Thursday, May 25, 2006

Os refugiados do Médio Oriente

Quando se discute a problemática dos refugiados palestinianos, o campo pró-israelita muitas vezes contra-argumenta com os judeus que fugiram/emigraram/foram expulsos (riscar de acordo com as preferências do leitor) dos países árabes para Israel, dizendo que foram em número similar.

Os números variam muito acerca de quantos árabes se tornaram refugiados em 1948, mas acho que cerca de 600.000 pode ser aceite como um valor razoável.

Assim, vamos contar os judeus que fugiram dos países árabes na sequência da primeira guerra israelo-árabe.

Há muita contestação sobre se a wikipedia é de confiança, mas vou confiar no seu artigo sobre o assunto (afinal, não tem nenhuma indicação de "a neutralidade deste artigo é posta em causa").

Marrocos: "In 1948-9, 18,000 Jews left the country for Israel"

Egipto: não faz referência a quantos judeus abandonaram o pais a seguir à criação de Israel. No artigo sobre os judeus do Egipto, diz que, da comunidade judaica original, 35.000 foram para Israel (esta cifra refere-se aos últimos 60 anos, não apenas à época que estou a analisar)

Yemen: "Increasingly hostile conditions led to the Israeli government's Operation Magic Carpet, the evacuation of 50,000 Jews from Yemen to Israel in 1949 and 1950"

Iraque: "In March 1950, Iraq passed a law of 1 year duration allowing Jews to emigrate on condition of relinquishing their Iraqi citizenship (...) In total about 120,000 Jews left Iraq"

Siría: o governo sírio impôs limitações à emigração dos judeus sírios. Mesmo assim, a maioria dos 30.000 judeus sírios acabaram por abandonar o país, indo para os EUA e para Israel (tal como no Egipto, esta cifra refere-se aos últimos 60 anos, não apenas à época que estou a analisar)

Libano: a maioria esmagadora dos 5.000 judeus libaneses acabaram por emigrar para vários paises, incluindo Israel (de novo, esta cifra refere-se aos últimos 60 anos, não apenas à época que estou a analisar)

Libia: "In 1948, about 38,000 Jews lived there (...) Upon Libya's independence in 1951, most of the Jewish community emigrated from Libya"

Na Argélia e na Tunisia, só parece ter havido um exôdo de judeus após as respectivas independências (em 1962 e 1956, respectivamente), logo já fora da época em questão.

Somando estes valores, temos cerca de 296.000 judeus que se refugiaram em Israel (até são menos: os 35.000 egipcios, 30.000 sirios e 5.000 libaneses referem-se à emigração total, não apenas a ocorrida a seguir à criação de Israel; além disso, nos números sirios, líbios e libaneses estão também incluidos os que foram para outros países que não Israel).

Em suma, os refugiados judeus que Israel acolheu vindos dos países árabes foram menos de metade dos palestinianos que fugiram/foram expulsos. Então como é que Israel diz que foram em número similar? Creio que o truque é contar todos os judeus que emigraram dos paises árabes nas décadas posteriores, e não apenas a seguir à fundação de Israel - como se um exôdo de 600.000 pessoas durante décadas fosse equivalente ao exôdo de 600.000 pessoas em poucos meses. Isso ainda faz menos sentido se usado para justificar a recusa de Israel, após o cessar-fogo de 49, em autorizar o regresso dos refugiados palestinianos - afinal, nesse momento, a maioria dos judeus dos paises árabes ainda não tinham ido para Israel.

Além disso, há outra diferença entre estas duas migrações: a dos palestinianos correspondeu a um movimento social "para baixo" - passaram maioritariamente de agricultores e artesãos a refugiados acantonados em campos. Pelo contrário, a dos judeus dos paises árabes correspondeu a um movimento "para cima" - deixaram de ser uma minoria (umas vezes tolerada, outras preseguida) para passarem a fazer parte do grupo maioritário/dominante (embora haja alguma discriminação dos judeus orientais - "sefarditas" ou "mizrahim" - na sociedade israelita).

12 comments:

Anonymous said...

Caro Miguel Madeira

Só agora verifiquei que a minha resposta à sua questão colocada no Insurgente descambou numa contabilidade de quem expropriou mais e quem expropriou menos. Não é portanto local para continuar um debate um nadinha mais elevado.
Visto que aqui voltou ao tema e se me permite vou lhe responder aqui a algumas das questões que me colocou.
Mentat
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Anonymous said...

