Friday, March 23, 2007

Comentário tornado post

O comentário que Hugo fez ao meu post de há vários meses A Revolução Hungara de 1956:

Este meu comentário resulta de uma investigação pessoal sobre factos, baseada principalmente em relatos na "primeira pessoa" de quem viveu a revolução de 56 (acrescento que um das fontes é o avô de minha esposa, húngaro, oficial combatente da segunda guerra mundial, que ainda no sábado passado esteve comigo a almoçar). Também a minha vivência diária em Budapeste me leva a entender as "coisas" e as causas desta gente (passadas e presentes).


Nagy Imre realmente demonstrava tendências reformistas, mas é o movimento estudantil, não em Budapeste, mas em Szeged que inicia aquilo que veio a tornar-se numa NÃO planeada revolução. Andropov, embaixador soviético na Hungria, sempre esteve atento aos movimentos de Nagy Imre, não podendo evitar a posterior proclamação separatista da república que Nagy Imre assume como consequência da vontade do povo (e do modo como o povo se manifestou). Andropov, leva até o novo governo a acreditar que Kruschev abdica de reacção e permita esta libertação da Hungria.Mas porque atrás da Hungria (e da Polónia) se seguiriam outros e dar-se-ia o colapso, é o enviado chefe máximo da KGB que em conjunto com o Embaixador que manobra um "entertenimento" de credulidade na independência e finge a retirada dos blindados da capital, que a apenas 15 km da capital estacionam e esperam por reforços mais pesados de unidades que eventualmente se dirigiam para o canal de Suez, antes passando por Budapeste para sanear a situação em favor da decisão do presidente da União soviética.


O movimento estudantil em Szeged, é um simples movimento sem aspirações maiores (recorde-se que Szeged é bastante longe da capital, junto à fronteira com a Jugoslávia, hoje Sérvia). apenas demanda de condições académicas, liberdades ideológicas e de expressão. Certo é que esse movimento acabou influenciando as associações académicas da capital (nao de imediato, mas passado uma semana) principalmente porque a primeira não foi reprimida (pelo explicado anteriormente, não terem havido aspirações revolucionárias). Assim na capital, aos estudantes juntaram-se reformistas, opositores e oportunistas, numa confusão instalada que acabou estimulada e aproveitada para uma revolução. Que se torne claro que ninguém toma repentinamente o poder porque foi o poder que tentou se moldar às palavras de ordem do povo frente ao parlamento, e é aos poucos que as declarações de independência e de vontade própria da república são anunciadas de modo a "testar" as reacções soviéticas. Em pouco tempo é verdade que o povo se inflamou e pegou em armas juntando-se (somente depois) o exército bem como partes de unidades do contingente militar soviético (que alguns blindados soviéticos parquearam junto aos manifestantes, apenas soldados, russos, Azeris, ucranianos, não importa a sua nacionalidade, que fartos de um sistema, acreditaram ser a solução húngara um "passaporte para a sua liberdade pessoal" e a ela se juntaram. Quanto à Igreja católica, não encontrei também referências de intervenção neste processo, bem como confirmo não se tratar de uma revolução anti-comunista ou de ideais fascistas.

[Como o post já é antigo, de certeza que este comentário iria ficar perdido]

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