que discordo bastante (ou seja, discordo da discordância):

"3) As faltas ocasionalmente dadas pelos alunos às aulas não devem contar para a passagem ou não de ano"

E que mal vem ao mundo se os alunos faltosos passarem de ano, se forem aprovados num exame feito no fim (que, creio, é o que está na mesa neste momento)?

Aliás, até é paradoxal que, em regra, as pessoas que mais reclama dessa medida sejam as mesmas que mais defendem a avaliação por exames em detrimento da avaliação continua. Ou seja, para umas coisas, os exames é que são bons, e para outras já é "facilitismo"?

"6) Reduzir o número de exames a que os jovens estão sujeitos. Dentro de poucos anos pretende-se mesmo eliminá-los, ficando os jovens com a garantia de que ao fim dos 12 anos de escola obtêm o 12.º ano de escolaridade."

Mesmo que os exames fossem eliminados, os jovens não ficariam com "a garantia de que ao fim dos 12 anos de escola obtêm o 12.º ano de escolaridade".

Eu, pessoalmente, entre a 1ª classe e 12º ano, só tive UM exame (a Português do 10º/11 ano, a que tinha reprovado) e grande parte dos meus colegas não tiveram NENHUM (PGA não conta, já que não se destinava à avaliação), e tenho dúvidas que a minha (nossa) formação tenha ficado particularmente prejudicada com isso.

Até seria interessante fazer um exercício: comparar as notas das "provas especificas" do meu tempo com as notas dos exames do 12º ano dos últimos tempos (ou seja, comparar a geração que não fez exames - além dos de entrada na faculdade - com as que passaram a vida a fazer exames). Se, efectivamente, os exames são assim tão bons (face à "avaliação contínua"), será de esperar que os estudantes de agora tenham notas muito melhores das que nós tínhamos... (aviso desde já que não faço ideia de qual seria o resultado desse estudo).

Venezuela, outra vez

Via O Insurgente, chego a este video no Cartas para Sakhalin, onde o apresentador mostra a contradição entre o que Chavez prometeu há uns anos e o que está a fazer actualmente.

Não é muito claro quando o vídeo foi feito (refiro-me ao vídeo, não ao "vídeo dentro do vídeo", que foi feito em 1998, pouco antes da primeira eleição de Chavez) e se passou na televisão ou apenas existe em vídeo. No entanto, as referencias à não-renovação da concessão do canal aberto à RCTV parecem indicar que é recente, e tem todo o ar de ser um programa exibido na televisão.

Se for, tal parece indicar que a Venezuela ainda não é uma ditadura - não é costume, nas ditaduras, canais de televisão passarem peças a denunciar as falsas promessas dos governantes.

Por outro lado, se ganhar o "Sim", teremos uma situação em que a proclamação do estado de emergência - que é da competência do presidente - significará a suspensão da liberdade de imprensa, ou seja, daqui a uma semana, talvez Chavez tenha poderes para proibir as televisões de o criticarem - será só aproveitar uma oportunidade e proclamar o estado de emergência (por outras palavras, talvez falte pouco tempo para a Venezuela ser uma ditadura).

Mais uma nota: acerca da polémica permanente entre o André Azevedo Alves e o Daniel Oliveira sobre a Venezuela; é que a mim parece-me que, quando um diz que há um "processo de instauração da ditadura" e o outro diz que ainda não é uma ditadura mas "que que se os venezuelanos não puserem um travão em Chávez isso mudará", no fundo estão a dizer basicamente a mesma coisa, não?

Venezuela - depois do cravo, a ferradura

O facto de um texto como este ser publicado, e num "portal" (o Aporrea) predominantemente "chavista", não será a prova que a Venezuela (ainda?) não é uma ditadura?

(Mais) uma visão de esquerda sobre a nova constituição venezuelana

"En defensa de la soberanía y de los trabajadores, votamos por el NO - Venezuela y la Reforma Constitucional", texto da "União Socialista dos Trabalhadores" (este é que acho que é mesmo "a FER venezuelana").

