Friday, May 19, 2006

Hobbes em São Paulo

No Diário de Noticias, Pedro Lomba escreve o artigo "Hobbes em São Paulo". Algumas passagens:

"São Paulo tornou-se o exemplo de uma distopia porque se transformou no que não podia ser. É suposto que as prisões sejam os únicos lugares impermeáveis ao crime, os lugares mais seguros e fortificados"

Pedro Lomba não costumará ver filmes ou ler romances passados em prisões? Se há sitios aonde a crime campeia é... nas prisões (claro que os filmes e romances são caricaturas, mas a caricatura tem sempre um pé na realidade).

E a conclusão:

"Uma pessoa olha para a violência descontrolada em São Paulo e pensa em Hobbes. As perguntas do filósofo inglês são também as nossas perguntas. (...) Como é que uma sociedade pode subsistir sem um estado forte, com meios e legitimidade para garantir a segurança dos seus cidadãos?"

Para mim, se os acontecimentos no Brasil fazem alguma coisa é desmentir Hobbes - afinal, o "Estado forte" existe no Brasil (como, aliás, é notado no editorial do DN de terça-feira). O que estes acontecimentos provam é que a manutenção da "lei e da ordem" depende mais da coesão intrinseca da própria sociedade do que terem por cima um "Estado forte" a garantir a ordem - veja-se que o poder dos gangs deriva muito de grande parte da população ver os bandidos quase como "heróis" (ou, pelo menos, não os achar piores que os policias).

Sintetizando, eu diria que não é tanto o "Estado forte" que garante a "ordem social"*, mas sim a "ordem social" que permite que o Estado pareça "forte" (quando a sociedade mergulha no caos, o Estado vai com ela).

*claro que o "Estado forte" pode ser "útil" para manter uma determinada "ordem social" em detrimento de outras, mas isso é outra história...

2 comments:

Anonymous said...

"eu diria que não é tanto o "Estado forte" que garante a "ordem social"*, mas sim a "ordem social" que permite que o Estado pareça "forte" (quando a sociedade mergulha no caos, o Estado vai com ela)."

ora nem mais, é por isto que mantenho a esperança de um dia as pessoas se revoltarem.

João Wemans said...

Muito interessante.
Já Salazar dizia : o Estado tem de ser forte para não ter de ser violento.

Na mesma ordem de ideias do seu texto, eu verifico:
o "25 de Abril" (revolução não-sangrenta) é o melhor
elogio ao Estado Novo...