Wednesday, January 24, 2007

Mais qualquer coisa acerca do aborto

Entre os pró-vida, leio frequentemente argumentos do gênero "o momento decisivo no desenvolvimento de uma nova vida é o da concepção; a partir daí, há só evoluçãos graduais, até ao nascimento".

Então, visto da perspectiva do zigoto/embrião/feto/bebé, quais destas três situações são mais parecidas:

a) nunca ter sido concebido;

b) ser concebido e abortado às 8 semanas;

c) ser concebido e abortado aos 8 meses de gestação;

Para o "ser em gestação", parece-me que o grande salto é do b) para o c); para ele (ou ela), as hipóteses a) e b) são rigorosamente equivalentes: nunca ter existido, ou ter deixado de existir antes de "sentir" a sua existência é exactamente a mesma coisa; pelo contrário, é competamente diferente ser abortado aos 8 meses, numa altura em que o seu cérebro e aparelho sensorial estão totalmente formados e em que ele vai sentir perfeitamente o seu abortamento (a menos que seja anestesiado).

Assim, vendo as coisas pelo ponto de vista de um embrião/feto, o momento decisivo da sua existência é claramente quando adquire um certo grau de actividade cerebral, não o momento da concepção.

E é interessante que sejam as pessoas que mais insistem em equiparar o embrião a uma pessoa que menos procuram ver as coisas da perspectiva do embrião.

[Provavelmente, o Tiago Mendes tem razão quando diz que discussões sobre o estatuto do feto são inúteis, mas pronto...]

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