Uma passagem:

LA REFORMA CONSTITUCIONAL QUITA DERECHOS Y AMPLIA LOS ELEMENTOS BONAPARTISTAS

a) Restringe la posibilidad de los referendos al aumentar el porcentaje de participación de los electores. Todos los referendos pasarán a exigir una mayor participación de electores, disminuyendo de esa manera, la posibilidad de participación popular. Vean los cambios:

Tipo de Referendo Constitución de 1999 - % de participación de electores Reforma Constitucional - % de participación de electores
Referendo Consultivo
10 20
Solicitud de Referendo Revocatorio
20 30
Referendo Revocatorio
25 40
Referendo Aprobatorio
25 30
Referendo para abrogar leyes
10 30
Referendo para abrogar decretos leyes que dicte el Presidente
5 30

b) El Presidente podrá designar el Primer Vicepresidente y los Vicepresidentes que estime necesario: En la Constitución vigente, el Presidente de la República tiene la potestad de nombrar al Vicepresidente Ejecutivo. En la nueva Constitución además de mantener esa figura que ahora se llamará Primer Vicepresidente, el Presidente de la República podrá nombrar Vicepresidente, cuando estime necesario, que actuarán en el ámbito de las regiones. (Articulo 225). Eso significa que donde el Gobierno pierda las elecciones Estadales, el Gobierno seguirá ganando pues podrá nombrar sus Vicepresidentes contra la voluntad popular. En la actualidad el chavismo controla 21 de los 23 Estados. Pero en el próximo año habrá elecciones y no se descarta la posibilidad de que las masas cansadas de gobernadores ineptos opten por el cambio. Donde haya cambios, el chavismo seguirá mandando, ahora no con sus gobernadores, pero con esa figura anómala creada por la nueva constitución denominado Vicepresidente. En síntesis la voluntad de cambio de la población, al no empalmar con los designios del bonapartista Chávez, será castigada con la presencia de esos nuevos personajes. Este engendro, según dicen los que frecuentan Miraflores, es una contribución de la estalinista Martha Harnecker y su "enfant terrible" Haiman El Troudi, ambos del círculo de asesores más cercano del presidente.


c) El Presidente podrá decretar Regiones Militares Especiales: Una de las grandes novedades de la Reforma Constitucional propuesta por Hugo Chávez es la creación de las regiones estratégicas de defensa y podrá decretar autoridades especiales. El articulo 11 dice: "El Presidente podrá decretar Regiones Estratégicas de Defensa a fin de garantizar la soberanía, la seguridad y defensa en cualquier parte del territorio y espacios geográficos de la República. Igualmente, podrá decretar autoridades especiales en situaciones de contingencia, desastres o cualquier otra que requiera la intervención inmediata y estratégica del Estado"

Recientemente en la huelga de los trabajadores de Toyota, en Cumaná, según el gobernador local, el Ministro del Trabajo pidió autorización para enviar tropas de la FAN, para acabar con la huelga. Ahora, ya no será necesario pedir permiso al gobernador, bastará decretar la zona como Región Estratégica de Defensa. Los que han vivido la despiadada represión ilegal en febrero de 1989, con más de 3.000 muertos, ahora podrán verla de nuevo, pero ya no como algo ilegal, y sí con rango constitucional. Pero ¿Quién dará rango constitucional para la represión? ¡El Socialismo del Siglo XXI, la llamada revolución bonita!

d) Los estados de excepción (articulo 337), se mantiene la redacción anterior que dice: "podrán ser decretados por el Presidente y Consejo de Ministros, en las circunstancias de orden social, económico, político, natural o ecológico, que afecten gravemente la seguridad de la Nación, de las instituciones y de los ciudadanos" . Pero hay un cambio significativo en los derechos individuales. En la actual Constitución se dice: "En los estados de excepción (no) podrán ser restringidas el derecho al debido proceso, el derecho a la información y los demás derechos humanos intangibles". En la propuesta de reforma Constitucional planteada por el chavismo desaparece los llamados: derechos humanos intangibles. Vean la nueva redacción: "En los estados de excepción (no) podrán ser restringidas la desaparición forzosa, el derecho a la defensa, a la integridad personal, a ser juzgado por sus jueces naturales y a no ser condenado a penas que excedan los treinta años"

e) El Presidente promueve a los oficiales de la Fuerzas Armadas Bolivarianas (FAB) en todos los grados y jerarquías: En la actual Constitución son atribuciones y obligaciones del Presidente de la Republica el de promover sus oficiales a partir del grado de Coronel o capitán de navío. En la nueva constitución se amplia el poder, pues ahora le toca "promover a los oficiales en todos los grados y jerarquías".

Ainda acerca da "sociedade do conhecimento"

Outra coisa que é frequente - com excepções - dizer-se a respeito da "sociedade do conhecimento" (ou da "economia do conhecimento", ou da "nova economia", ou o nome que estiver na moda na altura) é que exige pessoal "altamente qualificado" (fala-se muito em "vencer a batalha das qualificações" e coisas assim).

