Tuesday, June 20, 2006

Anarquismos - 3º Round - Parte I

Dos Santos responde aos meus últimos posts.

"Estejamos a falar de anarquismo individualista ou de anarquismo social (anarco-sindicalismo/comunismo, etc.), ambos rejeitam o capitalismo. O Miguel diz também que esta rejeição é feita com base no já referido sentido 3, mas é um igualmente um facto que apesar de nomenclaturas simpáticas e visão parcial dada pela crítica marxista implícita nessa definição, o capitalismo não pode existir sem que exista a margem de liberdade (o que não significa que se concretize) para gerar um lucro e criar emprego. Desta forma, estes "anarquistas" poderão rejeitar a "definição" 3 de "capitalismo" mas terão necessariamente de rejeitar 1 que é aliás, exactamente o que fazem os socialistas clássicos (marxismo, por exemplo)"

O anarquismo individualista (sobretudo o norte-americano - Josiah Warren, William Green, Lysander Spooner, Benjamin Tucker, etc.) não rejeita a "definição 1" ("mercado livre") de capitalismo: a base do anarquismo individualista é a de que o "capitalismo" (i.e. o trabalho assalariado e a divisão patrão-empregado) não poderia subsistir num "mercado livre" (Keith Preston, um pensador próximo do anarquismo individualista, até tem um texto intitulado "Capitalism versus Free Enterprise"), já que, segundo eles, são as intervenções do Estado a nivel de "propriedade intelectual", monopólio da emissão de moeda, subsidios às empresas e atribuição da propriedade da terra que tornam possível o "capitalismo".

Uma nota deve ser feita a respeito da propriedade da terra: a maior parte dos anarquistas individualistas (mas não todos) têm uma sobre ela uma opinião muito diferente da dos liberais. Para muitos deles, o direito de propriedade sobre a terra depende da ocupação e uso dessa terra pelo proprietário - ou seja, um proprietário que não trabalhe pessoalmente a sua terra, recorrendo a rendeiros ou assalariados, perde a propriedade da terra. Poder-se-á dizer "isso é totalmente anti-mercado livre", mas acho que não: isso tem a ver com uma questão que precede o "mercado" (livre ou não) - a aquisição original dos direitos de propriedade. Esses anarquistas, tal qual os liberais, acham que o individuo pode transacionar livremente os direitos que possui sobre um determinado bem. Aonde diferem é na questão de que "direitos" o individuo possui à partida sobre esse bem (ou seja, sobre que "direitos" foram estabelecidos no momento da aquisição original da propriedade).

Agora, um aparte: o anarquismo individualista até acaba por ser, nas suas conclusões (apesar do raciocinio para lá chegar ser diferente), parecido (ainda que mais radical) com uma variante do anarco-capitalismo, o "agorismo". Os "agoristas" (como Samuel E. Konkin ou Brad Spengler) defendem frequentemente a ideia que as micro-empresas e os trabalhadores independentes são mais eficientes que as grandes empresas (SEK terá dito que a ineficiência começa quanto há um supervisor recebendo ordens de outro supervisor) e, portanto, só não são a forma predominante de organização económica porque algumas grandes empresas gozam de favores governamentais - o raciocinio deles é mais ou menos este: "o mercado é mais eficiente que a planificação central; quanto maior uma empresa, maior a componente de planificação; logo, quanto maior uma empresa, menos eficiente será".

Aliás, hoje em dia, a fronteira entre "agoristas" e "anarquistas individualistas" é muito ténue, funcionando em "frente unida", p.ex., na Blogosphere of the Libertarian Left.

Na minha opinião, tantos os anarquistas individualistas como os agoristas tendem a ignorar as vantagens "naturais" das grandes organizações, nomeadamente a de conseguirem, frequentemente, comprar por preços mais baratos.

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