Sunday, September 30, 2007

Solidariedade com a Birmãnia

Petição às Nações Unidas e ao presidente da China (o rpincipal apoiante da Birmânia) para que façam parar a repressão.

[Duvido que o Presidente chinês vá ligar muito, mas pronto, também não custa nada subscrever]

Seringas nas prisões

No Diário de Noticias, Alberto Gonçalves escreve "no que respeita às seringas nas prisões, o Estado estará, no limite, a fornecer ao heroinómano os meios para que continue a cometer o crime pelo qual foi condenado."

Atendendo a que o consumo de droga não é punido com prisão (apenas com multa, apreensão de objectos, proibição de andar em más companhias, etc.), de certeza que já ninguém está na prisão por se injectar (logo, alguém que se injecte na prisão não está a cometer o crime pelo qual foi condenado). Admito que Alberto Gonçalves se esteja a referir aos presos que foram condenados por fazerem assaltos armados com seringas, mas não sei se haverá muitos assaltos nas prisões (logo, que esses presos usem essas seringas para voltar a "cometer o crime por que foram condenados").

Marxismo e "regiões longinquas a tremer de frio"

No blogue da Atlântico, Bernardo Pires de Lima escreve "O marxismo é que jamais seria conivente com Sócrates. Aliás, a esta hora, Sócrates já estaria num região longínqua a tremer de frio. Se estivesse vivo, claro."

BPL poderia explicar em que parte da teoria marxista se fala em deportações para "regiões longinquas"? Em que livro de Marx ou Engels tal é abordado? Recorde-se que BPL apenas fala em "marxismo" (não em "leninismo", "luxemburguismo", "trotskismo", "estalinismo", "bordiguismo", "maoismo, etc.).

Recordando o passado

Alien and Sedition Acts, uma série de leis aprovadas nos EUA nos tempos de John Adams e Alexander Hamilton, alegadamente para proteger os EUA das acções da marinha francesa (nesse tempo, a França revolucionária estava em guerra com as monarquias europeias e o governo Federalista norte-americano simpatizava com estas, enquanto a oposição Republicana-Democrata - o actual Partido Democrático - simpatizava com a França).

Entre outras coisas, estas leis declararam ilegal "escrever, imprimir ou publicar" qualquer critica ao Presidente ou ao Congresso (criticas ao Vice-Presidente - cargo que era ocupada por Thomas Jefferson, da oposição - continuaram a ser legais). Também atribuiam ao Presidente poder para deportar qualquer estrangeiro que considerasse "perigoso".

Esta legislação suscitou grande oposição, e 1800-1801, quando Jefferson derrotou Adams nas eleições, todas as pessoas presas ao seu abrigo foram perdoadas e libertadas.

Os Estados prisionais

Número de presos por 100.000 habitantes (extracto; dados de 2006):


1014____Texas (in 1999) (governor George W. Bush)
1013____Louisiana (2001)
715_____United States of America (2001)
584_____Russian Federation
554_____Belarus
487_____Cuba
416_____Ukraine
402_____South Africa
388_____Singapore
267_____Namibia
253_____Tunisia
248_____Taiwan
210_____Poland
204_____Chile
194_____Iran
189_____Hong Kong (China)
178_____Czech Republic
177_____Greenland (Denmark)
176_____Jamaica
174_____Israel
173_____Libya
169_____Brazil
169_____Mexico
161_____New Zealand
158_____El Salvador
146_____Lebanon
142_____United Kingdom: England & Wales
129_____Portugal
126_____Colombia
125_____Republic of (South) Korea
121_____Egypt
119_____China
116_____Canada

Saturday, September 29, 2007

Informação sobre a Birmânia (II) - blogs locais

ko htike's prosaic collection

Burmese Daze

dawn_1o9's Xanga Site

Como a ligação informática da Birmania ao resto do mundo costuma ser desligada, imagino que estes blogs possam ficar facilmente desactualizados - apenas o primeiro tem entradas de dia hoje, 29 de Setembro.

Informação sobre a Birmânia

Lutas laborais na India e leis "anti-xenofobia"

Na cidade indiana de Bangalore, vários grupos locais têm tentado denunciar as más condições de trabalho numa fábrica de vestuário local (tendo feito essa campanha, não apenas na India, mas também estabelecendo contactos com activistas no Ocidente). O tribunal local proibiu-os de continuar a sua campanha e não ficou por aí - lançou um processo contra 7 apoiantes da campanha na Holanda, alegando, entre outras coisas, que criticar as condições de trabalho nas fábricas na India era uma "actividade xenófoba e racista".

No geral concordo com este comentário do Molly'sBlog:

Molly Note:
If the reader looks again at the list of charges he or she will notice the "racist and xenophobic" part. Molly has always opposed any and all laws putting limits on freedom of speech no matter what their "good leftist, progressive intentions". Far too many so-called leftists see nothing wrong with such attempts to legislate social morality and in fact are quite supportive of them. If, however, you fail to see the immorality of such laws you might be persuaded that they are a bad idea because they provide ever ready tools for others to use for purposes that you don't agree with. The actions of the Indian courts are hardly the only example or even the last of 10,000 examples from across the world. In other words if you can't support freedom from the basis of morality you might consider supporting it from the basis of practicality.

[No entanto, convém distinguir entre leis punindo discursos racistas - às quais, em principio, sou contra - com leis punindo mais severamente crimes cometidos com motivação racista: aí, já acho que faz sentido punir mais severamente um assassínio ou uma agressão se forem feitas com motivação racial, seja quias forem as raças envolvidas]

Uma análise de classe às eleições no PPD/PSD

O candidato do "pequeno capital" (Menezes) derrotou o candidato da aliança entre o "grande capital" e a "classe média" (Mendes).

Os representantes puros e duros do "grande capital" (Borges, Ferreira Leite e as "terceiras vias") ficaram a ver.

As coisas parecem estar a aquecer na Venezuela

Herido de bala trabajador petrolero en Anzoategui en movilización en defensa del contrato colectivo petrolero

El hecho sucedió la mañana de este jueves 27 del corriente mes, cuando los trabajadores petroleros del estado Anzoátegui se movilizaban hacia el edificio de la Corporación Venezolana de Petróleo (CVP), que agrupa a las empresas mixtas, para hacer entrega de su reclamaciones, exigencias y opiniones sobre las discusión del contrato colectivo petrolero al ministro Rafael Ramírez, quien haría acto de presencia en esta entidad. Los trabajadores fueron reprimidos por la policía del estado Anzoátegui con bombas lacrimógenas y balas, con el lamentable resultado de un trabajador herido de bala por la espalda, no se sabe el estado de salud actual del compañero trabajador pero se tiene conocimiento, que al momento del traslado al centro de asistencia medica iba en condiciones delicadas.

Ante este hecho abominable, al mejor estilo represivo de la Cuarta República, los trabajadores petroleros del país, exigimos al Ministro de Interior y Justicia Pedro Carreño, que de una explicación al respecto ya que como él mismo señalaba en recientes declaraciones a los medios de comunicación nacional que “la política de gobierno venezolano en materia de seguridad no podía ser represiva”, porque sí lo es para con los trabajadores que se movilizan en defensa de sus derechos elementales como el de gozar de un contrato colectivo digno.

Entre tanto los trabajadores petroleros de Anzoátegui, hacen un llamado al resto de los trabajadores al servicio de la industria y demás sectores del aparato productivo privado y al servicio del Estado, a movilizarse en repudio a este tipo de acciones represivas, contrarevolucionarias y que coartan el derecho a la legitima protesta del movimiento organizado de los trabajadores en defensa de sus derechos.






"Repudiamos el brutal atropello a nuestros compañeros petroleros de Anzoátegui": Iván Freites, dirigente petrolero de Falcón

Stalin Pérez, de la UNT / CCURA y editor de Marea Clasista: Repudiamos la represión a los trabajadores petroleros

Orlando Chirino rechaza categóricamente represión a los trabajadores petroleros en Puerto La Cruz

"Con represión nos retribuyen a los que producimos la riqueza del país y defendimos a PDVSA en el paro golpista", afirma dirigente sindical petrolero de Puerto La Cruz

Apoyo internacional a los trabajadores petroleros reprimidos por la Policía de Anzoátegui

Sindicalistas del sector público condenan agresión policial contra trabajadores petroleros anzoatiguenses

"Los noticieros de VTV deben abrirse también para las víctimas de la represión a los trabajadores petroleros, no sólo para el Ministro y la policía", afirma dirgente sindical

Sitrapetrol del Estado Bolívar, se solidariza con los petroleros de Anzoátegui

Ministro Rafael Ramírez repudió incidente ocurrido con trabajadores en Anzoátegui

Qué ironía!!!... el jefe de la policía que reprimió a los petroleros ayer, vive en las residencias de la meritocracia golpista

Medios alternativos, en solidaridad con los trabajadores petroleros, proponen jornada nacional contra la "criminalización de las luchas del pueblo"

La UNT de Cojedes repudia represión contra trabajadores petroleros en Anzoátegui

Para os antecedentes, ver aqui, aqui e aqui.

