Saturday, June 03, 2006

Anarco-Comunismo (II)

Continuando com a minha exposição de como uma sociedade anarco-comunistas poderia funcionar (contra a opinião de Carlos Novais e Murray Rothbard que "economically, anarcho-communism is an absurdity"), vamos tentar ver como alguns aspectos típicos de uma economia moderna poderiam funcionar numa sociedade anarco-comunista.

P.ex., como se avaliaria o desempenho de uma "unidade de produção" e o que aconteceria se se achasse que não era satisfatório?

Imaginemos, p.ex., um restaurante. Num sistema anarco-comunista, o restaurante serviria as refeições de graça (pelo menos, aos membros da federação em que o restaurante estivesse integrado). No entanto, seria feita à mesma a "contabilidade" dos custos do restaurante (tendo a atenção as matérias-primas consumidas, os equipamentos utilizados, o número de trabalhadores, etc.) - da mesma forma que, dentro de uma empresa, também se faz a "contabilidade analítica" dos vários "centros de custo" da empresa.

Assim, se os membros da federação (ou da sub-federação de que o restaurante dependesse) achassem que o "custo" de manter esse restaurante não compensasse o beneficio que ele trazia à comunidade (esse beneficio não seria muito dificil de avaliar, já que os membros da federação são também os potenciais clientes) e que os recursos consumidos seriam melhor aproveitados para outros projectos, poderiam decidir "fechar" o restaurante (o que significa que os trabalhadores do restaurante, se não quiserem ser "transferidos de serviço", têm um bom incentivo para prestarem o melhor serviço e consumindo o mínimo de recursos).

Neste cenário, que alternativas teriam os trabalhadores do restaurante?

Uma hipótese será, pura e simplesmente, aceitarem o fecho do restaurante e mudarem de trabalho, possivelmente para outro "colectivo de trabalhadores" da federação.

Outra hipotese será uma separação do restaurante face à federação, passando a ser uma unidade autónoma; nessa situação, é possível que os trabalhadores do restaurante tivessem que pagar à federação parte do valor do equipamento do restaurante (p.ex., se o restaurante representar 0,2% dos bens controlados pela federação e os seus trabalhadores forem 0,1% dos membros da federação, talvez faça sentido que tenham que pagar o equivalente a metade do valor do restaurante). Claro que é um bocado problemático como é que os trabalhadores irão "pagar" à federação - que "moeda" usarão para isso? [o anarco-comunismo é muito vago acerca de como se processará o "comercio internacional" entre federações distintas]

Uma variante da hipotese anterior é o restaurante transferir-se para outra federação que o aceite (de novo, isso talvez implicasse que a nova federação pagasse alguma coisa à anterior).

Refira-se, já agora, que, nem a federação (quer a nova quer a velha) nem o "colectivo dos trabalhadores" do restaurante são "proprietários" do restaurante - num regime anarco-comunista (e na maior parte das outras versãos do socialismo anarquista) os "meios de produção" pertencem à "comunidade" no seu todo, e as "federações", "confederações", "associações", "colectivos", "sindicatos", etc. são considerados apenas "usufrutuários".

No caso (bastante provável) de a federação ser, ela própria, uma "federação de federações", temos mais um cenário possível - muito possivelmente, o restaurante não estará sob "tutela" da "federação-geral" mas de uma das sub-federações. Assim, se a sub-federação respectiva decidir encerrar o restaurante, os trabalhadores deste podem sempre procurar outra sub-federação que queira manter o restaurante a funcionar.

Finalmente, hásempre a possibilidade de, caso o fecho do restaurante seja bastante polémico, que a federação (ou a sub-federação) acabe por se dividir em duas, agrupando os elementos contra e a favor. Nesta situação será necessários dividir também os bens geridos pela federação e, em principio, o mais natural é que o restaurante fique sob a tutela na nova federação constituido pelos que se opunham ao seu fecho.

1 comment:

Anonymous said...

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