Em primeiro lugar quero frisar que as opiniões que expresso são de alguém que se considera de direita, não são da Direita.
Quem se assume de Direita não aceita expressões colectivistas como "vocês da Direita pensam assim ou assado...".
Eu penso assim, ninguém pensa por mim nem sigo cartilhas.
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Anonymous said...

MM dixit :
"E grande parte dos estados e paises surgiram mais ou menos "por acaso", não porque tivesse sido "voluntaristicamente" decidido criar uma nação num dado território (e até inventar uma lingua)."

Portugal é prova de que esta afirmação é incorrecta e já dura há 900 anos.
Como nunca achei que a antiguidade fosse um posto, 60 anos dão a mesma legitimidade a Israel.
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Anonymous said...

MM dixit:
«...se um grupo de imigrantes chegasse a Algarve, proclamasse a idependência de um pedaço de território e expropriasse os bens dos alagarvios que não estivessem presentes no momento, vocês achariam legitimo?»

Vou-lhe dar uma resposta chocante :
Se os Algarvios ou Portugueses fossem tão cobardes e pusilânimes que não se opusessem a isso, com todos os meios legítimos ao seu alcance, designadamente a guerra, então esses imigrantes teriam todo o direito à sua Pátria.
Meios legítimos,note-se, não são massacrar atletas, pôr bombas em restaurantes ou mandar crianças atirar pedras a tanques.
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Anonymous said...

Só que este exemplo não tem semelhança com nada que se tenha passado em Israel.
Todas as levas de refugiados Palestinos são decorrentes de guerras de agressão a Israel.
Não foi Israel que impediu os Palestinos de constituírem o seu Estado.
O normal e racional era que se tivessem constituído os dois Estados conforme previsto pela ONU, e entre eles resolvessem os seus problemas comuns de propriedade e população.
Não seria inédito (aconteceu com Gregos e Turcos) que se constituísse um fluxo de troca de populações.
Ora o que começou por ser um conflito com origens no puro racismo anti-judeu de alguns árabes transformou-se num dos conflitos de baixa intensidade da Guerra Fria. E convém relembrar que inicialmente, Israel era apoiado pela URSS e os Árabes pelos Europeus.
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Anonymous said...

Comentando agora este seu Post:

Ao fazer esta "contabilidade" não deveria concluir que pela "magreza” dos números em causa este assunto não deveria merecer a importância que tem ?

Porque é que um refugiado no Darfur tem menos importância do que um Palestino ?

Já reparou que foram massacrados no Ruanda mais pessoas do que todas as vitimas de todas as guerras Israelo-Árabes ?

Sinceramente, porque carga de água, havemos de nos preocupar mais com um árabe do que com um africano, um timorense, ou um birmanês ?
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Pedro Viana said...

"Se os Algarvios ou Portugueses fossem tão cobardes e pusilânimes que não se opusessem a isso, com todos os meios legítimos ao seu alcance, designadamente a guerra, então esses imigrantes teriam todo o direito à sua Pátria.(...)Meios legítimos,note-se, não são massacrar atletas, pôr bombas em restaurantes ou mandar crianças atirar pedras a tanques."

Se os tais imigrantes invadissem o Algarve com o apoio de aviões de guerra, tanques e armados com a mais moderna tecnologia militar, "obviamente" que o único meio legítimo seria atacar os inavasores em campo aberto montados nuns burros!... Se não fosse tão ridículo... ó mentat, sabe quantas pessoas, incluindo crianças é que os "terroristas" sionistas mandaram pelos ares na palestina britânica, e quantos é que os "terroristas" americanos mandaram pelos ares durante a sua guerra de independência, e quantos foram pelos ares devido aos actos da guerrilha francesa durante a segunda guerra mundial, e quantos foram pelos ares durante a tentativa de contra-revolução após a revolução de Outubro que originou a URSS?... Deixe-se de tretas. Estou mesmo a ver o mentat a lançar-se montado num burro contra um tanque... só se se confundir com o animal sobre o qual está montado.

"Todas as levas de refugiados Palestinos são decorrentes de guerras de agressão a Israel."

Ah... isso dá muito jeito. Estou mesmo a ver o PNR a convidar os espanhóis a invadir Portugal. Literalmente matam dois coelhos duma cajada: fazem renascer o nacionalismo e aproveitam para limpar o sebo a umas certas minorias étnicas que se instalaram cá na terra e que "os incomodam". A falência moral do mentat começa a ser alarmante...