Friday, September 28, 2007

Ainda acerca da Blackwater no Iraque

Uma análise de um economista aos protestos na Birmânia


How likely is the overthrow of Burma's military junta? This old paper (pdf) by Timur Kuran gives us reason for hope.

It lies in the notion of preference falsification. Imagine you're a junior officer in the Burmese army, with orders to suppress the demonstrations, but you privately think it wrong to do so. Do you disobey the orders?

It depends upon what you think fellow soldiers will do. If you think they'll turn against you, you'll keep quiet and obey orders, falsifying your preference. But if you have a hunch they'll back you, you might disobey, figuring that the miltary top-brass can't kill all of you; the costs to you of disobeying (the risk of death) are then smaller than the cost of obeying, living with a bad conscience.

In this context, apparently strong regimes can be fragile. It might be that everyone obeys orders because each believes that others believe the regime is legitimate, even though everyone believes privately the regime to be wrong.

In such circumstances, a tiny signal can trigger revolution, because it signals to all that everyone else thinks what they think. Mass obedience can then shift immediately to mass disobedience - a tipping point is reached.

A great example of this was the fall of Nicolae Ceausescu. When one man started to boo him, others realised that people thought like them. Having suppressed their true beliefs for fear that they'd be isolated and therefore punished, they realized they could disobey, and booed too. Ceausescu was dead in days.

In this context, the psychological warfare of the Buddhist monks, in refusing alms from soldiers, could be very powerful. What it does is increase the costs to believers of obeying the regime. At the margin, this might tempt just one or two to risk disobedience. And if that signals to others that their private opposition to the regime is widely shared, revolution is possible.

Wednesday, September 26, 2007

The Talent Myth

Um post de Chris Dillow:

(...)

Economic success requires that talent not be unlocked, and remain unused.

One reason for this is that customers and employers want consistency, guaranteed delivery, predictability. And this requires that people work well within the limits of their talents.

If you had to go into hospital for a minor operation, who would you rather perform it - the brilliant surgeon for whom the operation is a dull routine one, or the young and mediocre one for whom it's challenge requiring full use of their talent?

Even in football and music - two areas where "talent" is most valued - this is true. Many musicians feel frustrated because their audience wants to hear their well-known work which they can perform in their sleep rather than their newer more adventuous work. Many footballers can thrive by cutting out tricks - ask Joe Cole; even Cesc Fabregas reins in his full skills.

A second reason is that, as Adam Smith pointed out, the division of labour is the key to economic progress. We get rich by specializing, as this both raises productivity through incessant practice, and allows comparative advantage to generate gains from trade. But this specialization stifles many of our talents. The musician who becomes a lawyer never fully unlocks his musical talent. The cricketer who becomes a doctor lets his cricketing talent wither.

As A.N. Whitehead said, "civilization advances by extending the number of important operations which we can perform without thinking about them."

And then there's capitalism. Capitalism is all about maximizing profit. All profits come from power. And this means disempowering talented workers. As Harry Braverman showed in one of the best books ever written, capitalism requires that workers be robbed of their skills.

And this is why Brown's words are not only stupid, but perniciously stupid. In pretending that economic progress and human flourishing can always coexist - especially under capitalism - he's ignoring one of the most important and profound trade-offs of all.

Ver também a continuação.

Tuesday, September 25, 2007

Fábrica de bicicletas ocupada na Alemanha (III)

Se alguém quiser encomendar uma bicicleta da tal fábrica, tem aqui os modelos (creio que custam 275 euros).

Fábrica de bicicletas ocupada na Alemanha (II)

No Molly's Blog, mais detalhes sobre o caso:

GERMANY:
BICYCLE PLANT UNDER WORKERS' CONTROL:

Since the 10th of July workers at the Bike Systems GmbH factory in have been on strike and occupying the Company's factory in the Thuringian Nordhausen area of Germany. The Company applied for bankruptcy protection on August 10th, a possibly very planned move as the factory was "stripped" of productive assets before the strike actually began. Yes...you can indeed make good money out of being bankrupt, especially if you plan ahead. Production at the plant had actually stopped as of June 30th. Various plotters have been operating to acquire the facility and restart operations under what can only be described as a "weapon of mass destruction of workers' rights" (see http://www.bike-eu.com/news/2484/bikes-systems-possible-re-start-after-insolvency.html). The workers who have been occupying the plant, however, have their own ideas. They have now decided to resume bike production under a self-managed system. The German anarcho-syndicalist union, the FAU (Freie Arbeiterinnen und Arbeiter Union) has joined them in solidarity and is arranging to build a solidarity marketing campaign for the bikes that will be produced by the new self managed factory. Molly reproduces below an article from the Libcom site that provides a translation from the German. Molly has slightly edited this article for reasons of proper English usage. Molly's comments follow.

"Hamburg/Nordhausen, 19th of September in 2007:Staff of occupied bicycle factory in the Thuringian Nordhausen take up production in self-management again:

The 135 colleagues of the bicycle factory Bike Systems GmbH in the Thuringian Nordhausen who have occupied the factory since the 10th of July, 2007 decided to resume the production of bicycles under self-management. To achieve this aim 1,800 binding orders on bicycles must be received before October 2nd. So the colleagues are working together with the anarcho-syndicalist union FAU (Freie Arbeterinnen und Arbeiter Union-Free Workers' Union) which has formed for this campaign the internet page www.strike-bike.de .

For more than two months the staff have kept the factory in the south of the Harz Mountains occupied in a triple shift. They want to prevent the definite dismantling and sale of the factory. The filing for bankruptcy as of August 10th faces long odds: The factory is exploited and run down. The hall was emptied except for the coating line. the staff receives unemployment compensation and hopes for a new concept and a new investor.

THE "STRIKE BIKE- SOLIDARITY BIKES FROM NORDHAUSEN:

During the occupation and in the wake of discussions during the visits of solidarity people the colleagues of the factory developed the idea to initially take up production under self-management for a short time. Because it is not only the point to only prevent the removal of the last machines and to wait for a new investor, the idea of a "Strike-Bike" met with more and more response. Now the opportunity arises to show the ability for the workers to develop their own concepts and to self-manage production and distribution. If all goes well and 1,800 advance orders are collected for the bicycles produced under self-management, we will spread the idea of solidarity and bolster colleagues in similar situations to not let themselves be restructured to zero. By whomsoever !

The staff receives assistance in solidarity from the member of the anarcho-syndicalist union Freie Arbeiterrinnen und Arbeiter Union (Free Workers' Union) which will become active in the whole of Germany to spread the knowledge of the striking bicycle workers and to support the sale of the 'Strike-Bike'. For more information go to http://www.strike-bike.de

For background information and the history of the occupation see http://www.labournet.de/branchen/sonstige/fahrzeug/bikesystems.html

To get in contact with the staff and to take orders see:

Bikes in Nordhausen e.V.
c/o Andre Kegel
Bruno-Kunze-Str 39- 99734 Nordhausen
Telefon 03631-622-124 and 03631-403-591
Fax 03631-622-170
email fahrradwerk@gmx.de

For further information about the FAU-Strike Bike solidarity Group see spokesperson
Folkert Mohrhof
-mobile 0179-4863252 and:
from Monday to Friday 10:00 am to 3:00 pm
+49- 40- 20906896

The original unedited communique can be seen at the Libcom link given above

MOLLY COMMENTS:

THIS is the sort of thing that all rational anarchists should celebrate, encourage, support and publicize as widely as possible. With all its limitations this is about 2,000 light years closer to the anarchist idea of "direct action" than dozens upon dozens of set piece theatrical confrontations with police at various "summits". NONE of these little spectacular (in the situationalist sense) acts of theatre ever accomplish more than building an illusion of a movement while at the same time demonstrating to those outside of the charmed circle that anarchists are more than slightly demented because they like to lose battle after battle after battle. The workers at this plant do actual real direct action. It is actions that actually accomplishes something, that has at least a reasonable chance of success. It is not symbolic play acting. Yes... there are problems with this action by the German workers. In the present configuration of forces it can only be temporary. It is a delaying action while waiting for the "new investor". Its great success will be that it will show that workplaces can be managed without bosses, and it will show this to a particularly "conservative" audience in Germany. The "legend" will live on after the reality has died. Molly wants to call attention to a certain aspect of this dispute. The workers at the plant receive unemployment payments". This means that they can hold out much longer and "take the chance" of trying to restart production under self-management. This advantage is the result of the German state having a long tradition of a "tamed social democracy". This is not necessarily the case in other countries. Here in Canada the workers would have been cut off long ago, assuming that they could ever have collected EI. In a country such as Venezuela, ruled by a pseudo-populist demagogue the workers would have had the choice of one of three options: 1)integration into a nationalized system at much lower wages ,2)simply being ignored just like Canada or 3) being subjected to the full force of a much more violent repression if the owners of the factory were "bum buddies" of Chavez (part of the 'BoliBourgeoisie' as it is called down there). Molly thinks that this is further proof of her contention that a mild and tamed social democracy is the best environment in which to build libertarian socialism. NO...no demands for nationalization, but many demands that make peoples' lives easier whether they are in struggle or not.