Mas que qualificações são precisas para mexer num computador? A maior parte das aplicações informáticas são perfeitamente acessiveis a uma pessoa com a 4ª classe (é verdade que é preciso aprender a mexer na aplicação, o que pode lever alguns meses, mas raramente é preciso algum conhecimento prévio - nomeadamente escolar - por aí além).

Se pensarmos, não nos utilizadores, mas nos programadores, aí já será preciso um bocadinho mais de habilitações (nomeadamente, dá jeito dominar numeros fraccionários e negativos), mas não muito - acho que uma pessoa com o 7º ano está mais que habilitada a aprender uma linguagem de programação.

Então porquê tanta insistência nas "qualificações"? Penso que é porque os gurus que falam na televisão e nos jornais, por regra, estão ao serviço de um projecto politico (seja ele qual for), e a conversa "é preciso profissionais qualificados para mexer nas novas tecnologias" é mais passivel de utilização "politica" do que a conversa "uma pessoa com a quarta classe domina um computador em três tempos":

- à esquerda, serve para defender um maior investimento estatal na educação e na formação profissional (e, devido à relação entre a pobreza e o insucesso escolar, um maior investimento em politicas sociais em geral)

- à direita, serve para justificar as desigualdades socias crescentes, com o argumento de que, como o trabalho qualificado é mais necessário, é natural que a diferença salarial aumente

Já a posição "uma pessoa com a quarta classe mexe num computador" dificilmente vejo como possa servir de base a um discurso politico (só se for usado na defensiva, para refutar o discurso adversário).

Greves e "trabalhadores do conhecimento"

Há algum tempo que se diz que, no futuro dominado pelos "trabalhadores do conhecimento", não haverá muito lugar para greves e sindicatos.

Não é muito claro o que "trabalhadores do conhecimento" quer dizer, mas se significar trabalhadores que têm que inventar coisas em vez de se limitarem a executar, então os argumentistas da televisão norte-americana seriam um bom exemplo (logo, a tese do declinio das greves e sindicatos está refutada).

Aliás, isto não é nada de novo - já no século XIX, os primeiros grupos profissionais a se sindicalizarem foram aqueles com profissões mais qualificadas e com uma maior tradição de autonomia no trabalho (p.ex., os relojoeiros suiços).

Sunday, November 25, 2007

25 de Novembro

Durante muito tempo, circularam duas versões sobre o "25 de Novembro" - a extrema-esquerda dizia que tinha sido um (vitorioso) golpe de direita; a direita e o centro diziam que tinha sido um (fracassado) golpe de esquerda.

No entanto, nos últimos anos, entre a direita começou a ser moda comemorar o 25 de Novembro como a data do "inicio da democracia em Portugal" (ou coisa parecida).

Ora, parece-me que, com isso, acabam, paradoxalmente, por dar razão à extrema-esquerda - se o "25 de Novembro" tivesse sido apenas um golpe "esquerdista" derrotado, não havia razão para a direita o considerar uma data digna de grandes comemorações (os republicanos comemoram o 5 de Outubro, não as datas das fracassadas revoltas monárquicas) - quando muito seria de esperar que a direita comemorasse era mas a Assembleia do MFA em Tancos (em Setembro), que afastou Vasco Gonçalves (e, na prática, o PCP, que ficou reduzido a um ministro) do governo.

Ou talvez seja como o Jaime Neves diz ("a verdade está aí pelo meio").

Saturday, November 24, 2007

Venezuela, "mas", "ferraduras", etc.

Como seria a reacção do pessoal que tanto critica os "mas" e os "cravos e ferraduras" nas análises sobre a Venezuela neste cenário hipotético:

Imagine-se que a principal (em termos de força social) oposição ao projecto constitucional de Chavez era, não a do centro e da direita, mas a do "Movimento para a Construção do Partido dos Trabalhadores" (politicamente, está uns milímetros à direita da Ruptura/FER portuguesa), que o acusa de "preservar a propriedade privada e o estado burguês" e que defende que "todos os meios de produção e serviços estratégicos sejam expropriados e postos sob o controle democrático dos trabalhadores", que "os trabalhadores e o povo assumam directamente o poder através de um grande Conselho Nacional Operário, Comunitário e Camponês" e que a nova Constituição seja elaborada por "uma nova Assembleia Popular Livre e Soberana com delegados dos trabalhadores, camponeses, comunidades, estudantes, soldados...".