"Não foi Israel que impediu os Palestinos de constituírem o seu Estado."

Não? Os palestinos reclamavam, com razão dado que eram a maioria em quase todo o território da Palestina britânica, que o seu Estado devia incluir todo esse território. Portanto Israel impediu os palestinos de constituirem o que eles achavam que devia ser o seu Estado. Era "fantástico" se um povo pudesse invadir o país de outro, digamos os espanhóis invadiam Portugal, e depois diziam aos portugueses: ninguém vos impede de terem o vosso Estado; mas, claro, terá que ficar restrito à actual freguesia de Santa Comba Dão (sem desprimor)...

"Ora o que começou por ser um conflito com origens no puro racismo anti-judeu de alguns árabes"

!!... vem um negro e rouba o telemóvel do mentat, que tenta reagir agredindo-o; chega a polícia e... prende o mentat por ter atacado o negro como resultado do... seu racismo anti-negros....

...e o mentat ainda diz que pensa pela cabeça dele... deve ter engolido alguma cassete de produção Likud quando era pequeno.

Caro Miguel Madeira, mas porque é que continua a ir ao Insurgente ouvir gente "ment(cap)at(a)" a discorrer os seus monólogos cegos e surdos? Deixe-os a falar sozinhos porque a eles não lhes interessa a sua opinião. Quanto menos atenção lhes der mais rapidamente voltam para o seu buraco.

Miguel Madeira said...

"Se os Algarvios ou Portugueses fossem tão cobardes e pusilânimes que não se opusessem a isso, com todos os meios legítimos ao seu alcance, designadamente a guerra, então esses imigrantes teriam todo o direito à sua Pátria."

Mas os árabes da Palestina opuseram-se com uma guerra, logo em 47. Só que perderam.

"Já reparou que foram massacrados no Ruanda mais pessoas do que todas as vitimas de todas as guerras Israelo-Árabes ?"

Possivelmente tem razão, e o conflito israelo-árabe é um dos mais sobrevalorizados da história.

Anonymous said...

ainda não percebi, porque quando se começa a falar de um massacre, e foi um massacre, se chuta logo para outro pior.

caro mentat,

sei que não tenho nada a ver com o assunto, mas
"Quem se assume de Direita não aceita expressões colectivistas como "vocês da Direita pensam assim ou assado..."."

primeiro, não são "expressões colectivistas", diga antes preconceito ou uma preconcepção.

até porque essa frase tambem serve pros esquerdistas, ou acha que todos pensam assim ou assado?

o resto, são ideologias e todos as temos, nem que seja o nacional porreirismo.

é só um reparo.

Anonymous said...

"Mas os árabes da Palestina opuseram-se com uma guerra, logo em 47. Só que perderam."

Caro Miguel Madeira

Não me parece que os "árabes da Palestina" tenham dado um mandato à Síria, ao Libano, Jordânia e ao Egipto para invadirem Israel.
Além disso não sei se reparou mas nessa 1ª guerra a Jordânia ocupou e ainda ocupa parte de territórios que deveriam pertencer ao futuro estado palestinano. Depois dessa 1ª guerra com Israel nunca mais a Jordânia se meteu noutra.
Além disso o pior massacre contra palestinianos foi prepertado pela Jordânia o deu origem ao Setembro Negro. Mas disso ninguém fala...
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Anonymous said...

"Caro Miguel Madeira, mas porque é que continua a ir ao Insurgente ouvir ...Deixe-os a falar sozinhos porque a eles não lhes interessa a sua opinião..."

Ora aqui está um bom conselho dum democrata de 1ª água...

Para quê ouvir opiniões contrárias à nossa?

Isso não! Ainda podemos começar pensar pela nossa cabeça...

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Miguel Madeira said...

«Não me parece que os "árabes da Palestina" tenham dado um mandato à Síria, ao Libano, Jordânia e ao Egipto para invadirem Israel.»

A primeira guerra israelo-árabe não começou com a intervenção dos países vizinhos, em 15/05/1948. Desde 1947 que, na Palestina havia uma guerra entre árabes e judeus (com os soldados ingleses a observar a paisagem).

Não se pode dizer efectivamente dizer que os árabes da Palestina tenham dado um mandato a alguém (já que não haviam nunhuma liderança palestiniana legitimamente eleita), mas os lideres auto-proclamados dos palestinianos (o Mufti Husseini, o Alto-Comité Árabe de Jerusálem, etc.) apelaram à ajuda dos paises árabes.