It would be interesting to compare and contrast these sort of things in Germany with the "recuperated workplaces" in Argentina. Germany is not Argentina. Argentina today is not Spain circa 1936. The terrain for the struggle for liberty changes. Both the Argentinian examples and the German one as well depend far too much on the benevolence of the state. THIS is where Mutualism supplements syndicalism. There will be no more "sudden overturns". Just a long and grinding struggle. The "Revolution" today is not Blitzkrieg. It is trench warfare. Initiatives such as those of the German bike workers are a great advance. What is needed is the financial muscle to support such initiatives. This can only be provided by Mutualist credit organizations. Only such things can offer the financial muscle to make self-management not just a holding action until a new boss is found but rather a viable alternative to the cloying arms of the state. Can our present Credit Unions be reformed so that they can provide such support ? Are other institutions needed ? What will they be ? All these are open questions. How do we escape dependence on the state ?

Monday, September 24, 2007

Fábrica de bicicletas ocupada na Alemanha

Staff of occupied bicycle factory in the Thuringian Nordhausen take up production in self-management again

The 135 colleagues of the bicycle factory Bike Systems GmbH in the Thuringian Nordhausen, who keep the factory occupied since 10th of July 2007, decided to resume the production of bicycles in self-management. For this aim 1,800 binding orders on bicycles must be received till 2nd of October. So the collegues are working together with the anarcho-syndicalist union FAU (Freie Arbeiterinnen- und Arbeiter-Union – Free Workers-Union), which formed for this campaign the internet page www.strike-bike.de.

Since more than two month the staff keep the factory in the south of Harz Mountains in three shifts occupied. They want to prevent the definite dismantling and sale of the factory. The file for bankruptcy from 10th of august is against long odds: The factory is exploited and ran down, the hall was emptied except for the coating line. The staff receives unemployment compensation and hopes for a new concept and a new investor.

The „Strike Bike“ - Solidarity-Bikes from Nordhausen

In the time of occupation and in the wake of discussions during the visits of solidary people, the colleagues of the factory developed the idea to initially take up the production in self-management for a short time. Because it's not the point to only prevent the evacuation of the last machines and to wait for a new investor, the idea of an own ”Strike-Bike“ meet with more and more response. Now the opportunity arises to show the ability to develop an own concept and to self-manage production and distribution.

If it goes well to collect 1,800 advance orders for the bicycles produced in self-direction, we spread solidary ideas and bolster the colleagues in similar situations, not to let themselves easily being restructured to zero. By whomsoever!

The staff gets assistancy by the solidary members of anarcho-syndicalist union Freie Arbeiterinnen- und Arbeiter-Union (Free workers-union), which will become active in whole germany to spread the knowledge of the struggle of the bycicle-workers and to support the sale of the „Strike-Bike“.

More Informations can be received at: www.strike-bike.de

for background informations and history of the occupation:
www.labournet.de/branchen/sonstige/fahrzeug/bikesystems.html


To get in contact with the staff and to take orders


»Bikes in Nordhausen e.V.«
c/o. André Kegel,
Bruno-Kunze-Str. 39 - 99734 Nordhausen
Telefon: 03631 - 622 124 and 03631 - 403 591
Fax: 03631 - 622 170
eMail: fahrradwerk (ät) gmx.de

For further informations about the campaign of the
FAU-„Strike Bike“-Solidaritygroup:

Spokesperson:
Folkert Mohrhof
- mobile 0179-4863252 and ...
respectively monday till friday from 10 am till 3 pm:
+49 40 - 20 90 68 96
presse (ät) strike-bike.de


[Via Mutualist Blog - mais exactamente, dos "shared items" - e BradSpanglar.com.]

Pets and Persons

Pets and Persons, no 3quarksdaily (fiquei a saber que existem DVDs especiais para gatos).

Sunday, September 23, 2007

A quadrilha de Alberto Gonçalves

No Diário de Noticias, Alberto Gonçalves escreve "o sr. Sá Fernandes é vereador do Bloco de Esquerda, que venera Trotsky, que idealizou os modernos campos de concentração, que encarceraram milhões de pessoas, que morreram às mãos de criminosos, que tentaram impor as maravilhas do autêntico socialismo, que é a utopia do dr. Louçã, que ama Hoxha, que amava Estaline, que se amava a si próprio e que matou toda, ou boa parte, da quadrilha."

Vamos analisar isto aos pedacinhos:

"que venera Trotsky, que idealizou os modernos campos de concentração" - sinceramente, não faço ideia de quem, na direcção do Partido Bolchevique, teve a ideia de começar a meter os opositores em "campos de concentração"; até pode ter sido Trotsky; mas, de qualquer maneira, não sei se terá havido grande "idealização" envolvida: os campos de concentração do regime comunista, na sua essência, eram uma continuação dos trabalhos forçados da Rússia czarista. A diferença seria apenas de quantidade - mais presos que no tempo dos czares.

"os modernos campos de concentração, que encarceraram milhões de pessoas, que morreram às mãos de criminosos, que tentaram impor as maravilhas do autêntico socialismo, que é a utopia do dr. Louçã" - a maior parte dessas pessoas morreram após 1923; como Louçã (acha que, pelo menos desde 1923, esses regimes deixaram de ser o "autentico socialismo", parece-me que os «criminosos que tentaram impor as maravilhas do que Louçã considera "Estado operário degenerado/deformado"» mataram muito mais. Poder-se-à discutir se os defensores do "autêntico socialismo, versão Louçã" não teriam morto tanta ou mais gente se tivessem tido a oportunidade, mas o certo é que não a tiveram.

"a utopia do dr. Louçã, que ama Hoxha" - com esta passagem, Alberto Gonçalves demonstra que não passa de um pateta. Terra chamando Alberto Gonçalves, Terra chamando Alberto Gonçalves: Louçã é trotskista, Hoxha permaneceu um estalinista assumido até ao fim dos seus dias!

Ainda mais, vindo de alguém que se queixa que "a escola trocou a transmissão de conhecimentos pela partilha da ignorância", essa tal ignorância de história das ideias politicas leva a pensar como é que se tiram cursos de sociologia (ou ele estaria já a basear-se na sua auto-avaliação?).

Já que estou com a mão na massa, vou criticar mais umas coisinhas.

A respeito do processo UE vs. Microsoft:

"A Microsoft, para cúmulo da desvergonha, adiciona software gratuito ao Windows e ao Office, e o consumidor, na sua cegueira, recebe os brindes com satisfação."

E se escrevêssemos "A Microsoft obriga os seus clientes a pagar por software adicional quando compram o Windows e/ou o Office, mesmo que não o queiram"? Já não soa tão bem, pois não? Mas é isso que se passa - se o software adicional é distribuído "gratuitamente" junto com o Windows, isso quer dizer que os custos de produção (nomeadamente de desenvolvimento) desse software vêm incorporados no preço do Windows (ou seja, até os utilizadores do Firefox pagam os custos de desenvolvimento do Internet Explorer).

Poderá ser argumentado que é mais cómodo (nomeadamente em termos de redução de "custos de transacção") para o consumidor que o software da Microsoft seja vendido em bloco, em vez de termos que estar a escolher, no acto de compra, que programas queremos ou não, e a calcular o preço em cada situação possível. Seria um bom argumento, mas não tem nada a ver com a conversa de Alberto Gonçalves de "brindes gratuitos".