Ou então, que eram os anarquistas, que consideram que o objectivo da reforma constitucional é consagrar "a propriedade mista entre o Estado e o capital privado [e assim] entregar a soberania às multinacionais e aos governos estrangeiros"[pdf].

Imagine-se que o Estado "chavista" recorria à repressão contra a oposição pela esquerda (como tem feito).

Como é que atlanticos, insurgentes, blasfemos e afins comentariam uma situação dessas? Aposto que também seria muito no formato "o lado A é mau, mas o B também não é melhor".

Thursday, November 22, 2007

Mais um gráfico do preço do petróleo (II)

Seguindo vagamente a sugestão de A.A.Alves, um gráfico do preço do petróleo em função do valor do salário minimo português (feito multiplicando o preço em dólares do petróleo pelas cotações do euro e do escudo).
A forma optimista de ver o gráfico é que o petróleo está a metade do preço que já chegou a estar.

A forma pessimista é que só no periodo 78-85 (com o segundo choque petrolifero e duas intervenções do FMI) é que o petróleo esteve mais alto que agora.

Wednesday, November 21, 2007

Análise aos exames do secundário, por disciplina

Entretanto, estive a calcular a regressão para cada um dos exames - com a excepção dos de "Francês (iniciação -bienal)" e de "Inglês (iniciação -bienal), que não têm alunos suficientes para isso; também para o exame de Latim o cálculo revelou-se inconclusivo (nenhuma variável era significativa). Para as disciplinas com mais exames, deu-me estes resultados:


C Privado poder compra Interno Fase Para Melhoria Para Ingresso Sexo Idade
E_Portugues639 98,14 3,01 0,02 17,43
4,77 3,80 6,86 -0,80
E_Matematica 55,29 4,48 0,15 32,77
21,78 20,85 -2,93 -1,2
E_BiologiaGeolo 118,64 7,02 0,07 2,28 -4,89 12,92 12,84 -1,77 -2,82
E_FisicoQuimica 74,51 7,73 0,12 11,81 15,30 28,39 14,82
-3,48
E_Biologia 109,94
0,08 -6,98 -8,51 27,99 16,97
-1,15
E_Geografia 91,02 6,43 0,07 10,45 -4,52 11,44 5,08 -7,89 0,29
E_Economia 68,16 4,86 0,08 17,89 3,88 9,34 11,55 -2,01
E_Psicologia 97,07 2,47 0,06 1,69 -13,30 19,20 12,23 8,19 -0,47
E_Historia 51,16 3,06 0,09 19,51 2,59 8,69 18,58 -11,08
E_Quimica 86,66 5,55 0,10 -10,12 2,27 37,17 27,69 2,17 -1,93

Para começar, noto que, com a excepção de Português e Matemática (os dois exames com mais examinados), em todos a variável "Fase" é significativa; e, com poucas excepções (como Fisico-Quimica), é significativa para baixo (e esta tendência é muito mais forte no conjunto das disciplinas). Na verdade, o que suspeito é que a "Fase" é mais um sintoma que uma verdadeira variável explicativa: não é por fazerem o exame na 2ª fase que as notas são piores - são os alunos pior preparados que irão desproporcionadamente à 2ª fase (talvez para terem mais tempo para estudar). Ou seja, se se quiser comparar resultados entre escolas e perceber porque a escola A tem melhores resultados que a B, talvez não seja boa ideia concluir algo estilo "os resultados da B são piores porque mais exames foram na segunda fase"; provavelmente é ao contrário - é por os resultados serem piores que mais exames são feitos na segunda fase.

Como o Tiago Mendes esperava (e também eu), a variável "Sexo" é positiva para Português - ou seja, as raparigas têm melhores notas que os rapazes (e o efeito é mais forte que o efeito oposto em Matemática); confesso que os resultados para História (onde as raparigas tendem a ter menos 1 valor e uma décima que os rapazes) me surpreenderam.

Sinceramente, não percebo a diferença entre os parâmetros estimados para Matemática com os que eu tinha calculado antes (ver a primeira regressão, que tem sensivelmente as mesmas variáveis). Eles são quase idênticos, mas o referente à "escola privada" é mais reduzido (4,48 décimas de valor em vez de 6,07); será consequência de, neste estudo global, eu não ter incluido o "nº de exames" como variável?

