Saturday, January 28, 2006

Votar é um acto legítimo

Mas, para um defensor da democracia participativa, votar não será contraditório? Afinal, é jogar as regras de um jogo que se contesta. Penso que não: uma pessoa pode achar que o ideal seria não haver governantes e, no entanto, achar "já que eles existem, ao menos escolher os que acharmos melhores". Afinal, também há muita gente que é a favor da autogestão dos trabalhadores, e não é por isso que deixa de procurar o melhor emprego que conseguir encontrar (ou seja, age como "já que há chefes e subordinados, ao menos que tenhamos os melhores chefes que consigamos arranjar").

E no caso das eleições até é mais flagrante, já que nem há a opção de "ficar de fora": enquanto um desempregado não tem nem os direitos (p.ex., ordenado) nem os deveres (p.ex., submissão) de um empregado, um abstencionista continua a ter todos os deveres de um súbdito do Estado.

5 comments:

Anonymous said...

é o velho caso do mal menor, ou do voto util...
sinceramente não me entusiasma nada.

continuo a achar que devia haver um quadrado para as pessoas poderem votar no "candidato" branco.

Miguel Madeira said...

Já há o conceito de "voto branco" (que é diferente do nulo).

Ja ví quem propusesse que os votos brancos deveriam ser traduzidos em lugares vazios no parlamento, mas não vejo que utilidade prática isso teria (só a poupança do ordenado desses deputados).

Numa eleição uninominal (como para o PR) já se poderia dar uma utilidade aos "brancos": se estes ganhassem, repetir a eleição com outros candidatos.

Tiago Mendes said...

Muito bom este teu post e o anterior. Confesso que fiquei ligeiramente (e agradavelmente) surpreendido com o post sobre a abstenção.

De resto, e ainda que a "compreenda", detesto a ênfase no dia eleitoral no "voto", que é de certa forma uma falta de desrespeito pelos abstencionaistas.

Miguel Madeira said...

"Confesso que fiquei ligeiramente (e agradavelmente) surpreendido com o post sobre a abstenção."

A surpresa do Tiago foi pela minha opinião abstracta sobre a abstenção, ou sobre as circustancias concretas que me poderiam levar à abstenção?

Tiago Mendes said...

"A surpresa do Tiago foi pela minha opinião abstracta sobre a abstenção, ou sobre as circustancias concretas que me poderiam levar à abstenção?"

Pela tua opinião abstracta sobre a abstenção. Eu dou prioridade ao pensamento abstracto, antes de ter que entrar nas aplicacoes (necessarias) 'a (triste) realidade.