A respeito do Dia Europeu sem Carros:

"Apesar dos preços aplicados em Portugal insinuarem o contrário, o automóvel é um produto de venda livre. O consumidor que adquire um carro fá-lo na presunção de que o poderá utilizar, a gosto, nas vias públicas destinadas ao efeito. A presunção, embora apoiada na lei, depara-se com obstáculos arbitrariamente levantados pelos poderes políticos. Uma vez por ano, dezenas de autarquias resolvem aderir ao Dia Europeu Sem Carros."

Pode haver muitos argumentos contra o Dia Europeu sem Carros (até eu acho que tende a ser uma fantochada que funciona como publicidade a favor do uso do automóvel). Mas essa de "o automóvel é um produto de venda livre. O consumidor que adquire um carro fá-lo na presunção de que o poderá utilizar, a gosto, nas vias públicas destinadas ao efeito", francamente... Qual é a ligação entre haver liberdade de adquirir um bem e, por isso, dever haver liberdade para fazer o que quiser com ele? Por essa ordem de ideias, também não deveria haver código da estrada (pelo menos para as pessoas que compraram carros em regime de venda livre); e, como as aparelhagens de som também são de venda livre, também não deveria haver limites ao ruído.

Saturday, September 22, 2007

O caso do milionário russo que investe no futebol inglês

Não, não é o Abramovich.

Falo de Alishar Usmanov, o milionário russo-usbeque que comprou parte do Arsenal.

O antigo embaixador britânico no Uzbequistão, Craig Murray, publicou, a 6/09/2007, no seu blogue, o post "Alisher Usmanov, potential Arsenal chairman, is a Vicious Thug, Criminal, Racketeer, Heroin Trafficker and Accused Rapist" (uma cópia pode ser encontrada aqui).

Face às pressões dos advogados de Usmanov, a empresa aonde o blogue estava alojado, primeiro apagou o post, e, mais tarde, todo o blogue (por isso, se no parágrafo anterior, clicarem em "no seu blogue", não vão parar a lado nenhum). Outro blogue, que re-postou o texto, foi pouco depois, também apagado (ou seja, também não o vão encontrar lá). Parece que o apagamento do segundo blogue levou também ao apagamento de uns quantos blogues que não tinham nada a ver com o assunto (parece que partilhavam a mesma conta, ou coisa assim).

A este respeito:

Wealth (n). Impunity., no Ministry of Truth
Public Service Announcement URGENT HEADS-UP, no Chicken Yoghurt
Estes posts do Obsolete

"- Os moços não sabem nada"

"- O ensino está dominado pelo facilitismo"

"- Os programas escolares estão infantilizados"

Esta conversa é recorrente sempre que se fala da educação em Portugal - mas ao ver o concurso "Sabe mais do que um miúdo de dez anos", concluo que as pessoas que dizem isso, ou são parvas, ou são ignorantes.

Pelos vistos, agora faz parte do programa da primária: os satélites de Saturno (coisa que eu nunca aprendi na escola), o elemento neutro da multiplicação (coisa que eu só aprendi no primeiro ano do ciclo), o elemento absorvente da multiplicação (também só aprendi no primeiro ano do ciclo e a minha mãe nunca aprendeu), a magnetite (coisa que eu nunca me lembro de ter falado na escola), o calendário juliano (penso que, antes, isso era programa do liceu), etc.

Se atendermos a que, hoje em dia, toda a gente entra na escola com 5-6 anos, enquanto no meu tempo ainda houve alguns que entraram com 7 (e era essa a idade com que toda a gente entreva nos tempos do "ensino exigente" do Estado Novo), então só se pode concluir que o ensino é muito mais puxado do que era antigamente (e não menos, como é de bom tom dizer-se).

Ecada vez tenho mais curiosidade para saber quais seriam os resultados deste exame.

Friday, September 21, 2007

Uma visão de esquerda sobre a nova constituição venezuelana

Una reforma cocinada a espaldas del pueblo, texto da Juventude de Izquierda Revolucionária (não tem equivalência em Portugal; estará uns milimetros à esquerda da Ruptura/FER):

El pasado 15 de agosto, Hugo Chávez presentó en la Asamblea Nacional su anunciada reforma constitucional luego de meses de hermetismo. Una reforma elaborada a espaldas del pueblo que se presenta como un paquete donde se enmiendan 33 artículos, para luego llamar a los trabajadores y al pueblo a votar por el “sí” o por el “no” sin haber participado en su elaboración o discusión.

Hacia un régimen más bonapartista

Es importante destacar que la reforma constitucional tiene como uno de sus ejes el aumento de la concentración de poderes en la figura de Chávez. Si el sistema de gobierno venezolano es presidencialista, con la actual reforma alcanzará un grado mayor de bonapartismo. En la reforma no sólo se prolonga el período presidencial de 6 a 7 años, sino que se define la reelección inmediata continua tantas veces quiera someterse a votación. Recordemos que Chávez ya está en su segundo período presidencial, siendo que cuando hubo relegitimación de poderes ya se había sumado un año más a su primer período presidencial. El sistema plebiscitario le acentúa las características bonapartistas a todo un sistema de gobierno.

En el caso de la “Fuerza Armada Bolivariana”, según la reforma, se arroga la facultad para promover oficiales en todos los grados y jerarquías. Chávez exige ejercer “Suprema Autoridad Jerárquica en todos sus Cuerpos, Componentes y Unidades”. Obsérvese que Chávez no necesita aprobación previa de la Asamblea Nacional para todas sus designaciones. Se concentra así todo el poder militar administrativo en la figura del Presidente, dependiendo todo del visto bueno de Chávez para cualquier ascenso. Habla de “milicia popular”, pero no es más que el cambio de nombre de la ya tradicional Reserva Nacional, que está directamente bajo su comando.
Chávez, en la reforma, también se autoasigna, sin intervención alguna del Parlamento, crear Provincias Federales, Territorios Federales y/o Ciudades Federales, algunas bajo el pomposo nombre de “Comunas”; crea por intervención directa las figuras de más Vicepresidentes que actuarán, con poderes directos del Ejecutivo sin elección popular alguna, en esos nuevos territorios. Esto es lo que da en llamar la “nueva geometría del poder”. Obsérvese que ya el Vicepresidente en Venezuela no es electo en la fórmula del voto universal, y no lo serán tampoco los nuevos Vicepresidentes que actuarán con toda autoridad y rindiendo cuenta únicamente al Presidente. Enfaticemos que Chávez está habilitado para gobernar por decreto por un año más, pudiendo esta facultad ser renovada. ¿Para qué Asamblea Nacional con tantos poderes en la figura presidencial?, se preguntarán muchos. Con la reforma el Ejecutivo tendrá las manos libres bajo un régimen cada vez más bonapartista y podrá regimentar sus políticas sin rendir cuenta ni siquiera a la Asamblea Nacional.

Y por si fuera poco, el Presidente asume el control de todo el tesoro público, pasa a depender directamente del Ejecutivo de hoy en más del Banco Central y de todas las reservas, como así también del ya controlado Fondo de Estabilización Económica, que se suma al control completo que ya tiene de PDVSA.

Del “poder popular”, solamente las palabras

Para poder disfrazar la nueva concentración de poderes, Chávez habla del “Poder Popular” elevado a rango constitucional, de los consejos comunales, etc. Pero esto no se trata más que de una estafa, pues los ya controlados consejos comunales dependerán política y económicamente de la figura presidencial directamente. Si existiera alguna autonomía en algún consejo comunal, estos perderán toda facultad al ser cooptados y dirigidos directamente desde el Estado. Ya hemos visto cómo el gobierno ha intentado encorsetar los sindicatos limitando bajo todas las formas su independencia, con el objetivo de tener maniatado al movimiento obrero. Hoy intenta crear la figura de los “consejos laborales” dentro de las fábricas, extendiendo los tentáculos del Estado vía dichos organismos, como así también en todas las organizaciones barriales populares. Por supuesto, está el bocadillo de la reducción de la jornada laboral a 36 horas, pero que está lejos de transformarse en realidad en un país donde la economía informal se acerca al 50% de la población económicamente activa, e incluso en el sector formal el índice de trabajo precario alcanza niveles elevados.

(...)

¿Qué busca Chávez con la reforma constitucional?

La superación de la crisis del régimen de dominio abierta en febrero de 1989, exige de parte del gobierno denodados esfuerzos para recomponer su orden, luego del proceso de luchas que han tenido lugar en Venezuela. Una vez calmados los ánimos de los sectores de la burguesía ligados al gran capital, parcialmente derrotados en el 2002 y 2003 gracias a la acción protagonizada por los grandes sectores populares y la clase obrera, se prepara ahora un reordenamiento que le dé un cauce al proyecto político del gobierno nacional. De ahí la necesidad de una reforma constitucional desde las alturas del régimen burgués, que pueda facilitar la formación de un bloque social con el empresariado devenido hoy en “nacionalista” y “patriótico”, que junto a la nueva casta política que hoy administra el Estado, lleven la voz cantante.

