Tuesday, June 26, 2007

Folhetim - "Conspiração no ISCEF" - 1ª parte

Vou publicar no blogue uma história (no género suspense/policial) que publiquei há 12 anos na revista da Associação de Estudantes do ISEG.

A primeira parte:

CONSPIRAÇÃO NO ISCEF

Por MIGUEL MADEIRA

- Bem, depois, podem ir, ás 15.00h, ao meu gabinete, ver os testes – disse o professor Ácaro, após afixar as notas do exame. De seguida afastou-se, enquanto os alunos se entregavam a comentários bastante críticos:

- E vou mesmo lá – quase que gritava Ernestino – Eu tenho a certeza que o teste está todo certo e aquele gajo dá-me um seis!

- E eu? O Aparício copiou o teste todo por mim, ele teve treze e eu tive oito. - interveio Arnaldo.

- Pois é. - confirmou Aparício – E ainda por cima houve uma pergunta que tu me passaste e que eu só pus metade.

- Isto é um escandalo - comentou Januária - Eu já sabia que não tinha nota para passar, mas um três, francamente...

- Bem, o que vamos fazer até às três?

- Alguém tem um baralho?

- Não.

- Eu também não.

- Eu vou é ver o que diz aqui - após proferir estas palavras, Arnaldo dirigiu-se à secretária encostada à parede do corredor, pegou no "Boletim Informativo do C.D. do ISCEF" e começou a folheá-lo.

- Diz ai alguma coisa de interessante? - perguntou Januária.

- Sim, tem uma informação super-importante! - respondeu Arnaldo, e começou a ler -"Contratos - pessoal não docente :- Aníbal Pedrosa, 3º oficial de carreira..."

- Cala-te - protestou Ernestino.

- Ora, francamente, não me digam que não estão interessados em saber que o Aníbal Pedrosa, e... deixem ver quem... o Bonifácio Mota, o José Sarmento e a Felisberta Talasso passam a integrar o quadro de pessoal não docente do instituto - replicou Arnaldo.

- Sinceramente, há coisas que me interessariam mais. - respondeu Aparício.

- Então, que tal este artigo: "Conferencia « A economia aplicada ao comportamento animal: limitações e extrapolações possíveis»"-respondeu Arnaldo, que continuou - "Realizou-se no dia 23 de Julho, ás 17.00h, no auditório, uma conferencia sobre o tema em epigrafe, que teve como oradores: Prof. Eduardo Neves, professor catedrático, tal ,tal, tal ,- Arnaldo passou a ler apenas os nomes dos conferencistas, abstraindo das descrições -Prof. Afonso Santiago, Prof. Abel Ácaro, Prof. Jorge Gadanha..."

- Já acabaste?

- Já disse os nomes dos conferencistas, mas ainda falta os temas.

- Não é necessário. - interrompeu Ernestino - Deixa é ver os artigos dos jornais.

Ernestino começou a folhear o "Boletim".

- Estas noticias também são sempre a mesma coisa: é esta historia do prédio que caiu na Miguel Lupi, este gajo que todos os anos dizem que vai ganhar o Nobel...

- É aquilo que a gente já ouvimos falar centenas de vezes, não é?

- Pois. Sobre o prédio temos mais uma vez as declarações do dono: " Os dirigentes do ISCEF são directamente responsáveis pela derrocada e pelas oito mortes que ocorreram. Temos provas que está a haver manifesto desleixo na obras que se estão a realizar no instituto e que, inclusivamente, o dinheiro atribuído para o reforço da rua estará em grande parte a ser desviado". Depois também temos esta noticia: "Mais uma vez se fala da atribuição do Nobel da Economia a Eduardo Neves, professor catedrático do ISCEF, conhecido pelos seus trabalhos no âmbito, etc., etc... Segundo declarações de dois professores do mesmo instituto que colaboraram nos seus trabalhos, tal nomeação representaria...".

- Já são quase três horas, vamos ao gabinete do tipo. - sugeriu Januária.

- Então, boa sorte - despediu-se Aparício.

Pouco depois chegaram ao gabinete do professor.

- Só atendo um de cada vez - disse este.

Ernestino foi o primeiro a entrar.

- Veja se é rápido, que estou a fazer um paper muito importante, há dois anos que só trabalho nisso, tirando as aulas, e quero acabá-lo depressa.

Apesar da pose intimidatória do professor, Ernestino, após muito argumentar, lá conseguiu mais meio valor (passou de 5.7 para 6.2). Saiu da sala, enquanto Aparício se levantava do banco. Após entrar, este sai estupefacto do gabinete:

- Ernestino, o que é que tu fizeste?!

Ernestino regressou ao gabinete, ver o que se passara, ao mesmo tempo que um continuo acorria ao local, e deparou com o corpo inerte do professor deitado sobre a mesa, com uma soqueira "reforçada" com pregos espetada no crâneo.

- Mataste-o por causa de um teste?!- disse-lhe Januária, enquanto ele era agarrado pelo continuo.

- Vamos levar-te à Policia - disse este, enquanto Ernestino ficava cada vez mais confuso.

(continua)

P.S.: Os eventos descritos neste texto são pura ficção. Qualquer semelhança com factos ou pessoas, vivas ou mortas, reais é pura coincidência.

3 comments:

Anonymous said...

Miguel,

a escrita ficcional depende da imaginação, mas muitas vezes a realidade é mais absurda que a literatura.

Veja que situação: Numa sala de aula, aqi no Brasil, um aluno ateou fogo no cabelo de sua professora. Enquanto isso, apenas uma aluna ajudou-a, enquanto o s outros alunos riam.

O resultado, é que a aluna que ajudou sua professora não quer voltar a sala de aula com medo de seus "coleguinhas".

Absurdo, mas real.

james stuart said...

Infelizmente, isto é mais verdade do que ficção.

Miguel Madeira said...

"Infelizmente, isto é mais verdade do que ficção"

O "isto" não é o que parece - aguardem pelos próximos capitulos.