Os resultados para todas as disciplinas:


C Privado poder compra Interno Fase Para Melhoria Para Ingresso Sexo Idade
N R2 R2' F
E_Filosofia 115,93



10,44

-0,40
1.712 0,01 0,01 7,06
E_Portugues 100,35 -9,11

-4,39 10,91 15,77 4,47 -0,89
2.028 0,05 0,05 17,00
E_Psicologia 97,07 2,47 0,06 1,69 -13,30 19,20 12,23 8,19 -0,47
14.508 0,10 0,10 205,12
E_Portugues239 101,92

56,22





46 0,21 0,19 0,92
E_GeomDescritiv 91,83
0,07 -6,63 -4,18 34,59 27,97 -4,81 -0,87
2.392 0,10 0,10 38,40
E_Alemao501 213,34

-24,73



-3,47
478 0,05 0,04 11,84
E_Frances517 98,09
0,13 -9,82

10,26 10,68

471 0,05 0,04 6,13
E_Espanhol547 168,98


-17,09




270 0,04 0,04 -
E_Ingles550 137,52

-43,53 -5,91
30,31
-0,73
989 0,06 0,06 15,91
E_Biologia 109,94
0,08 -6,98 -8,51 27,99 16,97
-1,15
20.065 0,18 0,18 713,83
E_Fisica 59,08
0,06 14,85 -5,13 12,37 13,50 -4,17 -0,91
3.422 0,15 0,14 82,85
E_Geologia 125,18
0,05 11,88 -13,87 16,11 7,03 -4,49 -1,86
2.960 0,16 0,16 81,34
E_Historia 51,16 3,06 0,09 19,51 2,59 8,69 18,58 -11,08

13.746 0,09 0,09 202,58
E_Portugues639 98,14 3,01 0,02 17,43
4,77 3,80 6,86 -0,80
75.897 0,10 0,10 1.263,72
E_Quimica 86,66 5,55 0,10 -10,12 2,27 37,17 27,69 2,17 -1,93
9.623 0,24 0,24 372,00
E_Alemao701 83,79
0,17
-10,53
31,01


484 0,08 0,07 13,62
E_BiologiaGeolo 118,64 7,02 0,07 2,28 -4,89 12,92 12,84 -1,77 -2,82
54.166 0,06 0,06 401,08
E_Informatica 361,55 10,53 -0,04



-15,94 -14,52
1.429 0,16 0,16 67,81
E_Desenho 125,07 -3,90 0,09 9,28



-0,96
5.643 0,03 0,03 48,48
E_GeometriaDesc 130,26 9,30 0,17 22,37 -13,82 30,72 16,06 -6,14 -4,14
7.955 0,11 0,11 126,93
E_Economia 68,16 4,86 0,08 17,89 3,88 9,34 11,55 -2,01

15.168 0,09 0,09 221,59
E_Filosofia714 105,61
0,12
8,84


-1,78
3.438 0,06 0,06 73,07
E_FisicoQuimica 74,51 7,73 0,12 11,81 15,30 28,39 14,82
-3,48
53.768 0,17 0,17 1.589,50
E_Frances717 300,52






-9,49
25 0,03 0,02 -
E_Geografia 91,02 6,43 0,07 10,45 -4,52 11,44 5,08 -7,89 0,29
17.768 0,05 0,05 121,32
E_HCArtes 53,24
0,11 14,69
10,03 15,02 6,30

3.250 0,07 0,07 46,31
E_Latim732 238,61

25,36 -25,77


-7,35
489 0,28 0,27 61,94
E_Literatura 133,23 7,93

-15,53 20,98
7,80 -1,38
845 0,09 0,09 17,07
E_Matematica735 66,51 16,10 0,06 10,31 6,81 35,03 18,67 -5,33 -1,57
8.724 0,09 0,09 108,05
E_Espanhol747 130,71

12,34 -15,58
13,99 11,39

150 0,15 0,12 6,30
E_Frances817 134,58 -10,87
14,95 -12,39 17,32

-1,51
973 0,13 0,13 29,05
E_Matematica835 148,57 9,43 0,14 23,01
11,19 5,17
-4,54
8.694 0,14 0,14 230,94
E_Ingles850 117,09
0,14 -18,64 -19,30
31,71
-1,07
1.048 0,09 0,08 12,03
E_Matematica 55,29 4,48 0,15 32,77
21,78 20,85 -2,93 -1,2
65.491 0,19 0,19 2.203,02

A "legenda" para saber a que disciplina corresponde cada exame está no fim deste post
.