Pero justamente los sectores mayoritarios que inclinaron la balanza a su favor -e indirectamente del gobierno- son convidados de piedra en la decisión de cuáles son las transformaciones necesarias y quién debe encabezarlas. Esto precisamente no es objeto de discusión de la reforma. Categóricamente decimos que no es otorgando “poderes especiales” al presidente con aderezos del llamado “parlamentarismo de calle”, que pueda avanzarse en la resolución de las demandas fundamentales de los trabajadores y el pueblo. Como planteamos desde la Juventud de Izquierda Revolucionaria, más allá de los intentos de presentar la reforma como una “profundización” de revolución alguna; esta no pone en primer plano las demandas del conjunto de los explotados y oprimidos, por el contrario, significa el avance en el terreno legal de una política que busca evitar que los trabajadores tengan una política propia e independiente del Estado y su “socialismo con empresarios”.

(...)

Aquilino Ribeiro


AQUILINO RIBEIRO, COM OU SEM PANTEÃO, O SEU NOME É SINÓNIMO DE GRANDE LITERATURA E DE VERTICALIDADE

A homenagem realizada pelos altos dignatários deste país ao grande romancista e resistente anti-fascista Aquilino Ribeiro, está sendo manchada por uma propaganda reles, suja e cobarde, de quem quer mostrar-se «mais papista que o papa». Neste caso, querendo fazer com que se repudie o homem e o escritor, indissociáveis, ainda mais neste grande vulto da literatura portuguesa do século XX, pelo facto de ter pertencido na sua juventude ao ramo anarquista da carbonária, ao qual se atribui a autoria do regicídio que matou o rei D. Carlos I e seu filho, herdeiro do trono.

Porém, a estupidez dessas aves de mau agoiro é dupla: ele - Aquilino - pode ter ou não pactuado /concordado com o regicídio. Porém, quer isso seja verdade ou não, não fará sentido a conotação de «crime monstruoso» que lhe querem atribuir. Mas fazem-no, pois através dele, pretendem atingir um sector da sociedade dessa época - e por tabela - os seus herdeiros espirituais, o republicanismo radical e o anarquismo.

Que foi um crime, sem dúvida o foi, mas que se deve compreender no contexto de uma situação bem particular. Quem não estudou de perto a história conturbada dessa época, não pode compreender e portanto valorar o que esteve na origem do regicídio.

É que a maior parte das pessoas que clamam contra Aquilino, passam sob silêncio que o rei, pouco antes de ser assassinado, decretou e permitiu que o seu primeiro ministro, João Franco, instaurasse um regime de arbítrio, de ditadura, com nenhuma hipótese de evolução para uma transição pacífica para a república. Nessa época, uma vasta maioria da opinião pública repudiava o regime caduco da monarquia bragantina, os republicanos eram maioritários no pais, mas impedidos de aceder ao poder.

Alguns anarquistas, ingenuamente, acreditavam que a república seria uma etapa indispensável para atingir mais tarde a anarquia,o socialismo libertário. Entre estes, estava o jovem Aquilino. Por isso, essa corrente anarquista (apenas um sector que tinha muitas e diverdsas correntes, na época, não a totalidade) aliou-se aos republicanos em várias ocasiões, tendo participado numa organização secreta chamada Carbonária, a qual preparava o derrube da monarquia por meios armados. Não se deve esquecer que era uma monarquia corrupta, decadente e, nos últimos tempos, governando pelos métodos autoritários que vieram ensombrar a história de Portugal no século XX.

Quanto a ele ser anarquista, na 1ª metade do século XX, um conjunto impressionante de vultos da cultura portuguesa o foram, alguns tendo permanecido fiéis à ideia acrata até à morte, outros sendo atraídos para outras ideologias ou teorias políticas... basta citar alguns, sem pretenção de fazer inventário:

- Na literatura: Ferreira de Castro, Vitorino Nemésio e Miguel Torga.
- Na poesia: José Gomes Ferreira
- No desenho: Stuart Carvalhais
- Na ciência: Aurélio Quintanilha

Estes e muitos mais colaboraram no jornal quotidiano «A Batalha», o segundo maior em tiragem ao nível nacional, órgão da CGT, central sindical inspirada no sindicalismo revolucionário, onde coexistiam anarquistas, comunistas, socialistas e muitos operários que se definiam apenas como sindicalistas.É neste contexto, nesta atmosfera intelectual, não apenas receptiva, mas participante de uma ou outra expressão revolucionária, anti-capitalista e anti-estatal, que se desenvolveu o pensamento e se firmaram os dotes de escrita desta figura maior da nossa literatura que foi Aquilino.

Omitir isso, tal como o fez o presidente da república, torna a homenagem envergonhada, mostra que os actuais dirigentes políticos, nem sequer têm a visão ampla dos homens da república de 1910, pois "esquivam" nos seus discursos as importantíssimas facetas de Aquilino Ribeiro, nomeadamente as de militante libertário e anti-fascista.

Manuel Baptista

Dois apartes: ao contrário de Manuel Baptista, não tenho tanta certeza que, na altura, os republicanos fossem maioritários no país; por outro lado, como nunca o li - só vi uma adaptação televisiva - não poderei confirmar que seja, efectivamente, "grande literatura" (por outro lado, se há quem "nunca leu mas não goste", també deve ser possivel "não ter lido e gostar").

How Google Killed Web Subscriptions

Will there be a dollar crisis?

Acerca da divisão do Iraque

"Comunismo de conselhos" (II)

Para quem queira saber mais sobre o "comunismo de conselhos", alguns links.

Textos-chave:
Autores:
Sites:
Os livros desta tendência também podem (ou podiam, há uns anos atrás - ao ritmo a que, com certeza, são vendidos, o stock pode já ter esgotado) ser adquiridos na Feira do Livro de Lisboa (são baratos - devem ser preços de 1975), na banca das Edições Afrontamento (colecção "O Saco dos Lacraus") ou na da Fora do Texto (colecção "Criar Poder Popular", da então Edições Centelha).

Thursday, September 20, 2007

"Comunismo de conselhos" (I)

Ali em baixo, Filipe Abrantes interroga-se sobre a minha "atracção pelo comunismo de conselhos". Bem, a minha atracção, tanto pelo "comunismo de conselhos" como pela maioria das outras correntes aqui referidas, deriva sobretudo da minha oposição à divisão entre "dirigentes" e "executores". Sou da opinião que é melhor que "quem decide" e "quem executa" sejam as mesmas pessoas: por um lado, em termos de "realização pessoal", acho que é muito mais satisfatório pôr-se em prática um projecto em que se tenha participado na elaboração do que limitar-se a seguir ordens vindas de cima; por outro lado, em termos de eficiência, quanto mais perto a tomada de decisão estiver de quem executa, em principio, melhores são as decisões já que mais informados estão os decisores da situação concreta (como regra geral, poderemos dizer que, numa organização, quanto mais elevado for o nível hierarquico de quem tomou uma decisão, maior a probabilidade de essa decisão se basear em pressupostos completamente desfasados da realidade).

Agora, vejo dois contra-argumentos que podem ser levantados:

a) "E porque é que não é liberal?", afinal pode-se dizer que, se o fim da divisão "dirigentes/executantes" é assim tão bom, acabaria por ser fornecido pelo mercado: se as empresas menos hieraquizadas forem mesmo mais eficientes e tiverem trabalhadores mais satisfeitos acabariam por, pela "livre concorrência", por derrotar as mais hieraquizadas (já que estas, elém de serem menos eficientes, teriam custos salariais mais elevados, para compensar os seus empregados da menor realização profissional). E o argumento da menor eficiência das empresas hierarquizadas até pode ser feito reaproveitando as criticas de alguns economistas liberais à intervenção estatal.

No entanto, há um ponto que deita por terra esta tese: é que as taxas de juro activas (dos empréstimos) são mais altas que as passivas (dos depósitos). O que é que isso implica? Entre outras coisas, que uma empresa que recorra a capitais próprios tem menos custos financeiros que uma que recorra a capitais alheios - para a empresa que usa capitais próprios, o custo (neste caso, o custo de oportunidade) do capital corresponde ao dinheiro que se deixa de ganhar por ter o dinheiro na empresa em vez de em aplicações financeiras (p.ex. depósitos a prazo); para a empresa que recorre a capitais emprestados, o custo corresponde aos juros que tem que pagar pelos empréstimos. Ora, como os juros dos empréstimos tendem a ser maiores que os dos depósitos, os custos para as empresas com poucos capitais próprios tenderão a ser maiores. Assim, temos que, mesmo que a auto-gestão seja eficiente, um grupo de trabalhadores dificilmente se pode despedir do emprego e criar uma nova empresa para competir com a do ex-patrão - onde têm o capital para isso? [aqui um artigo, em pdf, concluindo que o acesso ao capital é das principais condicionantes do auto-emprego; já agora, ver também este post já de há uns meses n'O Insurgente e o meu comentário].

Efectivamente, há dois casos de sucesso das cooperativas de trabalhadores - as regiões de Mondragon (no Pais Basco - alguém têm em casa electrodomésticos da Fagor?) e Emilia Romagna (em Itália), mas em ambas o problema do acesso ao capital é minimizado por as cooperativas já existentes financiarem a criação de novas empresas (sistema que só funciona a partir de uma certa massa critica). Entre os defensores do "controlo dos meios de produção pelos trabalhadores" têm sido propostos vários sistemas para tentar ultrapassar esse problema, como o mutualismo, o micro-crédito ou o que alguém chamou "comunismo de risco", mas duvido da viabilidade desses sistemas para uma transformação social em larga escala, embora possam ser uteis numa estratégia de "construir o novo sistema dentro do velho".

[Divagando um pouco, desconfio que a diferença entre taxas de juro activas e passivas afecta muito mais a nossa sociedade do que parece à primeira vista - p.ex., se não fosse essa diferença, quase não haveria razão para a gravidez na adolescência provocar frequentemente abandono escolar]

b) Pode-se também argumentar que isso é, em grande medida, uma questão de tamanho - numa pequena empresa, mesmo que formalmente organizada segundo os princípios da hierarquia capitalista, os trabalhadores podem ter mais participação efectiva na direcção do seu trabalho do que num "colectivo igualitário" de milhares de pessoas (até porque, com muita gente - por mais "reuniões de base" que se faça - acaba por aparecer sempre alguma delegação de poderes). E o "comunismo de conselhos", que pretende, a longo prazo, um regime socialista mundial, é especialmente vulnerável a essa critica (e a critica que faço aqui aos trotskistas, acerca das "200 reuniões", também se aplica aos comunistas de conselhos). Por isso, por um lado, até prefiro o anarquismo, com a sua defesa da máxima autonomia local, do que o "comunismo de conselhos" (ou outras ideologias semelhantes em termos de objectivo final, como o trotskismo ou o "comunismo de esquerda"), com a sua defesa da planificação centralizada; mas por outro, há situações em que a planificação central é necessária; também diga-se que o comunismo de conselhos tem uma posição ambivalente - ou "dialéctica" - na questão centralização/descentralização: a sua posição é , mais ou menos, defender uma planificação centralizada sem uma direcção centralizada (no texto do "conselhista" Helmut Wagner - apenas conheço uma versão on-line em galego - a criticar o anarquismo espanhol, o ultimo capitulo, "Modo de Produção Bolchevique versus Modo de Produção Comunista" gira à volta desta contradição e de como o autor a pretende superar).

Seja como for, repito o que já escrevi muitas vezes - a minha posição entre o(s) marxismo(s) anti-burocrático(s) e o anarquismo é um bocado de agnosticismo.

Agora, há outro argumento que pode ser usado contra o "comunismo de conselhos", que já não tem a ver com o seu modelo de sociedade mas com a estratégia para lá chegar: a sua linha de recusar totalmente participar no "sistema", defendendo o boicote às eleições, o abandono dos sindicatos (por estes "estarem feitos com os patrões"), etc. parece ser suicida em termos de eficácia, e nesse ponto eu discordo de forma quase total deles.

Wednesday, September 19, 2007

Panteão Nacional

Sidónio e Carmona fora do panteão!

Tuesday, September 18, 2007

A libertação dos presos preventivos

Anda para aí muita gente escandalizada com a libertação de presos preventivos em função do novo Código do Processo Penal.

Ora, se esses presos forem efectivamente condenados, a sua libertação actual apenas significa que, após a condenação definitiva, ficarão mais tempo presos do que ficariam - ou seja, em vez de ficaram, digamos, 15 anos na cadeia a partir de hoje, ficam 15 anos na cadeia a partir da data da condenação definitiva. Fará assim uma grande diferença, em termos de efectividade da punição? Afinal, ficar 2 anos em liberdade aguardando julgamento e depois 15 anos na cadeia não é necessariamente um castigo mais "brando" do que ficar 2 anos em prisão preventiva aguardando julgamento e depois mais 13 anos na cadeia (se calhar, até poderá haver pessoas que achem pior).

Há um argumento que pode ser usado - o perigo de fuga, mas penso que isso poderá ser minimizado com recurso à vigilância electrónica (sinceramente, não sei se o novo CPP permite a aplicação da pulseira electrónica nesses casos, mas imagino que o permita).

Monday, September 17, 2007

Iraque: Governo proíbe actividade de sociedade de segurança privada EUA

Via Lusa.

Esta é a companhia de mercenários empresa de segurança que esteve na origem da batalha de Falluja, quando quatro dos seus operacionais foram mortos e pendurados numa ponte pelos rebeldes.

Já agora, um artigo (já velhinho) de Paul Krugman relacionado com assunto (e mais outro).

Aquecimento global (II)

Via Economist's View, um artigo sobre as consequências juridicas que o aquecimento global poderá ter, nomeadamente se o arquipelago de Tuvalu ser submerso (os seus habitantes terão direito ao estatuto de refugiados? será possivel processar alguém por perdas e danos? etc.).

Aquecimento global (I)

Via Economist's View, um artigo do economista conservador Gregory Mankiew acerca do uso de impostos para combater a poluição:

IN the debate over global climate change, there is a yawning gap that needs to be bridged. The gap is not between environmentalists and industrialists, or between Democrats and Republicans. It is between policy wonks and political consultants.

Among policy wonks like me, there is a broad consensus. The scientists tell us that world temperatures are rising because humans are emitting carbon into the atmosphere. Basic economics tells us that when you tax something, you normally get less of it. So if we want to reduce global emissions of carbon, we need a global carbon tax. Q.E.D.

The idea of using taxes to fix problems, rather than merely raise government revenue, has a long history. The British economist Arthur Pigou advocated such corrective taxes to deal with pollution in the early 20th century. In his honor, economics textbooks now call them “Pigovian taxes.”

Using a Pigovian tax to address global warming is also an old idea. It was proposed as far back as 1992 by Martin S. Feldstein on the editorial page of The Wall Street Journal. Once chief economist to Ronald Reagan, Mr. Feldstein has devoted much of his career to studying how high tax rates distort incentives and impede economic growth. But like most other policy wonks, he appreciates that some taxes align private incentives with social costs and move us toward better outcomes.

Those vying for elected office, however, are reluctant to sign on to this agenda. Their political consultants are no fans of taxes, Pigovian or otherwise. Republican consultants advise using the word “tax” only if followed immediately by the word “cut.” Democratic consultants recommend the word “tax” be followed by “on the rich.”

Yet this natural aversion to carbon taxes can be overcome if the revenue from the tax is used to reduce other taxes. By itself, a carbon tax would raise the tax burden on anyone who drives a car or uses electricity produced with fossil fuels, which means just about everybody. Some might fear this would be particularly hard on the poor and middle class.

But Gilbert Metcalf, a professor of economics at Tufts, has shown how revenue from a carbon tax could be used to reduce payroll taxes in a way that would leave the distribution of total tax burden approximately unchanged. He proposes a tax of $15 per metric ton of carbon dioxide, together with a rebate of the federal payroll tax on the first $3,660 of earnings for each worker.
The case for a carbon tax looks even stronger after an examination of the other options on the table. Lawmakers in both political parties want to require carmakers to increase the fuel efficiency of the cars they sell. Passing the buck to auto companies has a lot of popular appeal.

Increased fuel efficiency, however, is not free. Like a tax, the cost of complying with more stringent regulation will be passed on to consumers in the form of higher car prices. But the government will not raise any revenue that it can use to cut other taxes to compensate for these higher prices. (And don’t expect savings on gas to compensate consumers in a meaningful way: Any truly cost-effective increase in fuel efficiency would already have been made.)

More important, enhancing fuel efficiency by itself is not the best way to reduce energy consumption. Fuel use depends not only on the efficiency of the car fleet but also on the daily decisions that people make — how far from work they choose to live and how often they carpool or use public transportation.

A carbon tax would provide incentives for people to use less fuel in a multitude of ways. By contrast, merely having more efficient cars encourages more driving. Increased driving not only produces more carbon, but also exacerbates other problems, like accidents and road congestion.
Another popular proposal to limit carbon emissions is a cap-and-trade system, under which carbon emissions are limited and allowances are bought and sold in the marketplace. The effect of such a system depends on how the carbon allowances are allocated. If the government auctions them off, then the price of a carbon allowance is effectively a carbon tax.

But the history of cap-and-trade systems suggests that the allowances would probably be handed out to power companies and other carbon emitters, which would then be free to use them or sell them at market prices. In this case, the prices of energy products would rise as they would under a carbon tax, but the government would collect no revenue to reduce other taxes and compensate consumers.

The international dimension of the problem also suggests the superiority of a carbon tax over cap-and-trade. Any long-term approach to global climate change will have to deal with the emerging economies of China and India. By some reports, China is now the world’s leading emitter of carbon, in large part simply because it has so many people. The failure of the Kyoto treaty to include these emerging economies is one reason that, in 1997, the United States Senate passed a resolution rejecting the Kyoto approach by a vote of 95 to zero.

Agreement on a truly global cap-and-trade system, however, is hard to imagine. China is unlikely to be persuaded to accept fewer carbon allowances per person than the United States. Using a historical baseline to allocate allowances, as is often proposed, would reward the United States for having been a leading cause of the problem.

But allocating carbon allowances based on population alone would create a system in which the United States, with its higher standard of living, would buy allowances from China. American voters are not going to embrace a system of higher energy prices, coupled with a large transfer of national income to the Chinese. It would amount to a massive foreign aid program to one of the world’s most rapidly growing economies.

A global carbon tax would be easier to negotiate. All governments require revenue for public purposes. The world’s nations could agree to use a carbon tax as one instrument to raise some of that revenue. No money needs to change hands across national borders. Each government could keep the revenue from its tax and use it to finance spending or whatever form of tax relief it considered best.

Convincing China of the virtues of a carbon tax, however, may prove to be the easy part. The first and more difficult step is to convince American voters, and therefore political consultants, that “tax” is not a four-letter word.

Ao contrário do autor, eu sou mesmo da opinião que, quer se opte por quotas de emissão, quer por impostos, a solução mais justa é mesmo dividir (as quotas ou a receita dos impostos) pelos países proporcionalmente à polulação - afinal, se a atmosfera pertence a todos, cada individuo deve ter igual direito a poluir; e, se uns individuos (ou paises) poluem mais do que os outros, é justo que compensem os que poluem menos. E o argumento que isso seria "subsidiar a China, que é um dos paises com maior crescimento económico" parece soar bem, mas oculta um facto: se (num sistema de quotas de poluição distribuidas proporcionalmente aos habitantes) a China iria ficar a ganhar, isso apenas significa que a China, apesar do seu alto crescimento económico relativo, em termos absolutos continua a poluir muito pouco (provavelmente, porque, em valor absoluto a China continua a ser um pais pobre, apesar das altas taxas de crescimento relativo).

Saturday, September 15, 2007

"carece de fontes"

No blogue da Atlantico, Henrique Raposo, a respeito da excisão do clitóris, escreve "Não há acto mais bárbaro que este. Mas, entre nós, há gente que diz o seguinte: isso é a cultura local, portanto, é legítima, portanto, um ocidental não a pode criticar, caso contrário, esse ocidental não passa de um imperialista cultural. (...) E como é bom ver os progressistas europeus a desculpar as tradições mais reaccionárias do mundo."

Isto dá vontade de pôr aqui uma etiqueta "à wikipedia", a dizer "carece de fontes" ou "citation needed". Que exemplos o Henrique Raposo tem de progressistas europeus a desculpar a excisão, com o argumento que se deve respeitar as culturas locais? [realço o "europeus" - não me responsabilizo pelo que pode sair dos departamentos de "estudos étnicos" das faculdades norte-americanas].


P.S. se calhar os leitores já estão a pensar que eu tenho algo contra o Henrique Raposo. Não - o que se passa é que, como os posts dele normalmente não têm comentários, só os posso criticar aqui.

Dalai Lama, lider religioso?

A propósito da visita do Dalai Lama, houve montes de referências ao "lider espiritual do budismo tibetano", e até mesmo polémicas sobre se o parlamento de um estado laico deveria receber um "líder religioso".

Acho que há aqui um ponto que seria conveniente focar - o Dalai Lama NÃO é um líder religioso. O líder espiritual da seita dos "Barretes Amarelos" é o Ganden Tripa; o Dalai Lama era o líder temporal do Tibete (claro que, sendo o antigo Tibete uma teocracia, o líder temporal era também um religioso, mas não era o líder religioso - da mesma forma, há uns anos atrás Khatami era o líder temporal do Irão e é um religioso, mas não era "o líder religioso").

Mais um ponto: no blogue da Atlantico, Henrique Raposo escreve que o Dalai Lama "[é] a modos que o Papa de 300 milhões de crentes". Mesmo que o Dalai Lama fosse o líder religioso, não percebo aonde HR foi buscar esse número. Há para aí 6 milhões de tibetanos no Tibete; mais 150 mil tibetanos na India; mesmo somando os ocidentais que se tenham convertido ao "lamaismo", duvido que isso desse mais do que, digamos, 15 milhões de crentes; eventualmente, poderíamos contar também os mongóis, que professam uma variante do budismo tibetano - mais 2 milhões e meio de pessoas (a que podemos somar mais 4 milhões de mongóis na Mongólia Interior). Ou seja, mesmo com muito esforço, nem chegamos aos 30 milhões de crentes, quanto mais aos 300 de HR.

Friday, September 14, 2007

Este nunca deve ter lido os livros nem visto a série


"Agora era de chamar CHERLOC HOLMES, não acham? Já sei...ele era inglês mas não era candidato a ministro...e nessa altura não havia matérias dopantes..."

Internet vs. jornais

De vez em quando comenta-se que a internet (nomeadamente os blogues, a wikipedia, etc.) são a expressão da psicologia das multidões, do descalabro da cultura, da era do instantaneo e do efémero, etc. (ver, p.ex., este texto de Pacheco Pereira*).

Bem, no que diz respeito ao "caso Maddie", a internet parece estar a ser mais ponderada que os jornais - enquanto as imprensas portuguesa e (ao que consta) britãnica foram tomadas de assalto pelo nacionalismo (nas versões "Os MacCann são culpados" e "The portuguese police is trying to frame the McCanns"), é nos blogs que se vêm análises a levantar dúvidas face à linha dominante no respecivo país (ver, p.ex., o Blasfémias ou o Obsolete).

Ainda sobre a "oferta diversificada"

Ali abaixo, escrevi que a regulação do comércio para assegurar um "oferta diversificada e equilibrada" talvez fosse melhor feita pelas freguesias do que pelos municípios. As minhas razões para isso:

a) dificilmente, à escala de um município haverá um comércio dominado só por um tipo de lojas. O que poderá haver é uma má distribuição, com um tipo de comércio todo num bairro da cidade, outro tipo noutro, etc. Assim, como a "diversidade" é sobretudo um objectivo a atingir a nível de bairro, faz mais sentido que sejam as juntas de freguesia a regular o comércio local (ou, se estivermos a pensar numa sociedade radicalmente diferente da actual, devem ser as "assembleias plenárias de moradores" de cada bairro a decidir quais os "colectivos de trabalhadores" que vão funcionar nesse bairro)

b) a gestão municipal (sobretudo se o município for muito grande) pode ter efeitos perversos - como não é prático, para os decisores municipais, estar a decidir que lojas deverá haver em cada rua, a tendência será, "para simplificar", dividir a cidade em "áreas" e planear, a nível de cada área, que actividades lá deverão existir. Ou seja, a regulamentação feita a nivel de grandes áreas pode ter o efeito de estimular (em vez de combater) a excessiva especialização por bairros.

Thursday, September 13, 2007

"Chinatown"

Maria José Nogueira Pinto, em defesa do "comércio tradicional" e da limitação à actividade das "lojas chinesas", escreve:

"A favor deste comércio ameaçado, são muitos os argumentos que se podem aduzir: a morte lenta de certas zonas, a falta de segurança, o descuido do espaço público; o importantíssimo papel deste comércio na coesão social, na sustentabilidade e na identidade de tantos bairros lisboetas; a obrigação de gerir a ocupação e a distribuição do espaço de modo a garantir uma oferta diversificada e equilibrada e, por fim, uma equidade nas condições em que estas actividades se desenvolvem."

Isso poderão ser bons argumentos contra os centros comerciais e as grandes superfícies, mas, na maioria, não me parecem fazer sentido contra as lojas chinesas:

a) "a morte lenta de certas zonas, a falta de segurança, o descuido do espaço público": o que causa isso é deixar de haver "comércio de rua" e, logo, menos movimento. Mas o que é que as lojas chinesas têm a ver com isso? Elas estão na rua, como as outras - quem ia à rua fazer compras no "comércio tradicional", continua a ir à rua fazer compras na "loja chinesa". Mais - como as "lojas chinesas" são mais baratas, haverá mais gente a fazer lá compras (e, portanto, movimento na rua) do que com o "comércio tradicional".

b) "o importantíssimo papel deste comércio na coesão social, na sustentabilidade e na identidade de tantos bairros lisboetas" - eu penso que o comércio que tem esse papel são mais as mercearias e cafés, que não estão em competição com as "lojas chinesas. Mas, mesmo que houvesse por aí uma carrada de mercearias, cafés, padarias, etc. "chinesas" (como acontece com os coreanos - ou os portugueses... - noutros países), em que é que o espírito de bairro era afectado por o dono da mercearia ser chinês?

c) "a obrigação de gerir a ocupação e a distribuição do espaço de modo a garantir uma oferta diversificada e equilibrada" - por fim, um argumento que poderá ter alguma lógica. Realmente, faz algum sentido que se procure que, numa dada zona, haja um mínimo de restaurantes, sapatarias, livrarias, lojas de animais, etc. (e, nas suas "ruas privadas", os centros comerciais fazem exactamente isso). No entanto, não sei se isso não seria melhor tratado a nível de juntas de freguesia do que do município. E, seja como for, parece-me haver uma contradição entre isso e, depois, querer criar um bairro só de lojas chinesas.

d) "e, por fim, uma equidade nas condições em que estas actividades se desenvolvem" - eu nem percebo bem aonde MJNP quer chegar com isto.

Finalmente, fará sentido esta distinção entre "lojas chinesas" e "comércio tradicional"? - afinal, uma "loja chinesa" é muito parecida com o "comércio tradicional" de aldeia, com as suas lojas que têm (ou tinham) de tudo.

Wednesday, September 12, 2007

O Tibete dos Lamas

O "outro lado" da história:

Friendly Feudalism - The Tibet Myth, de Michael Parenti

E o "outro lado do outro lado":

A Lie Repeated - The Far Left’s Flawed History of Tibet, no Students for a Free Tibet

Agora, uma questão que me ocorre: imagine-se o Tibete não tinha sido ocupado pela RPC - que, sendo uma ditadura comunista com uma politica pró-capitalista, é um regime de que é "politicamente correcto", em quase todos os quadrantes, dizer mal - mas sim por um regime pró-ocidental.

Quantos artigos não seriam escritos a dizer que os defensores da "causa tibetana" seguiam os mitos do "bom selvagem", eram "relativistas culturais pós-modernos", tinham "um ódio à civilização moderna, à razão e à ciência e uma admiração pelo obscurantismo religioso" e que "Hitler também admirava a civilização tibetana e que a esquerda radical caviar comunga com os nazis o ódio nihilista aos valores ocidentais"?

Tuesday, September 11, 2007

Sindicatos e desigualdade


How much can trades unions do to reduce inequality? I ask because Polly writes:


If unions had been stronger over the past 20 years, we would not have slid back to the same level of wealth inequality as 1937, nor would the top 3% own three times the wealth of the entire bottom half of the population.

I fear this overstates unions' force for egalitarianism. Yes, they do help increase equality. But their effect is modest.For example, this paper shows that the standard deviation of wages in unionized firms is only around one-fifth lower than that of non-unionized firms, even controlling for obvious causes of inequality. And this paper (pdf) estimates that deunionization accounts for 34% of the rising wage inequality in the UK and 41% of the rise in the US between 1983 and 1998.Even if unions had stayed quite strong, therefore, wage inequality would still have risen a lot.

I'd highlight two limits to unions' ability to restrain inequality:

1. Globalization. Low-wage workers face intense competition from India and China. There's not much unions can do in the face of this huge supply of cheap labour.

2. Unions don't sufficiently combat the managerialist ideology that's helped top pay rise relative to the median. In some (many?) cases, unions should be saying to managers: "You serve no useful function here. You have no great skills that justify your high pay. You owe your success merely to office politics. We can run this organization better than you."

But unions don't say this; they accept management's right to exist. And in merely fighting for better pay and conditions, they help create the impression that it's unions that are the rent-seekers, when the truth is that it's the bosses who are.In this sense, unions help underpin capitalism.

Novas músicas

Hoje pus duas músicas no blog:

Ventos del Pueblo, de Victor Jara (que, como todos sabem de certeza, foi um cantor chileno executado - depois de lhe terem partido as mãos - na sequencia do golpe de Pinochet)

Ay ahlili, de Lounes Matoub, um cantor cabila que se destacou pelas suas músicas de oposição tanto ao regime argelino como ao islamismo politico. Em 1994 esteve alguns dias sequestrado pelo Grupo Islâmico Argelino. Em 1998 foi assassinado, numa acção reivindicada pelo GIA; no entanto grande parte dos cabilas responsabilizam o governo argelino.

Have the Portuguese police treated Madeleine's parents fairly?

Sondagem do Daily Mail (cujos leitores não são propriamente o sector mais cosmopolita e confiante nos estrangeiros da população britânica):
















Eu tive que votar para ver o resultado da sondagem, mas espero que não tenha alterado os resultados.

Monday, September 10, 2007

"Anti-semitismo árabe"

N'O Cachimbo de Magritte, Carlos Botelho faz um interessante contra-factual sobre um mundo em que a II Guerra Mundial tivesse terminado com um compromisso entre as partes envolvidas. Eu tenho algumas dúvidas que fosse possível ao "Eixo" (e sobretudo à Alemanha) aceitar terminar a guerra com um acordo entre todas as partes (quando muito um acordo com uma das partes para combaterem a outra - como fez, mais ou menos, com a URSS em 39-41 e como Rudolf Hess terá tentado fazer com a Grã-Bretanha): as ideologias nazi e fascista (e o código samurai, já agora) estavam tão imbuídas de mitologia guerreira que não sei se esse regimes conseguiriam funcionar em "Paz".

Mas a minha objecção não é essa - é mesmo quando Botelho escreve "O Estado de Israel não existiria, mas o antisemitismo árabe não precisa de Israel para odiar os Judeus. Os ataques a Israel são o efeito, não a causa". De certeza que existe um anti-semitismo árabe independente de Israel (tal como também existe um anti-semitismo português, e de certeza que também haverá anti-semitas no México). Mas existirá um anti-semitismo árabe relevante independente de Israel? Não tenho nenhuma cronologia exacta das relações árabe-judaicas, mas parece-me que, na Palestina, só começou a haver conflitos significativos entre as duas comunidades após a proclamação da Declaração Balfour, anunciando o propósito de estabelecer um "lar nacional judeu" na Palestina (pelo menos, parece não ter havido problemas significativos antes de 1920, e esses tiveram directamente a ver com a questão do "lar nacional judeu"). No mundo árabe em geral, até penso que havia menos anti-semitismo que, p.ex., na Europa oriental (se não fosse assim, até duvido que, no século XIX, alguma vez os judeus perseguidos na Rússia tivessem começado a imigrar para os territórios da Palestina - iriam fugir do sal para a salmoura?). E a existência de enormes comunidades judias nos países árabes até meados do século XX parece indicativa que o ambiente lá era (ou tinha sido, nos séculos anteriores) menos hostil que na Europa.

Poder-se-á argumentar "Pronto, até 1920, os árabes talvez nem fossem particularmente anti-semitas; mas a partir daí tornaram-se, e esse anti-semitismo teria se mantido mesmo que o Estado de Israel não se tivesse concretizado"; talvez; mas, atendendo que sociedades multi-étnicas costumam funcionar na base das alianças flutuantes, acho que era provável que (caso o "projecto Israel" tivesse sido abandonado) as alianças e inimizades entre grupos étnicos e religiosos na zona em breve se tivessem recomposto com base noutro padrão qualquer. Veja-se o caso do Libano, em que, nos anos 80, druzos e maronitas enfrentaram-se em batalhas violentas nas montanhas do Shoufe, enquanto na "Revolução dos Cedros" participaram ambos entusiasticamente nas manifestações anti-sírias.